quarta-feira, 9 de julho de 2014

Terceira viagem asiática de Francisco será ao Japão


Desde a sua juventude Bergoglio sonhava com esta meta. E agora irá como Papa, convidado pelo governo do Japão. A informação foi dada e explicada pelo ex-embaixador na Santa Sé, Kagefumi Ueno.

"Irei à Ásia duas vezes em seis meses. Em agosto, à Coreia do Sul, para um encontro com os jovens asiáticos. Em janeiro, ao Sri Lanka e às Filipinas. A Igreja da Ásia é uma promessa”.

As palavras são do Papa Francisco e ditas em uma entrevista publicada no dia da Festa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Mas, depois da Coreia do Sul, do Sri Lanka e das Filipinas, outro país asiático já está se preparando para receber a visita do Papa: o Japão.
A informação foi dada por uma personalidade japonesa de grande autoridade: Kagefumi Ueno, embaixador na Santa Sé entre 2006 e 2010, atualmente professor de civilizações e culturas na Universidade Kyorin de Tóquio e autor, em 2011, de um livro sobre o Vaticano descrito com o olho de um observador culturalmente muito diferente, de orientação budista-xintoísta e, no entanto, muito interessado.
Em uma nota publicada no dia 21 de junho no The Japan News, publicação em língua inglesa do difundido jornal japonês Yomiuri Shimbun, Ueno revelou que, no encontro de 06 de junho passado, no Vaticano, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe convidou Francisco para uma visita ao Japão, convite “vivamente acolhido pelo Papa”.
“Os dois governos – acrescentou Ueno – estão agora ocupados com a realização de uma visita papal ao Japão na ocasião mais próxima possível; naturalmente, este é o desejo também da Igreja católica japonesa”.
O Japão é uma meta desejada por Jorge Mario Bergoglio desde que era um jovem jesuíta. Ele mesmo relatou seu desejo, desde que era noviço, de ir como missionário a esse país. O vínculo entre a Companhia de Jesus e o Japão é muito forte. Dois de seus três últimos superiores gerais viveram muitos anos neste país: Pedro Arrupe e o atual prepósito Adolfo Nicolás. A prestigiosa Universidade Sofia de Tóquio é dirigida pelos jesuítas.
O Japão foi também uma meta sonhada durante muito tempo por outra celebridade da Companhia, o cardeal Carlo Maria Martini.
Assim como a China, com Matteo Ricci, também o Japão teve com o jesuíta Alessandro Valignano, no final do século XVI, um evangelizador genial, muito atento a “inculturar” sua ação missionária.
Mas, o motivo pelo qual Bergoglio, como Papa, repetidas vezes expressou sua maior admiração é a milagrosa sobrevivência da fé católica no Japão entre os séculos XVII e XVIII, nos 200 anos durante nos quais a presença de missionários e sacerdotes havia sido completamente aniquilada pela perseguição.
“Quando, depois de todo este tempo, outros missionários voltaram, encontraram todas as comunidades funcionando e bem: todos batizados, todos catequizados, todos casados na Igreja e os que morreram, cristãmente enterrados. Não havia sacerdotes. Quem fez tudo isso? Os simples batizados!”
É uma convicção do Papa Francisco de que “podemos aprender muito com esta história” e de que o cristianismo pode, finalmente, encontrar também no Japão um terreno fértil, apesar de que os profusos esforços da Companhia de Jesus e de outros nas últimas décadas tenham produzido pouquíssimas conversões até o momento.
Mas, também por parte do Japão existe a vontade de reforçar as relações com a Igreja de Roma.
Em sua nota no The Japan News, Kagefumi Ueno argumenta que há pelo menos três âmbitos nos quais o Japão e a Santa Sé estão em sintonia.
O primeiro, é a promoção da paz, graças também ao fato de que o Japão – escreve – “tem a constituição mais pacifista do mundo” (embora esteja em processo de modificação com a anunciada inclusão da “defesa coletiva”, isto é, a possibilidade de intervir não apenas diante de uma ofensiva direta, mas também apoiando aliados que estejam sendo atacados).
Outro âmbito de entendimento é “no das questões globais, como a pobreza, as minorias, os direitos humanos, o desarmamento, a desnuclearização, o meio ambiente, a corrupção, a legalidade, o terrorismo, etc.”.
Mas também há entre a Santa Sé e o Japão uma comum “cultura da diplomacia”, que os leva a tomar posições que, às vezes, diferem das dominantes no Ocidente, como, por exemplo, o estabelecimento de relações cordiais com o Irã, com cujo clero islâmico a Igreja católica “tem tradicionalmente bons vínculos”.
Em geral – escreve Ueno –, tanto o Japão como o Vaticano “adotam um enfoque mais bem cauteloso e moderado no que diz respeito a algumas questões delicadas, abstendo-se de decisões impulsivas ou da utilização de palavras inequívocas. Ambos se encontram bem com a cultura dos matizes e da ambiguidade”.
Depois de ter recordado a proveitosa visita ao Japão, em 2009, do ministro de assuntos exteriores do Vaticano, Dominique Mamberti, Ueno conclui assim sua nota:
“Em resumo, estou convencido de que a comunidade internacional tem duas máximas autoridades a quem apelar em última instância. Uma é o Vaticano, a suprema autoridade moral (ou o supremo soft power), enquanto a outra são os Estados Unidos, a máxima autoridade militar (ou o supremo hard power). Ter uma estreita relação com ambas assegurará ao Japão um profundo sentimento de paz e segurança, o efeito de um bom equilíbrio entre idealismo e realismo. Ou seja, precisamente do que o Japão necessita”.
Chiesa, 04-07-2014.

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