segunda-feira, 21 de julho de 2014

Com títulos internacionais, bailarina de 19 anos é contratada por cia russa

Amanda Gomes é de Goiânia e estudou no Teatro Bolshoi, em Joinville. 
Família se mudou para SC para acompanhar filha, então com 10 anos.

Géssica ValentiniDo G1 SC
Bailarina irá para a Rússia em agosto  (Foto: Áurea Silva/Divulgação)Bailarina irá para a Rússia em agosto (Foto: Áurea Silva/Divulgação)
Amanda Gomes, de 19 anos, nem sempre quis ser bailarina. Até pensou em ser médica ou seguir outra profissão 'tradicional', mas aos 5 anos descobriu o mundo dos 'tutus', sapatilhas e se encantou desde a primeira aula. Depois, ouviu falar da bailarina carioca Ana Botafogo, que havia construído uma carreira nos palcos e decidiu: seria bailarina profissional.
Após passar quase 9 anos na Escola de Teatro Bolshoi, em Joinville, conquistar prêmios em todos os concursos que participou e receber convites para escolas de diversos países, a jovem se prepara para realizar um sonho: dançar em uma companhia na Rússia. Neste ano, ela vai ao Festival de Dança como espectadora, mas durante alguns anos se apresentou como bailarina nos palcos do evento.
No mês passado, Amanda fez uma audição para ingressar na 'Ópera da cidade de Cazãn', companhia russa para a qual foi selecionada, mas sua história como bailarina começou há 14 anos, em Goiânia, acompanhando e trajetória da melhor amiga nas aulas de balé e vendo na TV apresentações de dança.
Pais de Amanda se mudaram para Joinville para acompanhá-la (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Pais de Amanda se mudaram para Joinville para
acompanhá-la (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Seus pais, Zeuxis e Polyana, ainda demoraram 2 anos para matriculá-la em uma escola de dança. Em pouco tempo, a menina chamou a atenção pelo que o pai define como 'cinco Ds': "Dom, Deus, Dedicação, Disciplina e Determinação".
Amanda não consegue falar de si mesma sem falar da família ou de Deus. Católica, ela atribui tudo que conquistou à sua fé. É por isso que acredita que sua ida para a Rússia e até mesmo a partida para longe da família, que via como inevitável, fazem parte dos planos de Deus para os três.
Depois de 18 anos como filha única, descobriu que a mãe estava grávida de Isabella, que nasceu no dia 15 de julho, alguns dias após ela completar 19 anos e receber o convite para ingressar na companhia russa. É com um misto de emoção, uma alegria que não consegue explicar e uma tristeza permeada de uma saudade antecipada que ela conta sua história.
Mudança de vida
O ingresso para a Escola de Teatro Bolshoi no Brasil ocorreu três anos depois de Amanda começar as aulas de balé, aos 7 anos, quando uma professora de dança voltou de uma edição do Festival de Dança de Joinville com um fôlder da escola e a determinação de convercer a pequena dançarina e seus pais de que ela deveria fazer a seleção para estudar na única escola do Bolshoi fora da Rússia.
"Vi ela determinada, ainda tão nova. Era tanta dedicação e talento que não podíamos deixar de sonhar com ela, sem nenhuma dúvida de que ela seria uma bailarina profissional, como almejava", contou o pai, que colocou a família no carro e percorreu os 1,5 mil quilômetros que separam Goiânia e Joinville.
A viagem mudou completamente a vida dos três. Com a aprovação no teste, Zeuxis, que era representante comercial, pediu demissão do emprego e decidiram se mudar para Santa Catarina para acompanhar a filha. No primeiro ano, nem Zeuxis, nem Polyana, recém formada em fisioterapia, conseguiram trabalho e começaram a sobreviver com a ajuda da família.
"Sabíamos que era uma questão de tempo e que o nosso tempo não é o tempo de Deus. Sempre colocamos tudo nas mãos dele e isso nos fazia não duvidar que daria certo", disse o pai. Após esse período, Polyana começou a atuar como voluntária no Bolshoi e seis meses depois recebeu a notícia de que seria contratada. Zeuxis também conseguiu um emprego e não demoraram a perceber que o esforço não seria em vão.
Amanda estudou durante seis anos na Escola de Teatro Bolshoi até se tornar bailarina profissional (Foto: NBastian/Divulgação)Amanda estudou durante seis anos na Escola de Teatro Bolshoi até se tornar bailarina profissional (Foto: NBastian/Divulgação)
Crescimento profissional
Enquando a família buscava se estabilizar financeiramente, Amanda aplicava os 'cinco Ds' para conseguir conciliar os estudos no ensino fundamental com os ensaios. Pela manhã, frequentava as aulas do colégio. Depois, seguia para a escola de teatro, onde ficava entre 6 e 7 horas por dia.  
Enquanto o normal para os bailarinos é conseguir um papel em um espetáculo na terceira série da escola de balé, no segundo ano, ela foi designada para ingressar o corpo de cupidos do espetáculo Dom Quixote. No ano seguinte, conseguiu seu primeiro papel solo no mesmo espetáculo.
No quarto ano, ela conta que um diretor do Bolshoi decidiu indicá-la para um concurso nos Estados Unidos. Era a primeira competição que participava e diz que seu objetivo era ganhar experiência, mas voltou com o título de bailarina revelação. Além disso, em vez de se formar em 8 anos no Bolshoi, finalizou o curso e se tornou bailarina profissional em 6 anos.
Em todos os concursos que participou posteriormente, recebeu alguma premiação. Em um exame em Istambul, ganhou a metalha de ouro. No Festival Internacional de Goiás, o título de melhor bailarina. Em Nova York, no Youth America Grand Prix, ela e seu par, Marcos, garantiram a premiação pela apresentação do Pas de Deux, do balé Diana e Acteon. A bailarina também garantiu uma premiação individual, ficando entre as 10 melhores de todo o concurso.
Neste ano, em uma competição em abril, na Rússia, recebeu medalhas em três categorias: pré-artístico, clássico e contemporâneo. Em junho, como presente de aniversário, ainda ficou entre as quatro finalistas e recebeu um diploma de honra ao mérito em uma competição em Moscou, na Rússia.
Sonhos
Amanda diz que os sonhos foram crescendo com o tempo. Primeiro, queria ingressar no Bolshoi. Depois, fazer uma apresentação solo, receber um prêmio e, finalmente, dançar na Rússia.
Isabella nasceu no dia 15 de julho (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Isabella nasceu no dia 15 de julho
(Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
O pai diz que ela havia recebido propostas para dançar no exterior desde os 14 anos, nos Estados Unidos e Suíca, mas estava determinada. "No ano passado, a proposta de uma companhia Suíça era ótima, financeiramente e também uma excelente oportunidade. Mas isso não abalou a Amanda. Ela gosta de desafios, disse que na Rússia estão os melhores bailarinos e é lá que queria estar", conta Zeuxis.
Conquistou todos os objetivos, mas não consegue comparar nenhum à alegria da chegada de Isabella à família. "O segundo dia mais feliz da minha vida foi o espetáculo em que fui solista do balé Gisele. Mas o dia mais feliz mesmo foi na última terça (15), quando minha irmã nasceu", diz Amanda.
"Vamos ser pais de duas filhas únicas. Sai a Amanda e chega a Isabella. É um misto de alegria e um pouco de tristeza, mas a felicidade é imensa", disse o pai. E o desejo de Amanda é que a nova integrante da família herde seu talento para a dança. "Se ela quiser, vou incentivar muito. Seria ótimo!", comemora Amanda.
Em um mês e sabendo poucas palavras em russo, que aprendeu com os professores do Bolshoi, Amanda vai ser a única brasileira na 'Ópera da cidade de Cazãn. "Dá um frio na barriga, porque sempre morei com meus pais, mas é uma felicidade muito maior, impossível de explicar", comentou a bailarina, que ainda busca o maior desejo: "Gostaria de brilhar nos palcos fora do país, que as pessoas conheçam quem é a bailarina Amanda Gomes", comenta

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