terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sobre filmes, loucuras e viagens

‘Life's better with company. Everybody needs a co-pilot.' [A vida é melhor com companhia. Todo mundo precisa de um co-piloto]. Ryan Bingham, Up in the air.

‘Ganhei um prêmio de US$ 1 milhão e estou indo buscá-lo’. ‘Você não ganhou’. ‘Ganhei’. ‘Não ganhou’. ‘Ganhei’. ‘Então eu vou com você’. O diálogo não é exatamente assim, mas sintetiza o ponto de partida (e diria, a essência) do filme Nebraska, do roteirista e diretor Alexander Payne.

Nele, o ator Bruce Dern (em ótima atuação) interpreta Woody Grant, um velhinho alcoólatra que acredita estar milionário graças a um anúncio de assinatura de revista. Mesmo com todos repetindo que o tal prêmio não existe, ele decide ir a pé de Billings (Montana) até Lincoln, capital do Nebraska, para resgatar o dinheiro. Cerca de 1.400 quilômetros, apenas. O filho David (Will Forte), por fim, aceita levá-lo de carro – e se torna ‘louco’ por tabela. ‘Qual é o mal em deixá-lo ter sua fantasia por mais alguns dias?’, argumenta com a mãe.

Começa então uma jornada por meio a estradas, trilhos e campos. Cidades pequenas, casas antigas, bares e almoços de família. (A paisagem interiorana – e de certa forma, decadente – fica ainda mais bela em preto-e-branco).

O devaneio é de Woody, mas David está lá para defendê-lo dos ‘amigos’ interesseiros e das rixas com os parentes, das chacotas e comentários hostis. Claro, às vezes ele se cansa e tenta desistir. ‘Pai, você não ganhou dinheiro algum, só estou aqui para passar tempo com você’. ‘Vamos em frente, tome uma cerveja comigo. Seja alguém!’. Como recusar uma intimação dessas?

Um estranho no ninho

A história é outra, os tempos também. Um jovem Jack Nicholson interpreta Randle Patrick McMurphy, um prisioneiro que simula estar insano (para fugir do trabalho) e acaba em um hospital psiquiátrico. No entanto, ele não se adapta à rotina e à falta de autonomia do lugar, e logo planeja fugir. Não sem antes questionar regras, fazer badernas e conquistar os demais pacientes com seu bom humor e irreverência.

Com o passar dos dias, estabelece um laço especial com Chief (Will Sampson), com quem divide os planos de uma vida nova no Canadá. Mais que simples colegas, se tornam amigos, cúmplices, poços secretos de ‘razão’ em meio ao controle rígido dos funcionários. Chief hesita, não sabe se é o momento certo para partir, mas a proposta de Randle permanece firme: ‘Canadá?’

Dia dos pais

Todos esses pensamentos me ocorreram no último domingo. Eu e meu pai passamos o dia na sala de casa, estreando o aparelho DVD que ele havia ganhado de presente. Em meio a shows do Billy Joel e Bread, surgiu o convite para assistir ‘Um estranho no ninho’. Meu pai fala desse filme desde sempre. E da vontade de revê-lo. As (boas) lembranças da época do lançamento sempre acabavam em indicações: ‘você precisa assistir também, minha filha’.  ‘Então vamos’, respondi na hora.

O filme estava na estante há anos, ainda com o plástico. Não conversamos muito durante a exibição, no máximo umas espiadas para ver se o outro tinha dormido. Mas sabíamos ‘juntos’. Essa sensação me trouxe várias lembranças, entre elas as viagens que fizemos de carro, por ai. (Pegar a estrada certamente está no meu TOP 5 ‘Coisas legais para fazer com os pais’).

E acabei chegando ‘em’ Nebraska. Aos ‘chatos’ que insistiam em repetir ‘não existe prêmio nenhum’, que era ‘loucura’. Não importa. Perde-se tempo demais procurando razões, às vezes. ‘Life is a journey, not a destination’ [A vida é uma jornada, não um destino], já cantava o pai da Liv Tyler. E se tiver alguém com a gente, melhor. Seja para rever um filme no domingo à tarde, para buscar um prêmio imaginário ou mesmo para fugir do hospício. 

Patrícia AzevedoÉ graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação complementar em Ciências Sociais. Especialista em Gestão Estratégia da Comunicação pela PUC-Minas. Foi bailarina do Grupo Experimental 1º Ato e integrou a equipe do programa ‘Livro Aberto’ (atual ‘Imagem da Palavra’) da Rede Minas de Televisão. Atuou também, como jornalista, nas assessorias de comunicação da UFMG, do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, Assembleia Legislativa de Minas Gerais e Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar. É repórter do portal Dom Total desde setembro de 2008. 

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