Juliano Paiva*
A Alemanha é de novo a dona do planeta. Ao conquistar o tetra da Copa do Mundo, os europeus impõem uma dura derrota ao resto do mundo, em especial à América do Sul. Pela primeira vez na história, a Europa consegue três títulos consecutivos: Itália (2006), Espanha (2010) e, agora, Alemanha (2014).
E detalhe. Dois dos três últimos mundiais foram disputados longe do velho continente, justamente os dois últimos. Há quatro anos na África do Sul e, desta vez, aqui no Brasil. Com isso, das 20 copas disputadas desde 1930, os sul-americanos pararam nas nove conquistas e os europeus chegaram a 11.
É para refletir. Na melhor das hipóteses, demoraremos oito anos para igualar nossos principais adversários no esporte mais popular do planeta. Pensando individualmente, o Brasil ainda continua soberano com cinco copas, mas Itália e Alemanha já têm quatro e a hegemonia verde e amarela pode ter fim na Rússia, em 2018.
Exemplo alemão
Após a derrota para o Brasil no Mundial do Japão e da Coreia do Sul, a Alemanha intensificou um processo de mudanças que começou em 2000, quando sequer passou da primeira fase na Eurocopa, terminando em último no seu grupo. Um vexame!
Os clubes da primeira e segunda divisões, então, foram obrigados a construir centros de excelência para jovens. O objetivo era desenvolver a técnica e não se apegar apenas ao condicionamento físico. O resultado é visível na Bundesliga, tecnicamente um dos melhores campeonatos nacionais do mundo e o que tem a melhor média de público: 43 mil torcedores por jogo.
Na Copa do Mundo, o ápice veio agora com a conquista do titulo no Brasil depois de bater na trave em 2006 e 2010. E isso se deve em boa tarde ao planejamento que teve início há 14 anos. Seis dos novos campeões mundiais levaram o título do Campeonato Europeu Sub-21, em 2009: Neuer, Boateng, Hummels, Höwedes, Khedira e Özil.
Já no Brasil...
O título de 2002 parecia ter feito muito bem ao futebol nacional. No ano seguinte, o Campeonato Brasileiro passou a ser disputado por pontos corridos. Parou por aí. Doze anos depois, nosso calendário ainda não respeita as datas Fifa, os clubes grandes tem excesso de jogos no ano, enquanto os pequenos tem partidas por no máximo quatro meses.
Para completar, a maior parte dos jogadores recebe salário mínimo e os clubes grandes pagam valores astronômicos para os “tops”, engordando suas dívidas ano a ano.
O torcedor, coitado, foi praticamente expulso dos estádios. Com ingresso cada vez mais caro, a média de público do Brasileirão é de somente 12.900 pessoas. No ranking mundial, ocupamos a modesta 18ª posição. Campeonatos da segunda divisão da Alemanha e da Inglaterra tem média melhor do que a nossa. Não por acaso, o ranking de média de público é liderado pela Bundesliga com 43 mil torcedores por partida em média.
E enquanto a seleção alemã teve como base aquela que foi campeã do Campeonato Europeu-21, em 2009, a seleção brasileira não aproveitou nenhum jogador que levantou o título equivalente da categoria, a Copa América Sub-21, no mesmo ano.
Seleção Brasileira
É claro que essa desorganização do nosso futebol, principalmente do Campeonato Brasileiro, reflete de alguma forma na Seleção Brasileira. Dos 23 convocados para a Copa do Mundo, apenas três atuam em solo brasileiro: Victor e Jô, do Atlético, e Fred, do Fluminense.
Nossas revelações não ficam aqui por muito tempo, praticamente não disputam o Nacional. Vejam o exemplo de Bernard. Depois de conquistar a Taça Libertadores da América no ano passado, o jovem atleticano foi vendido por 25 milhões de euros, cerca de R$ 77 milhões. Mas adivinhe!? Devido a dívidas antigas, boa parte do dinheiro foi bloqueado pela receita federal e, hoje, o Atlético tem enormes dificuldades para reforçar o time. É uma bola de neve!
O que fazer?
Clubes e jogadores deviam se organizar para iniciar a mudança deste triste quadro. Exigir um calendário decente, criar regras rígidas e claras para o fair play financeiro e pensar com carinho naquele que a razão de tudo isso, o torcedor, que precisa voltar em massa aos estádios.
Se os clubes e os jogadores não se movimentarem, dificilmente teremos algo novo para mostrar ao mundo em 2018, na Copa do Mundo da Rússia. Digo isso porque considero difícil que alguma mudança positiva venha de cima, da famigerada CBF.
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