sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dessa vez doeu demais...

Disputar o terceiro lugar é como brigar por um caneco que a gente já recebe emborcado.

Por Celso Adolfo*

7x1 foi uma pancada do tipo Holyfield x Maguila, aquela que pega no queixo, faz o mundo girar e uma perna dar um nó na outra. Se eu não tivesse perdido as forças, teria escrito o que Marco Lacerda escreveu quinta-feira neste portal.

Acreditei no esforço de Felipão. Técnico e corneteiro como qualquer um, passei a Copa todo buscando o time da Copa das Confederações. Isso sumiu e Felipão foi junto. No jogo fatídico, caímos na armadilha alemã. Parecia que começávamos bem, mas acho é que eles estavam era dando uma de migué, manjando e aguardando taticamente por onde fariam o estrago. Mais cedo que esperavam, marcaram o primeiro gol. O desespero nos derrubou e eles fizeram o que tinham que fazer. E fariam mais se quisessem.

A mão na taça. A menos que estivéssemos com sete gols de frente e o torneio se decidisse pelo saldo deles, esse negócio de "estamos com a mão na taça" é insuportável. Meu deus, como é que se adivinha o resultado de um torneio? Só se for por meio da visão a um só tempo criativa e estúpida de quem tinha certeza de que "Lula comprou a Copa e Dilma pagaria". Nesse mar de ignorância e ranço, para a infelicidade que nos abate agora, Lula não havia comprado a taça e tomamos de 7.

Agora, para quando as mudanças? A CBF saiu das mãos suspeitíssimas de Ricardo Teixeira e está com esse Marin e irá para outro da turma, Marco Polo del Nero. Vão tocar fogo no resto?

Considerando que, para se manterem, esses senhores fazem acordos com federações e presidentes de clubes e até mudam a história reformando títulos, considerando que os torcedores desses clubes concordam com fraudes desde que se beneficiem delas, ainda teremos que ralar mais um pouco atrás de qualquer mudança.

Pois, criaram o Primeiro Campeonato Brasileiro em 1971, vencido pelo Clube Atlético Mineiro. Como o Super-homem, giraram em volta da terra e da história à velocidade do som e alteraram o passado. Mediante costumeira desonestidade, combinaram com os dirigentes da ocasião e fizeram surgir do nada vários "Campeões brasileiros" antes de 1971, que é quando eles mesmos criaram o PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILERIO DE FUTEBOL. E os torcedores beneficiados acharam isso certo. Poderão reclamar de alguma coisa?

No nosso dia-a-dia é tudo parecido: podemos sonegar impostos, afanar uma coisinha aqui, outra ali, corromper e ser corrompido, mas de leve, de modo que três ave-marias nos perdoem, e cobrar do outro a mais completa honestidade. É como em política. Essa grosseria já está no ar e nos adesivos, estampando discernimento de para-choque, até outubro.

No futebol, a sujeira continua por baixo e por cima do tapete. Quando Ronaldinho Gaúcho foi pro Galo, Zinho (de alcunha Enceradeira), estava no Flamengo (que ainda deve dinheiro a R10). Com ódio exposto, Zinho disse: qualquer um pode ser campeão, menos o Atlético Mineiro. Ajeitaram pro Fluminense. O Fluminense já esteve na segunda e terceira divisões, caiu para a segunda novamente em 2013 mas não experimentou nada disso: foi içado à primeira divisão na cara dura. E pronto.

Para encerrar, meu caro Marco, duas coisas:

1) Precisamos é de menino bom de bola e que eles fiquem por aqui. Para isso, entre outras coisas é preciso discutir as cotas de TV e a sua distribuição. Fora isso, continuaremos fornecedores de craques para o exterior.

2) Fui muito à Vila Olímpica nos tempos de Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro, Marcelo Oliveira. Se via nesse último o que se vê agora: craque que entende de craques. Numa ocasião, falando com ele ao telefone, eu lhe perguntava como andavam as coisas. Tímido e modesto, ele dizia que estava acertando com um time mineiro, pequeno, e tudo ia melhorar. Melhorou a partir do Curitiba. Se for para trabalhar só com os brasileiros e se estiver cedo, não deixemos que fique tarde: que se prepare Marcelo Oliveira, pois ele, ao lado de quem sabe jogar bola, faria excelente trabalho.

Sendo do que jeito que tem sido, e lembrando que muita gente também chorou enquanto ganhávamos cinco mundiais (alemães entre eles), que venha urgentemente o primeiro dia depois da Copa das Copas para que, enfim, nossas almas digiram esse 7x1.

Ainda antes disso, a derradeira provação: disputar esse tal "terceiro lugar", que é quando se ganha um caneco emborcado, ou a terça parte de um troféu. Se é assim, vamos a isso.

PS: Renovei minhas esperanças ao ver a entrevista de Neymar nessa quinta-feira. O menino e o nosso futebol vão se refazer. O que não inclui, automaticamente, a nossa cartolagem.
*Celso Adolfo é violonista e compositor.

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