terça-feira, 15 de julho de 2014

O esplendor vitoriano

Exposição em Madrid apresenta os artistas ingleses mais emblemáticos do século 19.

Por Marco Lacerda*
O Museu Thyssen-Bornemisza, de Madrid, apresenta neste verão a exposição ‘Alma-Tadema e a Pintura Vitoriana’ que inclui alguns dos artistas mais emblemáticos da pintura inglesa do século 19. Lawrence Alma-Tadema, Frederic Leighton, Edward Coley Burne-Jones, Albert J. Moore o John William Waterhouse cultivaram em suas obras valores herdados em parte dos pré-rafaelitas e que ofereciam um forte contraste com as atitudes moralistas da época: a volta à antiguidades clássica, o culto à beleza feminina e a busca da harmonia visual – tudo ambientado em espaços suntuosos e com frequentes referências a temas medievais, gregos e romanos.

Com curadoria de Veronique Gerard-Powell, professora honorária da Université Paris-Sorbonne, a mostra apresenta cinquenta obras pertencentes à Coleção Pérez Simón, uma das mais importantes do mundo em pintura vitoriana, já apresentada em Paris e Roma, antes de chegar a Madrid de onde viajará para Londres. A exposição, que fica em cartaz no Thyssen-Bornemisza de 25 de junho a 5 de outubro, se organiza em torno de seis capítulos temáticos: Ecletismo de uma época; Beleza ideal, beleza clássica; Alma-Tadema, entre reconstrução histórica; O rostro, espelho da beleza; Do pré-rafaelismo ao simbolismo e Entre tradição e modernidade.

O empresário espanhol Juan Antonio Pérez Simon (1934–1996) mostrou nos últimos trinta anos interesse particular pela pintura britânica realizada nos reinados de Vitória e seu filho Eduardo. Na década de 1860, o pré-rafaelismo havia se diluído enquanto se impunha um amplo movimento cultural e artístico, conhecido na Grã Bretanha como o ‘Aesthetic Movement’ (movimento estético). Os pintores voltam o olhar para os mestres antigos; suas obras se inspiram na cultura clássica greco-romana e nas lendas medievais que a poesia contemporânea  havia trazido de novo à atualidade de então; todas tem em comum a celebração da beleza feminina, representada segundo os cânones clássicos.

A mulher se converte em protagonista absoluta dessas pinturas. São mulheres pensativas, enamoradas, sonhadoras, bondosas, lascivas e malvadas, que se transformam em heroínas da Antiguidade e da Idade Média. Esse culto à mulher conduz ao onirismo e à magia do movimento simbolista que na época ganhava espaço na Europa. Entornos naturais e majestosos palácios servem de panos de fundo para situar cenas que sugerem, em sua maioria, ambientes imaginários e o corpo feminino se mostra  evocando o prazer sensual, o desejo e o mistério.

Renascimento artístico

A seleção das obras que compõem a exposição permite aos visitantes descobrir como a arte britânica do século 19 seguiu um modelo diferente do resto da Europa. Londres era uma importante capital cultural, onde a crescente atividade de colecionadores e marchands animava o mercado da arte. Entre 1860 e 1880 viveu-se um autêntico renascimento, quando os artistas começaram a refletir sobre a própria atividade artística.

Na época, a Royal Academy de Londres se encontrava em um momento de apogeu. Celebrava duas exposições por ano, uma no verão, outra no inverno. Frente à hegemonia a Royal Academy e ao seu sistema de seleção de obras, baseado no gosto conservador, produziram-se várias tentativas de abertura encabeçadas por artistas mais individualistas, como Whistler e Burne-Jones que, descontentes com a postura em relação às novas tendências pictóricas, encontraram nos novos espaços abertos em Londres um lugar para mostrar suas obras.

A segunda metade do século 19 foi marcada também pela instalação de marchands em Londres que, por sua vez, abriam sucursais em Liverpool, Manchester, Liverpool e outras cidades onde exerciam a função de intermediários entre os vendedores londrinos e os clientes do norte da Inglaterra.

Apesar de o mercado de arte centrar-se em grande parte em Londres, muitas das obras que formam agora parte da Coleção Pérez Simon estiveram em mãos de empresários e homens de negócios dos novos centros industriais e comerciais do Reino Unido que adquiram ou encomendavam obras diretamente aos artistas. Era prática comum nessa época os artistas se presentearem ou vender obras entre si e seus mecenas, sem passar por intermediários.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.

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