quarta-feira, 16 de julho de 2014

Social e humano

Marcus Eduardo de Oliveira

Somente profundas transformações em aspectos estruturais da relação economia-sociedade podem efetivar a construção de um novo modelo econômico com característica de mais justiça social.

Uma dessas transformações tem ponto de partida e de chegada: são as pessoas, por meio de forte mobilização e ativo poder de articulação (ponto de partida) entre si, que devem começar a realizar a transformação para uma modelo de economia mais solidário (ponto de chegada) possa se efetivar.

No entanto, é forçoso atentar para o seguinte: elaborar modelos econômicos especificamente centrados na valorização das pessoas e dos grupos sociais, cuja temática de cooperação (solidariedade) dê embasamento às ações, tanto dos próprios indivíduos, quanto dos agentes executores de políticas públicas, é tarefa árdua; porém, é construtivamente exequível.

É exequível e viável a partir do momento em que tomamos ciência que esse modelo aqui sugerido (obrigatoriamente de caráter social e humano com nuances de equilíbrio ecológico) aponta para uma situação em que haja desenvolvimento de todos e para todos. Um modelo que seja essencialmente de total inclusão, de incorporação, de partilha, de cooperação, solidário para não ser solitário.

Diante disso, uma pergunta se apresenta como pertinente: Como fazer isso? Paul Singer em "A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego" nos apresenta sete passos importantes para se alcançar esse modelo.

Vejamos: 1. a autogestão para a solidariedade; 2. o fortalecimento das iniciativas econômicas cooperativadas e associativas; 3. o desenvolvimento de redes de apoio mútuo, de intercâmbios diversos; 4. a criação de formas alternativas de crédito e poupança; 5. o desenvolvimento de capacidades técnicas e científicas por meio de pesquisas e técnicas cada vez mais adequadas à satisfação das necessidades e aspirações humanas; 6. o desenvolvimento da capacidade de identificação dos potenciais e dos limites da natureza e o condicionamento do crescimento econômico a tais limites; 7. a criação de novos espaços sociais através da constituição de Conselhos, Assembleias e Fóruns permanentes.

A matriz de construção desse modelo descrito por Singer faz ressaltar para efeito de melhor explicação, as diferenças entre dois capitais que tem a finalidade suprema de dar suporte ao próprio modelo: o social e o humano, dois capitais, por sinal, fundamentais na elaboração de qualquer modelo econômico cuja essência seja em valorizar as pessoas em primeiro plano.

Pontuando as diferenças entre ambos. Por capital social entende-se a participação de grupos sociais nas relações que envolvem a cooperação e a confiança entre as pessoas. Em relação ao capital humano, esse se relaciona, grosso modo, com o fortalecimento das competências e habilidades (o saber fazer) das pessoas.

Desse modo, a junção do capital humano com o social faz reforçar a parceria (cooperação, partilha de esforços) entre as pessoas. Essa é à base de sustentação dessa economia social e humana aqui mencionada. Em suma, tal prática leva a: organizar, integrar, participar e, no bojo, cooperar-partilhar.

Essa é, pois, a conduta desejada para se obter o tão propagado desenvolvimento humano, social e sustentável. Sua essencialidade? É humano porque prioriza as pessoas em primeiro lugar; é social, pois envolve a teia de relações estabelecidas nos grupos sociais e, por fim, é sustentável porque tende a perpetuar os ganhos estendidos a todos ao longo do tempo.

Concluindo: Temos que admitir que esse modelo prioriza e valoriza algo de extrema importância: a vida. E a economia tem tudo a ver com as relações que enaltecem a qualidade de vida das pessoas, portanto, é exequível e desejável.
Economista e professor, com mestrado pela (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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