sábado, 2 de agosto de 2014

Quem é a mulher de preto?

Uma figura misteriosa percorre as estradas dos EUA e intriga a mídia e as redes sociais.

Por Raquel Seco* 

A foto está sempre desfocada. Ninguém consegue parar a mulher de preto – séria, de roupas pretas e óculos no alto da cabeça, um cajado e um carrinho de metal cheio de pacotes. Nos últimos dias, milhares de pessoas vêm especulando sobre a identidade e os motivos de uma desconhecida que percorria as estradas dos Estados Unidos em silêncio: uma ativista, uma peregrina, uma mãe de luto, uma imitadora de Forrest Gump, uma artista? A mídia e as redes sociais publicaram, de vez em quando, sua imagem em movimento.

A andarilha alimentou as especulações porque não falava. A aura de mistério a transformou, primeiramente, em um fantasma. Depois, em uma espécie de santa virtual. Os seguidores da comunidade no Facebook Onde está a misteriosa mulher de preto? (64.000 até o início desta quinta-feira) a veneram: “Você viu a mulher de preto vagando na sua vizinhança? Queremos saber! Para onde ela vai? Qual é a sua missão?”. Desde 18 de julho, eles vêm reunindo fotos e até criaram um mapa para seguir a pista da misteriosa figura. Às vezes, as pessoas a recebem com aplausos. Quando falam para as emissoras de televisão, alguns se emocionam.

A polícia pede para que respeitem a privacidade da mulher se alguém a avistar pela região. Ela disse aos policiais que quer que a deixem em paz. “Quando se vê uma mulher assim... ela nos transmite esperança, faz com que nos sintamos bem”, disse uma mulher à BBC.

Veterana do exército

Nesta semana começaram a surgir dúvidas e o personagem etéreo se tornou um pouco mais terreno. Segundo a polícia de Winchester (no Estado da Virginia, no leste dos Estados Unidos), ela afirma que esta é sua cidade-natal e é ali que pretende ficar. “A polícia pede para que respeitem a privacidade da mulher se alguém a avistar pela região.

Ela disse aos policiais que quer que a deixem em paz”, diz um comunicado divulgado na internet. Um homem identificado como Raymond Poles afirmou à agência Reuters que a andarilha é sua irmã Elizabeth, de 56 anos. Segundo ele, a mulher é uma veterana do Exército norte-americano que desapareceu em Phenix City (no Alabama, a mais de 1.000 quilômetros de Winchester) meses depois de ficar viúva e perder o pai.

Muitas pessoas continuam se aferrando ao símbolo. “Ela é uma grande inspiração”, “Estou rezando por ela”, “Se pudesse, andaria com ela”, são algumas frases ditas por internautas. O jornalista Paul Salopek escreveu que andar é “um ato de fé” (“Cada passo que damos é uma queda que detemos a tempo, um fracasso que evitamos, um desastre que driblamos”). A foto, de tão tremida, se transformou no que cada um interpreta dela.
* Raquel Seco escreve para o El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.

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