População indígena no país corre 'maior perigo do que nunca de desaparecer', afirma antropólogo.
O Mato Grosso [do Sul] deveria mudar de nome para “mato ralo, mato morto ou ex-mato” e os índios que lá se encontram “vivem numa espécie de Faixa de Gaza brasileira”, afirmou o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro na tarde deste sábado (2) na 12ª Festa Literária de Paraty (Flip). Com suas críticas, frases de impacto (“no Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”) e assumidamente pessimista, ele foi bastante aplaudido no debate “Tristes trópicos”, do qual participou o também antropólogo Beto Ricardo. No evento, este foi o segundo e último encontro dedicado à questão indígena. As manifestações na tenda dos autores foram positivas o tempo inteiro.
Viveiros de Castro ganhou aplausos já em sua primeira exposição. “Os índios estão sofrendo uma espécie de ofensiva final. É triste ver que estamos assistindo hoje literalmente a um processo de devagastação do país, que está sendo arrasado”, disse. “O exemplo mais dramático talvez seja o estado do Mato Grosso do Sul, que foi literalmente transformado num campo sem nada, a custa de que se possa plantar ali, soja, cana, e botar gado para exportação, para alimentar os países capitalistas centrais.”
Neste momento, veio a brincadeira de que o estado deveria ser rebatizado e a menção de que existem “semelhanças perturbadoras com o povo palestino no Oriente Médio”. Falou, então, que o território indígena foi sendo reduzindo progressivamente e que houve “todo tipo de violência”. Também descreveu que ocorreram bombardeios feitos pelos militares no passado, embora “não tão sofisiticados” quanto os de Israel.
“Mas o estado de Israel ao menos tem o direito, uma pretensão histórica e uma relação com aquele lugar. Acho que é um genocídio projetado e realizado (em Israel), e tem essa relação história. Mas os brancos que estão no Mato Grosso [do Sul] matando os guaranis não têm nenhuma relação histórica. Não há, literalmente, desculpa.”
Na opinião do antropólogo, a população indígena no país corre “maior perigo do que nunca de desaparecer, de que passe um trator por cima, de que passe uma hidrelétrica por cima”. Por outro lado, os índios já passaram pelo que ele chama de fim do mundo.
“Para discutir o fim do mundo, temos de consultar os grandes especialistas no assunto, que são os índios. O mundo deles acabou há cinco séculos, e eles aprenderam a viver num mundo diferente. Agora, estão vendo o céu cair em cima da cabeça deles. Mas, desta vez, vai cair em cima de nós todos.”
De acordo com ele, quando “o barco afundar, aí só vão nadar os índios. “É bom que a gente se prepare para ir virando índio, antes que seja tarde.”
Belo Monte e ‘vergonha do Brasil‘
Beto Ricardo afirmou que os progressos conseguidos pelos índios nas últimas décadas, em especial depois da constituição de 1988, parecem ameaçados. “O negócio agroexportador está querendo mais terras, e os índios estão ‘atrapalhando’”, comentou. De acordo com ele, atualmente há lobby no congresso em favor “iniciativas legislativas para fazer retroceder esse direito”. “Estão transformando os direito indígenas em barganha com oligarquias regionais.”
O convidado falou ainda sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. “É uma espécie de lobo em pele de cordeiro, uma espécie de cavalo de Troia, digamos assim, e os índios estão percebendo isso.”
Ricardo ainda desafiou os presentes a tentarem lembrar nomes de umas poucas etnias indígenas – para ele, está aí um indício do interesse raro ou inexistente pelo assunto. Sugeriu, de brincadeira, que as pessoas estudem e decorem os nomes desses etnias da mesma forma que fazem com as capitais do Brasil.
Viveiros de Castro avançou no tom crítico à usina hidrelétrica. “Nós sabemos que Belo Monte é uma picaretagem econômica”, começou. “Não chega a ser exatamente um segredo que Belo Monte não foi feita para produzir energia. Entenda-se como quiser. Belo monte foi feita para os empreiteiros fizessem Belo Monte. Para que dívida de campanhas fossem pagas dando serviço, oportunidade de lucro para grandes empreiteiras. Tudo isso com nosso dinheiro.”
Em suas considerações finais, ganhou novos aplausos ao dizer que foi estudar os índios porque queria “fugir do Brasil” e que sente vergonha do país. “O que torna realmente uma pessoa brasileira ou francesa ou americana são menos os motivos de orgulho. O que nos torna realmente brasileiros são as coisas que nos envergonham”, falou, destacando razões como a exploração dos negros africanos (“o Brasil foi último país do mundo a abolir a escravidão, com exceção da Mauritânia”), o descaso com educação e a má distribuição de renda.
“Se eu fosse francês, teria vergonha do que a França fez na Argélia, na Indochina, na África. Ou seja, ser brasileiro não é especialmente vergonhoso. Ser de qualquer país é vergonhoso, porque todo país é construído em cima da destruição de povos”, explicou.
“No meu caso, me sinto brasileiro quando vejo o modo como é tratado um negro no Brasil. Aí, eu me sinto brasileiro, porque isso realmente acontece no meu país – e eu não sou capaz de fazer nada.”
Viveiros de Castro ganhou aplausos já em sua primeira exposição. “Os índios estão sofrendo uma espécie de ofensiva final. É triste ver que estamos assistindo hoje literalmente a um processo de devagastação do país, que está sendo arrasado”, disse. “O exemplo mais dramático talvez seja o estado do Mato Grosso do Sul, que foi literalmente transformado num campo sem nada, a custa de que se possa plantar ali, soja, cana, e botar gado para exportação, para alimentar os países capitalistas centrais.”
Neste momento, veio a brincadeira de que o estado deveria ser rebatizado e a menção de que existem “semelhanças perturbadoras com o povo palestino no Oriente Médio”. Falou, então, que o território indígena foi sendo reduzindo progressivamente e que houve “todo tipo de violência”. Também descreveu que ocorreram bombardeios feitos pelos militares no passado, embora “não tão sofisiticados” quanto os de Israel.
“Mas o estado de Israel ao menos tem o direito, uma pretensão histórica e uma relação com aquele lugar. Acho que é um genocídio projetado e realizado (em Israel), e tem essa relação história. Mas os brancos que estão no Mato Grosso [do Sul] matando os guaranis não têm nenhuma relação histórica. Não há, literalmente, desculpa.”
Na opinião do antropólogo, a população indígena no país corre “maior perigo do que nunca de desaparecer, de que passe um trator por cima, de que passe uma hidrelétrica por cima”. Por outro lado, os índios já passaram pelo que ele chama de fim do mundo.
“Para discutir o fim do mundo, temos de consultar os grandes especialistas no assunto, que são os índios. O mundo deles acabou há cinco séculos, e eles aprenderam a viver num mundo diferente. Agora, estão vendo o céu cair em cima da cabeça deles. Mas, desta vez, vai cair em cima de nós todos.”
De acordo com ele, quando “o barco afundar, aí só vão nadar os índios. “É bom que a gente se prepare para ir virando índio, antes que seja tarde.”
Belo Monte e ‘vergonha do Brasil‘
Beto Ricardo afirmou que os progressos conseguidos pelos índios nas últimas décadas, em especial depois da constituição de 1988, parecem ameaçados. “O negócio agroexportador está querendo mais terras, e os índios estão ‘atrapalhando’”, comentou. De acordo com ele, atualmente há lobby no congresso em favor “iniciativas legislativas para fazer retroceder esse direito”. “Estão transformando os direito indígenas em barganha com oligarquias regionais.”
O convidado falou ainda sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. “É uma espécie de lobo em pele de cordeiro, uma espécie de cavalo de Troia, digamos assim, e os índios estão percebendo isso.”
Ricardo ainda desafiou os presentes a tentarem lembrar nomes de umas poucas etnias indígenas – para ele, está aí um indício do interesse raro ou inexistente pelo assunto. Sugeriu, de brincadeira, que as pessoas estudem e decorem os nomes desses etnias da mesma forma que fazem com as capitais do Brasil.
Viveiros de Castro avançou no tom crítico à usina hidrelétrica. “Nós sabemos que Belo Monte é uma picaretagem econômica”, começou. “Não chega a ser exatamente um segredo que Belo Monte não foi feita para produzir energia. Entenda-se como quiser. Belo monte foi feita para os empreiteiros fizessem Belo Monte. Para que dívida de campanhas fossem pagas dando serviço, oportunidade de lucro para grandes empreiteiras. Tudo isso com nosso dinheiro.”
Em suas considerações finais, ganhou novos aplausos ao dizer que foi estudar os índios porque queria “fugir do Brasil” e que sente vergonha do país. “O que torna realmente uma pessoa brasileira ou francesa ou americana são menos os motivos de orgulho. O que nos torna realmente brasileiros são as coisas que nos envergonham”, falou, destacando razões como a exploração dos negros africanos (“o Brasil foi último país do mundo a abolir a escravidão, com exceção da Mauritânia”), o descaso com educação e a má distribuição de renda.
“Se eu fosse francês, teria vergonha do que a França fez na Argélia, na Indochina, na África. Ou seja, ser brasileiro não é especialmente vergonhoso. Ser de qualquer país é vergonhoso, porque todo país é construído em cima da destruição de povos”, explicou.
“No meu caso, me sinto brasileiro quando vejo o modo como é tratado um negro no Brasil. Aí, eu me sinto brasileiro, porque isso realmente acontece no meu país – e eu não sou capaz de fazer nada.”
CombateRacismoAmbiental, 03-08-2014.
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