Fantástico ouviu duas testemunhas com exclusividade.
Programa também teve acesso a gravações feitas pela polícia.
Um investigação da polícia do Rio aponta como um grupo pretendia fazer um ataque com molotovs no dia 13 de julho, na final da Copa do Mundo, próximo ao Maracanã, na Zona Norte do Rio. Gravações inéditas divulgadas pelo Fantástico neste domingo (27) mostram duas testemunhas falando com exclusividade como o grupo se organizava e as funções que casa um executava. O telejornal também teve acesso a gravações feitas pela polícia com autorização da Justiça.
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O dia da partida entre Alemanha e Argentina por pouco não foi marcado pelo terror. Segundo a polícia, esse era o plano da operação "Junho Negro", organizada por manifestantes acusados de praticar atos violentos em protestos.
De acordo com a investigação, explosivos seriam deixados em uma praça movimentada, num bairro próximo ao Maracanã. Mas a ação foi desmontada graças a depoimentos de ex-integrantes do grupo.
Dentro de uma barraca montada em frente à Câmara Municipal, em agosto de 2013, aconteceu uma reunião e, segundo testemunhas, foi ali que um grupo de jovens decidiu que era preciso aumentar a violência em protestos, como informou uma testemunha que não quis ser identificada.
"Essa reunião foi quando se começou a falar em coisas mais agressivas... Rolou a coisa de quererem queimarem um ônibus ali na Rio Branco, isso aconteceu realmente. Isso foi até noticiado, queimaram até um ônibus da polícia", disse.
Segundo a polícia, foram mais de 30 depoimentos, milhares de horas de gravações feitas com a autorização da Justiça e sete meses de trabalho que desvendaram o planejamento de ações violentas nos protestos.
De acordo com a investigação, explosivos seriam deixados em uma praça movimentada, num bairro próximo ao Maracanã. Mas a ação foi desmontada graças a depoimentos de ex-integrantes do grupo.
Dentro de uma barraca montada em frente à Câmara Municipal, em agosto de 2013, aconteceu uma reunião e, segundo testemunhas, foi ali que um grupo de jovens decidiu que era preciso aumentar a violência em protestos, como informou uma testemunha que não quis ser identificada.
"Essa reunião foi quando se começou a falar em coisas mais agressivas... Rolou a coisa de quererem queimarem um ônibus ali na Rio Branco, isso aconteceu realmente. Isso foi até noticiado, queimaram até um ônibus da polícia", disse.
Segundo a polícia, foram mais de 30 depoimentos, milhares de horas de gravações feitas com a autorização da Justiça e sete meses de trabalho que desvendaram o planejamento de ações violentas nos protestos.
A investigação aponta que na barraca no Centro do Rio, estavam, entre outros, Elisa Quadros, a Sininho, Igor Mendes da Silva, Camila Aparecida Jourdan e Luiz Carlos Rendeiro Júnior, conhecido como Game Over.
Eles fazem parte do grupo de vinte e três indiciados que respondem na Justiça por praticar e incitar atos violentos durante protestos. São oito as principais testemunhas do processo. Camila Jourdan, Igor D'Icarahy e Elisa Quadros, que deixaram a cadeia na quinta-feira (24), graças a uma liminar, tinham sido presos um dia antes da final da Copa. Outras dezoito pessoas também chegaram a ter a prisão preventiva decretada.
Duas delas falaram com o Fantástico e contaram que estiveram nas manifestações, ouviram as orientações para atacar policiais, além do patrimônio público e privado, e se assustaram com a escalada de violência.
Uma das testemunhas falou sobre a estratégia do grupo. "O termo que eles usam, eles falam muito em ação direta. Ação direta é o ato de confrontar, de quebrar, é o ato de destruição, com o objetivo de chamar atenção para eles mesmos", disse a testemunha.
Outra testemunha aponta Elisa Quadros como líder do grupo. "A liderança vinha da Sininho, que uma vez nós estávamos num ato né, que é a manifestação que ela falou, pediu pro garoto tacar o coquetel molotov dentro da Câmara de Vereadores. Apareceu uma segunda pessoa dizendo pra ela não fazer isso, entendeu? Então, ela que comandava. Só que na hora que o circo começava a pegar fogo, ela sumia", contou.
Outra testemunha reforça a função de líder ocupada por Elisa. "Ah, ela falava que era doida pra explodir a Câmara. Tinha que quebrar banco todo mesmo, tem que queimar ônibus. Ela, dia de ato, às vezes ela ta junto entendeu? Ela passa, eu já vi, entendeu? Ela passando bomba, cabeção de nego, entendeu? Ela e as turminhas dela lá", disse.
As ações violentas eram comentadas por telefone pelos próprios manifestantes. "Eles pareciam uns cachorros selvagens sem vacina", disse uma testemunha que frequentou as assembleias da Frente Independente Popular (FIP) desde a formação, viu o movimento ganhar a adesão de várias organizações, e se ofereceu para participar do núcleo que tomava as decisões.
Em depoimento gravado pela polícia, outra testemunha diz porquê foi aceita no grupo. "Eu fui aceito, porque de alguma forma eu já era conhecido deles, então ninguém se opôs a me aceitar na Comissão de Organização, que na verdade era uma coisa que discutiam coisas seríssimas ali, coisas criminosas", disse, sem citar quais crimes.
O inquérito policial relata que as lideranças tinham o plano de fazer vários protestos violentos durante a Copa, o que o grupo chamava de Junho Negro. Segundo as investigações, o preparo envolvia a compra de rojões, a produção de coquetéis molotov e de outros tipos de explosivos, que deveriam ser atirados nos policiais. E, para que tudo funcionasse, havia uma distribuição de tarefas.
Uma testemunha explica como funcionava essa divisão. "Existem os mentores intelectuais que são as lideranças. Eles não assumem essa nomenclatura de líder porque isso vai contra a ideologia deles, que é anarquista. Para eles não tem líder, mas eu que vi, eu sei que tem. Você tem a função dos atiradores, que são os caras que ficam ali responsáveis por atirar os fogos, os molotovs, o que tiver na mão. Você tem a função das mulas, que ficam no meio da multidão com a mochila, preparada para dar para quem quer que seja. E você tem uma categoria também interessante, que são funções assim mais estrategicamente do ponto de vista político. Eles gostam de fazer campanhas em grupos sociais diferentes para poder trazer a galera pra eles", contou.
A denúncia do Ministério Público aponta que no protesto marcado para a final da Copa, o grupo escondeu coquetéis molotov na madrugada do dia 13 de julho e que estava preocupado em levar escudos e objetos para serem arremessados. Os denunciados também decidiram que era necessário esconder os explosivos em carros nas redondezas do Maracanã, para não correr o risco de serem pegos com os objetos nas mochilas.
A estratégia, como mostra a investigação, foi testada em protestos na Praça Saens Peña, próximo ao estádio, nos dias de jogos de Copa. Uma escuta telefônica mostra o diálogo entre Camila Jourdan e Rebeca Martins de Souza, que foi indiciada.
Camila: Você conseguiu?
Rebeca: O que?
Camila: Deixar lá as coisas?
Rebeca: Não. A gente tá aqui...parado, afastado...esperando ligação pra ir praí.
Camila: Eu tô distante também porque tão fazendo muita revista.
Rebeca: Eu acho assim...a gente pode até ir praí, estaciona o carro perto e fica aí de fora.
Camila: Eu acho que é mais difícil depois pegar as paradas e levar.
Nesta conversa, Camila reclama com Igor D'Icarahy, também indiciado no processo, sobre a demora em estacionar um carro, que segundo a polícia, estaria com explosivos.
Camila: Você estacionou?
Igor: Não.
Camila: - C...., cara, por que não?
Igor: Eu vou chegar lá e vou te falar.
Camila: - Não, cara, não tem essa não. A gente tá saindo daqui! Vai para lá e leva as paradas lá!
A pressa é porque a rua seria fechada, horas antes de uma partida da Copa.
Camila: A rua tá fechada?
Igor: Isso... eu vou chegar aí.
Camila: Eu te avisei que isso ia acontecer.
Igor: Não, não é isso...
Camila: É isso sim, cara.
Igor: Eu vou chegar aí e vou falar contigo, para de falar.
Camila: Eu não quero falar com você, cara, sinceramente, eu não quero. É muita falta de respeito com as pessoas que estão envolvidas com essa situação. Muita falta de respeito o que você tá fazendo, cara.
Neste mesmo dia, 28 de junho, mais tarde, Camila avisa a um homem sobre uma operação da polícia.
Camila: Aborta a missão, some da rua, some. Entendeu? Some. Foi todo mundo pego
Tiago: Tá. Falou. Tá.
Camila: Aborta a missão.
Tiago: Tá.
A polícia afirma ter encontrado na Praça Saenz Pena 20 rojões recheados com pregos e 178 ouriços - objetos de ferro com várias pontas.
A ação batizada de Junho Negro acabou sendo frustrada. Os rumos tomados pelos líderes afastaram antigos aliados e despertaram a desconfiança, como mostra uma conversa entre um homem não identificado e a advogada Eloisa Samy, denunciada no processo.
"Eu acho que já passou mais que da hora da gente começar a levantar boicote sim, começar a mostrar as verdades de quem a FIP de fato é. Porque eles estão levando a gente pro fundo do poço, Elô. Estou falando pro nosso meio, porque tem muitas pessoas ali Elô, que estão sendo enganadas. Tem muitas pessoas de alma, de bom coração ali, que estão sendo enganadas, e aí, vão para Saens Peña da vida e levam porrada, isso é certo? Isso não é certo gente, não é certo..."
Uma das testemunhas falou sobre a estratégia do grupo. "O termo que eles usam, eles falam muito em ação direta. Ação direta é o ato de confrontar, de quebrar, é o ato de destruição, com o objetivo de chamar atenção para eles mesmos", disse a testemunha.
Outra testemunha aponta Elisa Quadros como líder do grupo. "A liderança vinha da Sininho, que uma vez nós estávamos num ato né, que é a manifestação que ela falou, pediu pro garoto tacar o coquetel molotov dentro da Câmara de Vereadores. Apareceu uma segunda pessoa dizendo pra ela não fazer isso, entendeu? Então, ela que comandava. Só que na hora que o circo começava a pegar fogo, ela sumia", contou.
Outra testemunha reforça a função de líder ocupada por Elisa. "Ah, ela falava que era doida pra explodir a Câmara. Tinha que quebrar banco todo mesmo, tem que queimar ônibus. Ela, dia de ato, às vezes ela ta junto entendeu? Ela passa, eu já vi, entendeu? Ela passando bomba, cabeção de nego, entendeu? Ela e as turminhas dela lá", disse.
As ações violentas eram comentadas por telefone pelos próprios manifestantes. "Eles pareciam uns cachorros selvagens sem vacina", disse uma testemunha que frequentou as assembleias da Frente Independente Popular (FIP) desde a formação, viu o movimento ganhar a adesão de várias organizações, e se ofereceu para participar do núcleo que tomava as decisões.
Em depoimento gravado pela polícia, outra testemunha diz porquê foi aceita no grupo. "Eu fui aceito, porque de alguma forma eu já era conhecido deles, então ninguém se opôs a me aceitar na Comissão de Organização, que na verdade era uma coisa que discutiam coisas seríssimas ali, coisas criminosas", disse, sem citar quais crimes.
O inquérito policial relata que as lideranças tinham o plano de fazer vários protestos violentos durante a Copa, o que o grupo chamava de Junho Negro. Segundo as investigações, o preparo envolvia a compra de rojões, a produção de coquetéis molotov e de outros tipos de explosivos, que deveriam ser atirados nos policiais. E, para que tudo funcionasse, havia uma distribuição de tarefas.
Uma testemunha explica como funcionava essa divisão. "Existem os mentores intelectuais que são as lideranças. Eles não assumem essa nomenclatura de líder porque isso vai contra a ideologia deles, que é anarquista. Para eles não tem líder, mas eu que vi, eu sei que tem. Você tem a função dos atiradores, que são os caras que ficam ali responsáveis por atirar os fogos, os molotovs, o que tiver na mão. Você tem a função das mulas, que ficam no meio da multidão com a mochila, preparada para dar para quem quer que seja. E você tem uma categoria também interessante, que são funções assim mais estrategicamente do ponto de vista político. Eles gostam de fazer campanhas em grupos sociais diferentes para poder trazer a galera pra eles", contou.
A denúncia do Ministério Público aponta que no protesto marcado para a final da Copa, o grupo escondeu coquetéis molotov na madrugada do dia 13 de julho e que estava preocupado em levar escudos e objetos para serem arremessados. Os denunciados também decidiram que era necessário esconder os explosivos em carros nas redondezas do Maracanã, para não correr o risco de serem pegos com os objetos nas mochilas.
A estratégia, como mostra a investigação, foi testada em protestos na Praça Saens Peña, próximo ao estádio, nos dias de jogos de Copa. Uma escuta telefônica mostra o diálogo entre Camila Jourdan e Rebeca Martins de Souza, que foi indiciada.
Camila: Você conseguiu?
Rebeca: O que?
Camila: Deixar lá as coisas?
Rebeca: Não. A gente tá aqui...parado, afastado...esperando ligação pra ir praí.
Camila: Eu tô distante também porque tão fazendo muita revista.
Rebeca: Eu acho assim...a gente pode até ir praí, estaciona o carro perto e fica aí de fora.
Camila: Eu acho que é mais difícil depois pegar as paradas e levar.
Nesta conversa, Camila reclama com Igor D'Icarahy, também indiciado no processo, sobre a demora em estacionar um carro, que segundo a polícia, estaria com explosivos.
Camila: Você estacionou?
Igor: Não.
Camila: - C...., cara, por que não?
Igor: Eu vou chegar lá e vou te falar.
Camila: - Não, cara, não tem essa não. A gente tá saindo daqui! Vai para lá e leva as paradas lá!
A pressa é porque a rua seria fechada, horas antes de uma partida da Copa.
Camila: A rua tá fechada?
Igor: Isso... eu vou chegar aí.
Camila: Eu te avisei que isso ia acontecer.
Igor: Não, não é isso...
Camila: É isso sim, cara.
Igor: Eu vou chegar aí e vou falar contigo, para de falar.
Camila: Eu não quero falar com você, cara, sinceramente, eu não quero. É muita falta de respeito com as pessoas que estão envolvidas com essa situação. Muita falta de respeito o que você tá fazendo, cara.
Neste mesmo dia, 28 de junho, mais tarde, Camila avisa a um homem sobre uma operação da polícia.
Camila: Aborta a missão, some da rua, some. Entendeu? Some. Foi todo mundo pego
Tiago: Tá. Falou. Tá.
Camila: Aborta a missão.
Tiago: Tá.
A polícia afirma ter encontrado na Praça Saenz Pena 20 rojões recheados com pregos e 178 ouriços - objetos de ferro com várias pontas.
A ação batizada de Junho Negro acabou sendo frustrada. Os rumos tomados pelos líderes afastaram antigos aliados e despertaram a desconfiança, como mostra uma conversa entre um homem não identificado e a advogada Eloisa Samy, denunciada no processo.
"Eu acho que já passou mais que da hora da gente começar a levantar boicote sim, começar a mostrar as verdades de quem a FIP de fato é. Porque eles estão levando a gente pro fundo do poço, Elô. Estou falando pro nosso meio, porque tem muitas pessoas ali Elô, que estão sendo enganadas. Tem muitas pessoas de alma, de bom coração ali, que estão sendo enganadas, e aí, vão para Saens Peña da vida e levam porrada, isso é certo? Isso não é certo gente, não é certo..."
Todos os acusados citados na reportagem foram procurados pelo Fantástico. O Instituto de Direitos Humanos, que representa Rebeca Martins de Souza e Luiz Carlos Rendeiro Júnior, o Game Over, disse que eles não querem fazer declarações e só vão falar em juízo.
A comissão da OAB que defende a advogada Eloisa Samy também afirmou que ela não quer falar.
O advogado Marino D’icaray Júnior, que defende Camila Jourdan, Igor Mendes da Silva, Igor D’icaray e Elisa Quadros, a Sininho, não retornou nossa ligações. Também foram deixados recados no telefone da própria Sininho, mas ela não respondeu.
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