Feliz o povo cujos mandatários podem aparecer em público sem o risco de serem xingados e vaiados.
Por Marco Lacerda*
Foram muitas as Copas que vivi e sofri longe do Brasil, desobedecendo a um conselho do meu pai, beque do América mineiro nos anos dourados do time. “Copa do Mundo se assiste em casa, meu filho”, ele dizia. Uma Copa do Mundo em seu próprio país é uma oportunidade única, a maioria dos seres humanos só tem esse privilégio uma vez na vida, se tanto. Por isso mesmo, meu maior espanto na Copa que chegou ao fim ontem foi a ausência de Lula em todos os jogos, recusando-se a compartilhar com os brasileiros as alegrias e dores do Mundial. Será que, como aconteceu em outras ocasiões, o ex-presidente não sabia que uma Copa do Mundo estava sendo realizada no país?
É compreensível que Dilma Roussef não tenha comparecido aos jogos de Seleção. Como presidente, ela não poderia excursionar pelo país como uma torcedora sem mais o que fazer. Já Lula, que se saiba, no momento não passa do cabo eleitoral mais bem pago do país. E lugar de fazer campanha durante uma Copa do Mundo é exatamente dentro da Copa do Mundo.
Seja como for, motivos para se jogar na festa não faltaram. Durante um mês a Copa ocupou todos os espaços da vida. Invadiu corações, mergulhou fundo nas nossas veias e se esbaldou na nossa corrente sanguínea. Esparramou-se pelas ruas, lares, bares, camas. Gritos de alegria desabrida ecoaram pelos céus em vários idiomas. A cada gol, beijos desaforados em todas as línguas, os abraços mais apertados. Comilança desenfreada, porres homéricos. Explosões do mais puro êxtase, torrentes de lágrimas. TV, rádio, jornais, redes sociais não falaram de outra coisa. A Copa foi manchete nacional durante 30 dias. De repente, cada cidade-sede virou o centro das atenções do mundo.
Se a seleção não convenceu em campo, o Brasil bateu um bolão nas ruas. O país deu um show de elegância, carinho e gentileza calados no peito pelas porradas do cotidiano. Uma exibição em uníssono de amor à pátria-mãe-gentil. Abrimos portas e corações para nossos visitantes e mostramos o melhor que temos e somos. Redescobrimos a América na alegria dos colombianos, na ginga dos costa-riquenhos, na paixão dos ‘hermanos’, tão parecida com nossa. E todos voltaram felizes pra casa, levando na boca o gosto suave de quero mais!
Ficou uma saudade gostosa que vai durar para sempre, manchada apenas pelo fracasso contra os inteligentes e espertos alemães que, depois do massacre, às custas de mimos e agrados conquistaram a torcida brasileira para contar com aliados na grande final no Maracanã.
As primas-donas do nosso jornalismo esportivo deram um show de bolas fora, revelando uma incompetência só comparável à da Seleção. Depois do desastre no jogo contra a Alemanha, alguns apressaram-se em alardear que cada gol alemão teve o efeito de acordar o ex-país do jogo bonito para sua medíocre realidade. Outros, como se estivessem redescobrindo a América, foram enfáticos em defender a busca de um novo técnico e o nome do espanhol Pep Guardiola lidera a preferência dos nossos comentaristas de futebol. Há dois anos, antes mesmo de Felipão ser escalado para o maior fiasco de sua carreira, este DomTotal já preconizava a ideia em crônica de Carlos Eduardo Leão.Vale a pena lembrar clicando aqui.
Vida que segue, expressão manjada, em geral usada para sair fora de uma conversa, e este é o caso. Toda overdose desemboca no inevitável dia seguinte, sempre cruel como uma quarta-feira de cinzas. Amores separados, beijos interrompidos. Belo Horizonte, a cidade de onde acompanhei tudo, viveu seus 15 minutos de fama mundial, ao permitir que um viaduto desabasse sobre a Copa das Copas, deixando dois mortos e uma legião de oportunistas responsáveis pela liberação de uma obra super-faturada e tão vagabunda quanto a nossa Seleção. A capital mineira voltou à sua insignificância habitual, de não ser mencionada nem em previsão do tempo da Globo. As moscas retomaram seus lugares no bar do presidente da Câmara Municipal, Leo Burguês, sem a sensação incômoda de estarem ocupando espaço de nenhum folião da Copa.
Na livraria Quixote, a melhor da cidade, os funcionários arregaçaram as mangas e foram limpar a bosta despejada nas suas portas pelos cavalos da polícia, como recordação de sua participação quase sempre desastrosa no evento.
Vida que segue e deixa uma saudade gostosa ofuscada apenas pela ausência incompreensível dos maiores entusiastas da realização da Copa 2014 no Brasil. Feliz o povo cujos mandatários podem aparecer em público sem o risco de serem xingados e vaiados. Mandatários respeitados por seu passado e sua dignidade nos cargos que ocupam ou ocuparam, pois tem boas metas para o país e seu povo, não apenas a ambição de vencer eleições e perpetuar-se no poder. Parabéns, Alemanha!
Foram muitas as Copas que vivi e sofri longe do Brasil, desobedecendo a um conselho do meu pai, beque do América mineiro nos anos dourados do time. “Copa do Mundo se assiste em casa, meu filho”, ele dizia. Uma Copa do Mundo em seu próprio país é uma oportunidade única, a maioria dos seres humanos só tem esse privilégio uma vez na vida, se tanto. Por isso mesmo, meu maior espanto na Copa que chegou ao fim ontem foi a ausência de Lula em todos os jogos, recusando-se a compartilhar com os brasileiros as alegrias e dores do Mundial. Será que, como aconteceu em outras ocasiões, o ex-presidente não sabia que uma Copa do Mundo estava sendo realizada no país?
É compreensível que Dilma Roussef não tenha comparecido aos jogos de Seleção. Como presidente, ela não poderia excursionar pelo país como uma torcedora sem mais o que fazer. Já Lula, que se saiba, no momento não passa do cabo eleitoral mais bem pago do país. E lugar de fazer campanha durante uma Copa do Mundo é exatamente dentro da Copa do Mundo.
Seja como for, motivos para se jogar na festa não faltaram. Durante um mês a Copa ocupou todos os espaços da vida. Invadiu corações, mergulhou fundo nas nossas veias e se esbaldou na nossa corrente sanguínea. Esparramou-se pelas ruas, lares, bares, camas. Gritos de alegria desabrida ecoaram pelos céus em vários idiomas. A cada gol, beijos desaforados em todas as línguas, os abraços mais apertados. Comilança desenfreada, porres homéricos. Explosões do mais puro êxtase, torrentes de lágrimas. TV, rádio, jornais, redes sociais não falaram de outra coisa. A Copa foi manchete nacional durante 30 dias. De repente, cada cidade-sede virou o centro das atenções do mundo.
Se a seleção não convenceu em campo, o Brasil bateu um bolão nas ruas. O país deu um show de elegância, carinho e gentileza calados no peito pelas porradas do cotidiano. Uma exibição em uníssono de amor à pátria-mãe-gentil. Abrimos portas e corações para nossos visitantes e mostramos o melhor que temos e somos. Redescobrimos a América na alegria dos colombianos, na ginga dos costa-riquenhos, na paixão dos ‘hermanos’, tão parecida com nossa. E todos voltaram felizes pra casa, levando na boca o gosto suave de quero mais!
Ficou uma saudade gostosa que vai durar para sempre, manchada apenas pelo fracasso contra os inteligentes e espertos alemães que, depois do massacre, às custas de mimos e agrados conquistaram a torcida brasileira para contar com aliados na grande final no Maracanã.
As primas-donas do nosso jornalismo esportivo deram um show de bolas fora, revelando uma incompetência só comparável à da Seleção. Depois do desastre no jogo contra a Alemanha, alguns apressaram-se em alardear que cada gol alemão teve o efeito de acordar o ex-país do jogo bonito para sua medíocre realidade. Outros, como se estivessem redescobrindo a América, foram enfáticos em defender a busca de um novo técnico e o nome do espanhol Pep Guardiola lidera a preferência dos nossos comentaristas de futebol. Há dois anos, antes mesmo de Felipão ser escalado para o maior fiasco de sua carreira, este DomTotal já preconizava a ideia em crônica de Carlos Eduardo Leão.Vale a pena lembrar clicando aqui.
Vida que segue, expressão manjada, em geral usada para sair fora de uma conversa, e este é o caso. Toda overdose desemboca no inevitável dia seguinte, sempre cruel como uma quarta-feira de cinzas. Amores separados, beijos interrompidos. Belo Horizonte, a cidade de onde acompanhei tudo, viveu seus 15 minutos de fama mundial, ao permitir que um viaduto desabasse sobre a Copa das Copas, deixando dois mortos e uma legião de oportunistas responsáveis pela liberação de uma obra super-faturada e tão vagabunda quanto a nossa Seleção. A capital mineira voltou à sua insignificância habitual, de não ser mencionada nem em previsão do tempo da Globo. As moscas retomaram seus lugares no bar do presidente da Câmara Municipal, Leo Burguês, sem a sensação incômoda de estarem ocupando espaço de nenhum folião da Copa.
Na livraria Quixote, a melhor da cidade, os funcionários arregaçaram as mangas e foram limpar a bosta despejada nas suas portas pelos cavalos da polícia, como recordação de sua participação quase sempre desastrosa no evento.
Vida que segue e deixa uma saudade gostosa ofuscada apenas pela ausência incompreensível dos maiores entusiastas da realização da Copa 2014 no Brasil. Feliz o povo cujos mandatários podem aparecer em público sem o risco de serem xingados e vaiados. Mandatários respeitados por seu passado e sua dignidade nos cargos que ocupam ou ocuparam, pois tem boas metas para o país e seu povo, não apenas a ambição de vencer eleições e perpetuar-se no poder. Parabéns, Alemanha!
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal.
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