Com
Veemência, alhures, já falei repetidas vezes de uma Igreja portadora da
esperança, que muito fala da esperança, como sua razão de ser, de existir e seu
sonho superior aos demais, mas que não proporcionava a suficiente esperança
(cf. Hans Küng, Celebração do Culto Divino). Também não me esqueci de falar da
nossa confiança que é enorme, sobretudo, ao refletirmos sobre a parábola do pai
misericordioso (Lc 15, 11-32), porque temos um papa totalmente identificado com
o pai da passagem do referido Evangelho (o filho pródigo), no seu amor infinito
e acolhedor, que soube compadecer-se da miséria do filho mais novo, num gesto
extraordinário de compaixão e generosidade.
O Planeta
alegremente contemplado, no sentido de que os cristãos sejam estimulados e
fomentados a um grande compromisso de dialogar e cuidar da criação, nas suas
mais diversas realidades. O mundo precisando carinhosamente de práticas
ecológicas e ambientais, para que a fé da humanidade possa se tornar cada vez
mais viva, lúcida e coerente com aquilo em que acredita. Daí um Francisco
consternado e profundamente sofrido diante do desastre com o avião da Malaysian
Airlines no leste da Ucrânia, região marcada por fortes tensões, elevando suas
orações pelas numerosas vítimas e pelos seus familiares, renovando às partes em
conflito o sincero apelo pela paz e por um compromisso para que se encontrem
soluções de diálogo, com a finalidade de evitar ulteriores perdas de vidas
humanas inocentes.
Vem logo
na minha mente a imagem da Pietá, na qual contemplamos as dores da Virgem
Maria, com as mãos ensanguentadas, quando o Filho de Deus, no episódio supremo e doloroso, depois da morte na cruz, retratado
por Michelangelo, naquele tema emblemático da história da arte cristã. Por
ocasião da Semana Santa, somos mais intimamente convidados a ficarmos próximos
da Virgem Dolorosa, sentimento este vivido intensamente, neste momento, pelo
Papa Francisco, os quais querem nos falar alto e em bom tom. As sete dores por ela sentidas, dores imensas,
profundas e inigualáveis, representam as dores da humanidade, na força de uma inefável
simbologia.
Entristecidos
e, ao mesmo tempo Esperançosos, contamos com um papa capaz de tomar para si e
compreender as angústias da humanidade, representada pelo filho mais novo que
deixou seu pai querido, numa aventura de assumir e administrar sua própria vida
e seus bens. Igualmente, numa pedagogia marcada por uma enorme misericórdia,
que saiba ir ao encontro do filho mais velho, que representa a mesma
humanidade, com um coração empedernido, com o objetivo de falar-lhe da
necessidade da misericórdia e da conversão do coração diante da dor, da miséria
e do sofrimento humano, exigindo-lhe amor, compaixão e solidariedade.
O Santo
Padre carrega consigo, no mais íntimo do seu interior e, não tenho nenhum medo
de me enganar, o pensamento do grande homem de fé, educador e pensador, Rubem Alves,
nesta assertiva: "Eu achava que religião não era para garantir o céu,
depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro,
membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras
dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência
Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
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