Só mesmo o tempo para diluir tamanha decepção, embora o time não viesse jogando bem desde o início do torneio.
Por Carlos Ávila
“Perdi mais uma vez/agora quero prosseguir em paz...” – o jeito mesmo é deslocar do contexto amoroso o belo samba de Paulinho da Viola, e cantá-lo repetidas vezes depois da derrota acachapante do Brasil pela Alemanha (país de tradição guerreira), pelo inacreditável placar de 7 x 1, na Copa do Mundo. Com a sabedoria e a serenidade que sempre foram a sua marca, o “príncipe do samba” ainda acrescenta: “Tudo de bom pra você/eu desejo porque/sei perder e ganhar”.
Correto, como canta o Paulinho, é preciso também saber perder... “Mas de sete?” – pode indagar, com razão e ênfase, o possível leitor. Sim, foi uma goleada que deixou atônitos e perdidos jogadores, técnicos, analistas e comentaristas esportivos, ex-craques e torcedores por todo o país. “Pourquoi?” – perguntou o repórter que veio da França para cobrir a Copa; e o nosso Juca Kfouri, um dos mais lúcidos jornalistas deste país, respondeu no seu quase nenhum francês: “Je ne sais pas!”. Não só ele não soube explicar o porquê da derrota; muita gente mais por este país... A camisa dos canarinhos ficou manchada. Só mesmo o tempo para diluir tamanha decepção, embora o time não viesse jogando bem desde o início do torneio, sendo ajudado por traves e outros trambiques; pela sorte e pelo acaso.
O futebol no Brasil tem uma grande carga simbólica, e não deixa de ser uma espécie de “termômetro social”. A derrota de agora, nas mentes e nos corações, é quase uma derrota do país como um todo, nas suas diversas áreas. Depois do transe futebolístico proporcionado pela Copa volta-se à “vida real” e constata-se que, na verdade, estamos perdendo de sete (ou até de mais), há bastante tempo, na educação e na saúde. Também no planejamento urbano, na mobilidade, na segurança etc.
Poderíamos parodiar uma certeira observação do poeta e crítico Ezra Pound (1885/1972), a respeito da literatura, e dizer que “se o futebol de uma nação entra em declínio a nação se atrofia e decai”. Será este o caso do Brasil? Aqui, quando o futebol vai mal, parece que tudo o mais também vai mal. Não vamos exagerar tanto, nem cair numa sociologia de botequim ou “de orelhada”. Mas que as coisas não estão nada boas no país (vejam-se os casos de corrupção e violência, por exemplo), qualquer um vê.
A derrota da seleção brasileira é também, de fato, a derrota de um Brasil velho, aquele que ainda acredita no jeitinho e na esperteza, na chamada “lei de Gérson”. No mundo globalizado e competitivo de hoje não há lugar para improvisos e arranjos de última hora. Não se faz mais nada sem projeto e sem planejamento, vale dizer, sem estudo e sem análise aprofundada, inclusive no esporte.
Para amenizar a derrota, voltemos ao samba “Perder e ganhar” do grande Paulinho da Viola: “Felicidade há de voltar para mim/vou me livrar da tristeza/com toda certeza/um dia ela pode ter fim...”.
“Perdi mais uma vez/agora quero prosseguir em paz...” – o jeito mesmo é deslocar do contexto amoroso o belo samba de Paulinho da Viola, e cantá-lo repetidas vezes depois da derrota acachapante do Brasil pela Alemanha (país de tradição guerreira), pelo inacreditável placar de 7 x 1, na Copa do Mundo. Com a sabedoria e a serenidade que sempre foram a sua marca, o “príncipe do samba” ainda acrescenta: “Tudo de bom pra você/eu desejo porque/sei perder e ganhar”.
Correto, como canta o Paulinho, é preciso também saber perder... “Mas de sete?” – pode indagar, com razão e ênfase, o possível leitor. Sim, foi uma goleada que deixou atônitos e perdidos jogadores, técnicos, analistas e comentaristas esportivos, ex-craques e torcedores por todo o país. “Pourquoi?” – perguntou o repórter que veio da França para cobrir a Copa; e o nosso Juca Kfouri, um dos mais lúcidos jornalistas deste país, respondeu no seu quase nenhum francês: “Je ne sais pas!”. Não só ele não soube explicar o porquê da derrota; muita gente mais por este país... A camisa dos canarinhos ficou manchada. Só mesmo o tempo para diluir tamanha decepção, embora o time não viesse jogando bem desde o início do torneio, sendo ajudado por traves e outros trambiques; pela sorte e pelo acaso.
O futebol no Brasil tem uma grande carga simbólica, e não deixa de ser uma espécie de “termômetro social”. A derrota de agora, nas mentes e nos corações, é quase uma derrota do país como um todo, nas suas diversas áreas. Depois do transe futebolístico proporcionado pela Copa volta-se à “vida real” e constata-se que, na verdade, estamos perdendo de sete (ou até de mais), há bastante tempo, na educação e na saúde. Também no planejamento urbano, na mobilidade, na segurança etc.
Poderíamos parodiar uma certeira observação do poeta e crítico Ezra Pound (1885/1972), a respeito da literatura, e dizer que “se o futebol de uma nação entra em declínio a nação se atrofia e decai”. Será este o caso do Brasil? Aqui, quando o futebol vai mal, parece que tudo o mais também vai mal. Não vamos exagerar tanto, nem cair numa sociologia de botequim ou “de orelhada”. Mas que as coisas não estão nada boas no país (vejam-se os casos de corrupção e violência, por exemplo), qualquer um vê.
A derrota da seleção brasileira é também, de fato, a derrota de um Brasil velho, aquele que ainda acredita no jeitinho e na esperteza, na chamada “lei de Gérson”. No mundo globalizado e competitivo de hoje não há lugar para improvisos e arranjos de última hora. Não se faz mais nada sem projeto e sem planejamento, vale dizer, sem estudo e sem análise aprofundada, inclusive no esporte.
Para amenizar a derrota, voltemos ao samba “Perder e ganhar” do grande Paulinho da Viola: “Felicidade há de voltar para mim/vou me livrar da tristeza/com toda certeza/um dia ela pode ter fim...”.
DomTotal.com
*Carlos Ávila é poeta e jornalista. Publicou, entre outros, Bissexto Sentido e Área de Risco (poesia); Poesia Pensada (crítica) e Bri Bri no canto do parque (infantil). Foi, por quatro anos (1995/98), editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Trabalhou também na Rede Minas de Televisão e foi editor do caderno de cultura do jornal “Hoje em Dia”. Participou de mais de vinte antologias no país e no exterior.
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