quarta-feira, 23 de julho de 2014

Movimento usa reflexão e atitude 'zen' para ensinar como abrir negócio

Dicas de autoconhecimento vão de saber escutar a ter conversas profundas.
Ideia é encontrar suas paixões e 'essência' para integrar com o trabalho.

Simone CunhaDo G1, em São Paulo
Gisella e os outros integrantes do Estaleiro da Liberdade, escola de empreendedorismo baseada em autoconhecimento. (Foto: Estaleiro da Liberdade)Gisella e os outros integrantes do Estaleiro da Liberdade, escola de empreendedorismo baseada em autoconhecimento. (Foto: Estaleiro da Liberdade)
"Trabalhar consigo mesmo" é como Oswaldo Oliveira traduz a orientação que dá sobre empreendedorismo pessoal aos participantes do Empreender-se em Rede. Em outra iniciativa do tipo, o Estaleiro da Liberdade, Gisella Sa chama de "marujos" os inscritos na escola, que têm de "lançar ao mar" novos projetos de negócios. A ideia dos dois não é oferecer cursos com conteúdos definidos sobre como empreender, mas "jornadas" para as pessoas descobrirem como fazer o que gostam ganhando dinheiro.
Dicas de autoconhecimento para empreender
- Pelo menos por um instante, elimine compromissos com qualquer tipo de objetivo
- Reconheça quais são os momentos em que seu coração diz recorrentemente para você: "É por aí!". E siga-o
- Pratique a escuta ativa, que é ouvir o outro sem interrupções
- Meditar é o passo seguinte a estar presente
- Dê pausas, fique no vácuo. Isso ajuda a refletir
- Saia do piloto automático do “tem que”
- Com familiares e amigos, tente ter conversas mais profundas sobre quais os medos, bloqueios e fortalezas de cada um
- Pergunte às pessoas com quem convive o que você sabe fazer bem, sem esforço: quem está em volta consegue espelhar o que não vemos em nós mesmos
Juntos, os grupos têm mais de 120 empreendedores, e fazem parte de um movimento que valoriza o autoconhecimento para construir um percurso profissional que integre o lado humano e o profissional.
“Essas coisas eu acho que são gigantescas: você se propor a ser um ser humano, que de forma amorosa faz o que pode dentro desse universo e trabalhando consigo mesmo para se desenvolver. Já deveria ser bom demais”, afirma Oswaldo, de 49 anos.
“O dinheiro é o segundo plano, é importante ter clareza do que ama fazer a ponto de o tempo parar, os olhos brilharem, o que tem de maior significado. Quando se sente isso internamente, é muito mais fácil ganhar dinheiro com essa coisa”, diz Gisella, que tem 26 anos.
Como funcionam as iniciativas
No Estaleiro Liberdade, a busca é pelo conhecimento de si mesmo e das paixões e talentos, que vão ajudar a construir o trabalho. Com unidades em Porto Alegre e São Paulo, 60 “marujos” saíram do grupo desde 2012, conduzidos por 3 facilitadores, os “piratas”. As turmas têm no máximo 24 "marujos" que a cada 2 meses “lançam ao mar” os projetos que estão estruturados. Ao colocarem na rua o negócio criado, novas vagas são abertas.
O custo é fixo em R$ 735 por mês, que pode ser dividido com um patrocinador disposto a pagar parte da mensalidade para receber o conteúdo desenvolvido pelo grupo. Sem grade fixa de aprendizado, o Estaleiro ensina de acordo com a necessidade dos participantes.
Iniciado em abril e com mais de 60 pessoas, o Empreender-se também é uma jornada para o desenvolvimento em conexão com o mundo, que Oswaldo chama de rede. Ele diz que a ideia é ver o mundo como uma empresa e ser funcionário dela. Assim, cada participante toca seu projeto pessoal se colocando à disposição de outras iniciativas e pessoas para realizar atividades ligadas à sua essência. Tudo é possível: um pode ensinar algo, outro pode oferecer consultoria para assuntos específicos e até formar parceriais e sociedades. Pelos serviços, as pessoas podem cobrar quanto desejarem.
A caminhada é para encontrar a essência ou intenção de vida e ligá-la com as necessidades do mundo. O ensino é baseado na realização de um projeto de vida e busca desbloquear medos. “A ideia não é atingir o sucesso, mas se conectar consigo mesmo, se realizar e poder ganhar dinheiro com o que gosta”, diz Oswaldo. Adepto da relação horizontal e sem hierarquia, ele aponta que a ideia do empreendedor de si mesmo é perder cargo, função e área de atuação e agir como si mesmo.
Pelo Empreender-se passa todo tipo de gente em busca de um trabalho com significado: aposentados, empregados, estudantes, sem emprego, potenciais empreendedores, de 22 a 70 anos. Para impedir que a distância afaste, as atividades presenciais são transmitidas ao vivo pela internet, o que permite a participação de pessoas de diversas cidades brasileiras, como Recife, Rio e São Paulo, e também de fora do país, como Alemanha e Portugal.
Cada um paga a mensalidade que pode, combinada na inscrição – embora a indicação seja de R$ 250 por pessoa. “A minha proposição é justamente que a pessoa consiga ter sustentação financeira ao longo do processo para fazer o que está na intenção dela. Se ela não tem o dinheiro para pagar o processo todo agora, e eu acredito no que estou fazendo, eu falo 'vem, e vamos trabalhar juntos para você sair dessa situação'”, diz Oswaldo.
O programa tem duração média de quatro meses, tempo suficiente para mudar a forma de perceber o mundo, segundo o fundador. Ele diz que isso é apenas uma iniciação, já que a caminhada continua pela vida.
Oswaldo Oliveira, do Empreender-se, ensina uma transformação parecida com a qual viveu. (Foto: Inovaeconomia)Oswaldo Oliveira, do Empreender-se, fala sobre a construção de redes de colaboração (Foto: Inovaeconomia/Tiago Negrão Andrade)

Experiência que deu certo
A transformação não significa necessariamente o início de um negócio próprio ou a saída do emprego, já que há pessoas que passam a encarar de forma diferente a função que desempenham e continuam onde estão. No entanto, há cerca de 40 projetos construídos ou desenvolvidos com orientação do Empreender-se.
Um deles é o Conexão Pais e Filhos, uma plataforma de troca de experiências para melhorar a relação na família, que é tocada por Marcelo Michelsohn. O projeto começou como um blog, virou um curso e se transformou em um processo contínuo, sem início ou fim. Agora, está quase virando fonte de renda constante com um modelo semelhante ao do Empreender-se: não tem programa definido e é estruturado como uma jornada em que cada participante paga o que pode pelo tempo que precisar do serviço.
Muito do que eu compartilho hoje com as pessoas tem a ver com uma caminhada prática minha”
Oswaldo Oliveira, do Empreender-se
Como começou o trabalho
Oswaldo diz ensinar o que viveu. “Muito do que eu compartilho hoje com as pessoas tem a ver com uma caminhada prática minha”, conta. “Eu fui desenvolvendo um entendimento de que o único empreendimento que está em curso na vida das pessoas é ela mesma. O resto é tudo desculpa para ela se desenvolver.”
Vindo do mercado financeiro – passou por bolsas de valores e mercados futuro no Brasil e EUA e trabalhou na tesouraria de grandes empresas, além de ter tido a sua própria –, ele passou cerca de 10 anos trabalhando no desenvolvimento do mercado de internet, de onde tirou o conceito de rede que hoje emprega. Em 2010, deixou de ver sentido em ter empresa e passou a querer trabalhar sem hierarquia.
Ali começou uma busca por pessoas com a mesma intenção, que culminou no Empreender-se e na Laboriosa 89, uma casa colaborativa em que a porta está sempre aberta, tem chave disponível para qualquer um tirar cópia e pagamento espontâneo e do tamanho que cada um puder – no banco ou na caixinha transparente logo na entrada. O imóvel é a materialização da vida em rede e sem hierarquia de que Oswaldo fala. “Não é só a casa, é o grupo no Facebook que está batendo 4 mil pessoas conectadas”, diz.
Do ponto de encontro entre pessoas dispostas a abandonar cargos, se redescobrirem e interagirem com o momento surge produção de filmes em rede, edição de livros, fabricação, negócios colaborativos e sempre com modelo de negócio e fluxo financeiro associado à abundância: não é preciso ter uma propriedade nem de uma ideia para desenvolver um negócio, mas estimular o fluxo – conviver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário