quarta-feira, 2 de julho de 2014

Mais nervosismo sobre a saúde do papa

Por quatro vezes, pontífice cancelou ou adiou compromisso, citando cansaço ou doença.

Por John L. Allen Jr.

Outro alarme disparou na última sexta-feira (27) a respeito da saúde do papa Francisco, quando ele cancelou uma visita planejada ao Hospital Gemelli, em Roma, no último minuto, com os pacientes e funcionários já na recepção esperando o pontífice chegar.
 
Os porta-vozes do Vaticano não ofereceram nenhuma explicação de imediato, mas autoridades disseram que o pontífice estava sofrendo de um problema estomacal e precisava se recuperar antes da grande liturgia de domingo, conhecida como Missa do pálio, em que os novos arcebispos de todo o mundo recebem os símbolos do seu episcopado.
 
Foi a quarta vez, nos últimos sete meses, que Francisco cancelou ou adiou um compromisso, citando cansaço ou doença.
 
Fontes próximas ao papa insistem que não há nada seriamente anormal, mas sim que ele está simplesmente pagando o preço por abusar de si mesmo. Após uma série de reuniões na primeira semana de julho, o pontífice vai ter algum tempo livre, uma vez que as audiências públicas e as missas matinais estão suspensas pelo mês todo. Devemos descobrir em breve se isso vai resolver o problema.
 
Os perigos do 'downsizing' do Vaticano
 
Embora o horário reduzido do papa Francisco em julho, isso não significa que nada estará acontecendo. Além de um possível encontro com as vítimas de abuso, outros três encontros importantes estão em pauta para julho:
 
. A quinta reunião do conselho "G8", com o grupo de cardeais conselheiros do papa, de 1º a 4 de julho.

. A segunda reunião do novo Conselho de Economia, que visa a acompanhar o esforço para promover a transparência e a prestação de contas sobre as finanças do Vaticano, no dia 5 de julho.

. A segunda reunião da nova Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, criada por Francisco para levar a cabo a luta contra o abuso sexual infantil.
 
Com relação à reunião G8, as autoridades do Vaticano já advertiram para que não se esperem quaisquer decisões firmes dessa sessão, dizendo que há muito trabalho a se fazer e que provavelmente somente no ano que vem qualquer coisa definitiva acontecerá.
 
O que eles estão pensando é em uma "reorganização" da burocracia do Vaticano, que é geralmente entendida como um eufemismo para "downsizing". A ideia geral é que alguns dicastérios do Vaticano, talvez especialmente alguns conselhos pontifícios e academias, podem ser consolidados ou eliminados, enquanto outros, como a Rádio Vaticano, podem ser reduzidos de tamanho.
 
Os motivos são em parte administrativos, para reduzir a duplicação de esforços e os riscos de mensagens confusas por se ter órgãos separados trabalhando nas mesmas questões, e em parte financeiros, como uma expressão da campanha de redução de custos do papa.
 
Por mais sentido que isso possa fazer, e por mais importante que seja ir devagar e fazer tudo direito, há um risco inerente nas deliberações prolongadas com relação aos departamentos que estão na "tábua de corte".
 
Neste momento, os membros do Vaticano afirmam que, embora a rotina diária seja a de seguir em frente normalmente, muitos escritórios estão hesitantes para lançar projetos de longo prazo e estão segurando as propostas para novas iniciativas, porque sinceramente não sabem se ainda vão estar em funcionamento daqui a um ano. Além disso, há também uma sensação arrepiante entre algumas pessoas que se perguntam se seus empregos estarão assegurados.
 
(Para ser honesto, ninguém está sob risco de ser demitido, pois o Vaticano, basicamente, nunca demite ninguém. O cenário mais provável é o corte da força de trabalho ao não se substituir as pessoas que se aposentam ou saem por outras razões.)
 
Em outras palavras, os cardeais, sem dúvida, têm boas razões para tomar o seu tempo, mas também há motivos convincentes para não se esperar demasiadamente para puxar o gatilho.
 
Uma solução seria anunciar decisões ao longo do caminho, em vez de esperar para revelar uma reorganização completa no fim. Em outras palavras, se eles já sabem que a "Academia Pontifícia para X" não vai mais existir, talvez a coisa mais inteligente seria dizer isso agora, de modo que o pessoal saiba da proposta e possa se ajustar de acordo.
 
Geralmente o Vaticano fornece "briefings" diários durante as reuniões do G8, por isso vamos ver em breve se é assim que eles vão decidir trabalhar. Até agora, os sinais têm sido de que nada será anunciado até que o pacote completo seja montado e apresentado ao papa para que ele tome as decisões.
The Boston Globe, 28-06-2014.

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