Não é católico, mas pentecostal. Faz parte dessas comunidades cristãs que se expandem deforma assombrosa no mundo. O Papa está se encontrando com seus líderes de forma gradual. De rivais quer fazê-los amigos, a ponto de pedir-lhes perdão.
Quando foi dada a notícia, confirmada pelo padre Federico Lombardi, de que o Papa Francisco tentava ir de forma privada a Caserta para encontrar um amigo seu, pastor de uma comunidade evangélica local, o bispo da cidade, Giovanni D’Alise, se surpreendeu. Não sabia de nada.
Além disso, o Papa havia programado esta visita relâmpago a Caserta justamente no dia da festa de Santa Ana, padroeira da cidade. Ao se verem marginalizados, houve entre os fiéis uma ameaça de sublevação. Foi necessária uma boa semana para convencer o Papa a mudar o programa e que desdobraria a viagem em duas partes: a primeira, no sábado, 26 de julho, de forma pública para os fiéis de Caserta, e a segunda, de forma privada, na segunda-feira seguinte, para o amigo evangélico.
Foram meses nos quais Jorge Mario Bergoglio havia programado encontrar-se com esse amigo. Já em 15 de janeiro havia feito alusão a esse propósito na presença de um grupo de fiéis de Caserta, depois de uma audiência geral na Praça São Pedro. Voltou a falar disso em 19 de junho, durante um encontro, em Roma, com alguns pastores evangélicos, entre os quais estava o amigo de Caserta, Giovanni Traettino, a quem conheceu em 2006 em Buenos Aires, por ocasião de um debate com o então arcebispo da capital argentina.
Na realidade, o encontro de Caserta com o pastor Traettino não é um episódio isolado, mas faz parte de um esforço de mais longo alcance que o Papa Francisco está fazendo para atrair as simpatias dos líderes mundiais desses movimentos “evangélicos” e pentecostais que, sobretudo na América Latina, são o mais temível concorrente da Igreja católica, da qual arrancam enormes massas de fiéis.
Os cristãos “evangélicos” e pentecostais, surgidos um século atrás no mundo protestante, se expandiram de forma espetacular. Calcula-se que hoje sejam quase um terço dos quase dois milhões de cristãos presentes no mundo e três quartos dos protestantes. Mas são encontrados também dentro da Igreja católica. Em 01 de junho passado, o Papa Francisco encontrou-se no Estádio Olímpico de Roma com 50.000 membros da Renovação no Espírito, que na Itália é a maior organização carismática católica.
Três dias depois, 04 de junho, o Papa encontrou-se durante várias horas, na residência de Santa Marta, com alguns líderes “evangélicos” dos Estados Unidos, entre os quais estavam o célebre tele-evangelista Joel Osteen, o pastor californiano Tim Timmons e o presidente do Evangelical Westmont College, Gayle D. Beege.
No dia 24 de junho houve outro encontro. Desta vez com os tele-evangelistas do Texas, James Robinson e Kenneth Copeland, com o bispo Anthony Palmer, da Comunhão das Igrejas Episcopais Evangélicas, com o casal John e Carol Arnott, de Turim, e outros destacados líderes religiosos. Estiveram presentes também Geoff Tunnicliffe e Brien C. Stiller, respectivamente secretário-geral e “embaixador” da Aliança Evangélica Mundial. O encontro durou três horas e prosseguiu durante o almoço, no refeitório de Santa Marta, onde o Papa, entre grandes gargalhadas, bateu sua mão aberta na do pastor Robinson. (foto)
Copeland e Osteen são defensores da “teologia da prosperidade”, segundo a qual quanto mais cresce a fé mais cresce a riqueza. Eles mesmos são muito ricos e levam um estilo de vida muito dispendioso. Mas Francisco lhes economizou uma pregação sobre o tema da pobreza.
Em vez disso – de acordo com a informação do “embaixador” Stiller –, o Papa lhes declarou: “Não estou interessado em converter os ‘evangélicos’ ao catolicismo. Em muitos pontos doutrinais não estamos de acordo. Basta mostrar o amor de Jesus”.
Mas também lhes disse que aprendeu da sua amizade com o pastor Traettino que a Igreja católica, com sua imponente presença, obstaculiza muito o crescimento e o testemunho destas comunidades. E que também por esse motivo havia pensado em visitar a comunidade pentecostal de Caserta “para desculpar-se pelas dificuldades provocadas à comunidade”.
Durante os pontificados de João Paulo II e mais ainda de Bento XVI, os “evangélicos” estadunidenses, em geral mais conservadores, haviam atenuado sua tradicional postura antipapal e encontraram momentos de encontro com a Igreja católica na luta comum pela defesa da liberdade religiosa, da vida e da família.
Em seus colóquios das semanas passadas, o Papa Francisco não se deteve sobre estes temas.
Mas, em março passado, o Papa encontrou-se brevemente, em Roma, com a religiosíssima família “evangélica” Green, proprietária da empresa Hobby Lobby. A Suprema Corte dos Estados Unidos deu ganho de causa, no final do mês de junho, a uma ação judicial contra a lei impulsionada por Barack Obama que obrigava as empresas a incluir no seguro médico dos empregados a cobertura por tratamentos anticoncepcionais e abortivos.
Chiesa.it, 23-07-2014.
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