terça-feira, 26 de agosto de 2014

Após depressão, cantora de 'Galera de caubói' planeja disco de autoajuda

Atualizado em 26/08/2014 06h12

Jameika, ex-Dallas Company, vê 'sertanejo poluído' e quer som 'família'.

Ela fez terapia após brigas na banda; G1 mostra cantores de um hit só.

Rodrigo OrtegaDo G1, em São Paulo
Jameika, ex-Dallas Company, na época do hit 'Clima de rodeio', de 2002, e em 2014: 'Hoje o mercado sertanejo está muito poluído' (Foto: Yuri Barichivich/G1)Jameika, ex-Dallas Company, na época do hit 'Clima de rodeio', de 2002, e em 2014: 'Hoje o mercado sertanejo está muito poluído' (Foto: Yuri Barichivich/G1)
"Depois dos 30 anos a gente vê como a vida passa rápido. Não quero perder tempo com algo de que eu não gosto." Jameika Mansur prefere este tom reflexivo ao imperativo eufórico do verso "quem gosta de rodeio bate forte com a mão". Ela emplacou o primeiro e único hit com o Dallas Company em 2002 (veja letra e ouça). No auge do sucesso o grupo brigou com empresários e nunca recuperou a fama. As discussões levaram a artista à depressão. Ela fez terapia e hoje quer gravar um disco para ajudar outras pessoas com lições de autoajuda.
Jameika é um dos nomes do especial “One hit wonders” do G1. Eles contam a experiência de ter um sucesso só. Levantamento da empresa Crowley mostra que estes músicos figuraram apenas uma vez no "top 100" anual de rádio do Brasil entre 2000 e 2013.
"Clima de rodeio", mais conhecida pelo refrão "Galera de caubói", estourou em 2002. A faixa foi trilha de Rodrigo “Caubói”, vencedor do 2º BBB. “Antes do programa, logo ao lançar a música, a gente foi ensinar o refrão em um show e todo mundo cantava. Eu fiquei arrepiada. Todo mundo com a mão para cima. Ali eu senti que era uma música diferente. Quando vi tocando no 'Big Brother' foi muito marcante. Foi incrível ver a música crescendo”, ela lembra.
Sertanejo 'poluído'
"Eu já experimentei a fama, sei como é ficar naquele pique. Hoje eu tenho outros valores", diz a cantora que mora em Colatina (ES). A capixaba de 36 anos, solteira, alterna trabalhos na música com marketing digital - quer abrir uma empresa para expandir os negócios. Por outro lado, no campo artístico, ela diz ter desistido do "tino comercial". Ela tira o chapéu de "cowgril" e critica a música sertaneja atual.
Jameika, voz do hit 'Clima de rodeio' (Foto: Yuri Barichivich/G1)Jameika, voz do hit 'Clima de rodeio' (Foto: Yuri
Barichivich/G1)
"Hoje o mercado sertanejo está muito poluído. As letras deixam a desejar, há mais opções para quem quer bagunça. Estou muito crítica em relação a isso. Você vai fazer alguma parceria e tem que entrar em consenso. Acaba deixando suas verdades de lado", diz Jameika.
Ela está em carreira solo e tem dois projetos. O primeiro é um show acústico de MPB: "Quero fazer homenagem a artistas que fizeram história, como Jair Rodrigues, Renato Russo, Elis Regina e Cazuza. É algo mais voltado à família. Estou escolhendo a dedo, só letras em que eu acredito", diz. O segundo é um álbum de canções próprias. "São músicas voltadas para autoajuda, sobre desenvolvimento pessoal. Algo mais pessoal e intimista", define.
Duas galeras de caubói
Jameika lançou o hit com o grupo Dallas Company em 2002. Um ano depois, com a banda em evidência devido ao hit, os músicos romperam com o empresário: “Não nos entendíamos em relação ao contrato, ao percentual das coisas. Por orgulho, ninguém baixou a guarda. Em uma reunião acabou tudo”, ela conta. O racha gerou uma situação inusitada. De um lado ficou o empresário, dono do nome original da banda, que contratou outros músicos. De outro, Jameika e a formação original, que passaram a tocar sob o nome Dallas Country.
Eu sonhava com o sucesso, com a fama. Mas conheci o outro lado e vi aonde o ser humano chega por dinheiro. Passa por cima de tudo"
Jameika, ex-Dallas Company
A confusão deixou o grupo em situação tensa. “Todo mundo estava imaturo para lidar com o sucesso. Houve muito desgaste. Eu achava que tinha que deixar aquilo para trás. Era difícil vender shows. O número de apresentações foi caindo e eu fui fazendo outras coisas”, diz sobre a decisão pela saída. Ela chegou a se apresentar em dupla com o ex-companheiro de banda Jam. Agora, segue solo e sem grande ambição. A banda Dallas Company, com novos integrantes, segue na ativa.
Sucesso não é só questão de capacidade musical, segundo Jameika. “Musicalmente falando todo mundo era muito competente. Mas se a gente não estiver preparado emocionalmente, é complicado."
Cantora capixaba Jameika (Foto: Yuri Barichivich/G1)Cantora capixaba Jameika (Foto: Yuri Barichivich/G1)
Depressão e lições
As brigas com o empresário e a tensão na banda, que não conseguiu se acertar na carreira depois de um momento promissor, afetaram a cantora."Aquilo me deu depressão mesmo. Fiquei deprimida e fiz terapia por mais de um ano. Agora tenho estado cada vez melhor. Tenho até vontade de ser terapeuta. Por isso esse projeto de fazer músicas de autoajuda”, planeja.
“Eu sonhava com o sucesso, com a fama. Mas conheci o outro lado e vi aonde o ser humano chega por dinheiro. Passa por cima de tudo. Você é um produto e tem que abrir mão de muita coisa. Passar o Natal em família, ir ao casamento de um amigo. Eu nunca podia ter um compromisso. Era trabalho, trabalho, trabalho. Hoje eu não aguentaria. Não tem mais essa loucura. Não abro mão de coisas importantes para mim em nome da fama, essa é a diferença. A maioria fica seguindo o mercado, o que está fazendo sucesso. O que aconteceu comigo foi que eu cansei de trabalhar para mercado. Quero trabalhar com o que eu acredito. Se vai tocar em rádio ou não, não sei”, diz.
Jameika, que foi vocalista do Dallas Company, banda que estourou em 2002 com o refrão 'Alô, galera de caubói' (Foto: Yuri Barichivich/G1)Jameika, que foi vocalista do Dallas Company, banda que estourou em 2002 com o refrão 'Alô, galera de caubói' (Foto: Yuri Barichivich/G1)

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