Há velhos que pelo temperamento e sabedoria são mais jovens do que muitos moços.
Por Carlos Ávila*
“A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer” – brinca Arnaldo Antunes na letra de uma das suas canções. Outra coisa moderna é, por incrível que pareça, um texto de Cícero – sim, Marcus Tullius Cicero (nascido em 106 a. C.!), importante autor da literatura latina – justamente sobre o envelhecimento. Além de político influente, Cícero era jurista, orador e filósofo. Suas breves e diretas reflexões sobre “a arte de envelhecer” são atualíssimas (há uma barata e prática edição de bolso de “Saber envelhecer”, da L&PM, fácil de encontrar, em tradução de Paulo Neves).
Segundo Cícero, “os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos, suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”. Ou seja, há velhos que pelo temperamento e sabedoria são mais jovens do que muitos moços; há velhos que conseguem manter uma espécie de juventude permanente, fruto de uma joie de vivre – uma atitude positiva diante da vida e da passagem do tempo.
Cícero enumera no seu texto as quatro razões que as pessoas, em geral, apresentam para achar a velhice detestável: o afastamento da vida ativa, o enfraquecimento do corpo, a privação dos prazeres e a aproximação da morte. O mestre latino rebate cada uma dessas razões, com argumentos fortes e realistas. Em relação à vida ativa, por exemplo, ele observa que “não são nem a força, nem a agilidade física, nem a rapidez que autorizam as grandes façanhas; são qualidades como a sabedoria, a clarividência, o discernimento.
Qualidades das quais a velhice não está privada, mas, ao contrário, pode muito especialmente se valer”. Segundo Cícero, “a irreflexão é própria da idade em flor, e a sabedoria da maturidade”.
Como há mortos que estão mais vivos do que muitos vivos, há velhos (apenas na idade) que estão mais vivos e ativos do que muitos jovens. Cícero enfatiza como qualidades na velhice a vivacidade de espírito, o estudo (e a descoberta) constante de coisas novas, o uso da força com parcimônia, o exercício físico e a temperança, a ocupação do espírito e da alma, o trabalho contínuo, a conversação etc. Enfim, manter a chama acessa.
Sobre a morte, que se aproxima com o envelhecimento, Cícero observa: “como é lastimável o velho que, após ter vivido tanto tempo, não aprendeu a olhar a morte de cima! Cumpre ou desprezá-la completamente, se pensamos que ela ocasiona o desaparecimento da alma, ou desejá-la, se ela confere a essa alma sua imortalidade. Não há outra alternativa”. E conclui com sabedoria: “a natureza fixa os limites convenientes da vida como de qualquer outra coisa. Quanto à velhice, em suma, ela é a cena final dessa peça que constitui a existência”.
“A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer” – brinca Arnaldo Antunes na letra de uma das suas canções. Outra coisa moderna é, por incrível que pareça, um texto de Cícero – sim, Marcus Tullius Cicero (nascido em 106 a. C.!), importante autor da literatura latina – justamente sobre o envelhecimento. Além de político influente, Cícero era jurista, orador e filósofo. Suas breves e diretas reflexões sobre “a arte de envelhecer” são atualíssimas (há uma barata e prática edição de bolso de “Saber envelhecer”, da L&PM, fácil de encontrar, em tradução de Paulo Neves).
Segundo Cícero, “os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos, suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”. Ou seja, há velhos que pelo temperamento e sabedoria são mais jovens do que muitos moços; há velhos que conseguem manter uma espécie de juventude permanente, fruto de uma joie de vivre – uma atitude positiva diante da vida e da passagem do tempo.
Cícero enumera no seu texto as quatro razões que as pessoas, em geral, apresentam para achar a velhice detestável: o afastamento da vida ativa, o enfraquecimento do corpo, a privação dos prazeres e a aproximação da morte. O mestre latino rebate cada uma dessas razões, com argumentos fortes e realistas. Em relação à vida ativa, por exemplo, ele observa que “não são nem a força, nem a agilidade física, nem a rapidez que autorizam as grandes façanhas; são qualidades como a sabedoria, a clarividência, o discernimento.
Qualidades das quais a velhice não está privada, mas, ao contrário, pode muito especialmente se valer”. Segundo Cícero, “a irreflexão é própria da idade em flor, e a sabedoria da maturidade”.
Como há mortos que estão mais vivos do que muitos vivos, há velhos (apenas na idade) que estão mais vivos e ativos do que muitos jovens. Cícero enfatiza como qualidades na velhice a vivacidade de espírito, o estudo (e a descoberta) constante de coisas novas, o uso da força com parcimônia, o exercício físico e a temperança, a ocupação do espírito e da alma, o trabalho contínuo, a conversação etc. Enfim, manter a chama acessa.
Sobre a morte, que se aproxima com o envelhecimento, Cícero observa: “como é lastimável o velho que, após ter vivido tanto tempo, não aprendeu a olhar a morte de cima! Cumpre ou desprezá-la completamente, se pensamos que ela ocasiona o desaparecimento da alma, ou desejá-la, se ela confere a essa alma sua imortalidade. Não há outra alternativa”. E conclui com sabedoria: “a natureza fixa os limites convenientes da vida como de qualquer outra coisa. Quanto à velhice, em suma, ela é a cena final dessa peça que constitui a existência”.
*Carlos Ávila é poeta e jornalista. Publicou, entre outros, Bissexto Sentido e Área de Risco (poesia); Poesia Pensada (crítica) e Bri Bri no canto do parque (infantil). Foi, por quatro anos (1995/98), editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Trabalhou também na Rede Minas de Televisão e foi editor do caderno de cultura do jornal “Hoje em Dia”. Participou de mais de vinte antologias no país e no exterior.
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