Pode-se dizer que o início do filme é lento demais para os mais habituados ao gênero.
Por Nayara Reynaud
SÃO PAULO (Reuters) - Nos últimos anos, o gênero de ação tem investido – e lucrado muito – nos heróis de meia-idade, desde que Liam Neeson mostrou seu lado de “bravo protetor” em “Busca Implacável” (2008).
Vide a turma, cada vez maior, do “tiro, pancada e bomba” que se reúne bienalmente na franquia “Os Mercenários”. No entanto, isso não é novo: Charles Bronson se firmou como o grande astro de ação nos anos 1970, quando estava na casa dos 50 anos.
Outro exemplo deste diferente arquétipo, só que na TV, foi a série “The Equalizer” (1985-1989), produzida pela CBS e estrelada por Edward Woodward, que interpretava um ex-agente secreto que, ao resolver se aposentar, se transformou em um justiceiro que vende seus serviços pelos classificados.
A atração oitentista, por sua vez, ganhou um remake cinematográfico, “O Protetor” (2014), que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta (25), um dia antes da estreia norte-americana.
A adaptação dirigida por Antoine Fuqua, traz à frente Denzel Washington, cuja parceria anterior com o diretor, em “Dia de Treinamento” (2001) rendeu ao ator seu segundo Oscar. Ele que, há uma década, já era o experiente guardião que quebrava tudo em “Chamas da Vingança” (2004), repete a dose, porém, mais “badass” do que nunca na pele de Robert McCall.
No entanto, por mais que o espectador desconfie, mesmo com a gravidade que Denzel coloca no personagem, só conhecemos suas habilidades no segundo ato do filme, assim como um pouco do seu passado. Pode-se dizer que o início é até lento demais para os mais habituados ao gênero.
O longa passa mais de meia hora apresentando a cronometrada rotina – acentuada visualmente com os inúmeros planos em detalhe de relógios – do seu protagonista, que de tão meticulosa beira o TOC (transtorno obsessivo compulsivo).
Funcionário de uma loja de materiais de construção, jardinagem e afins, McCall opta pela discrição e o trabalho duro. Viúvo e insone, ele passa as madrugadas em uma lanchonete de esquina, que parece copiada dos quadros de Edward Hooper – especialmente “Nighthawks” e “Automat” –, tomando seu chá e lendo alguns clássicos.
Os livros, por sinal, marcam claramente os atos da trama. A solidão do personagem, mostrada no primeiro ato, é consonante à do pescador de “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway; enquanto “O Homem Invisível”, de H. G. Wells, aparece no final, em uma das poucas cenas do filme que faz homenagem à série que o originou.
Mas é na citação indireta a Dom Quixote que se introduz a segunda parte do longa, na qual o protagonista torna-se também um cavaleiro andante, que persegue seus próprios moinhos de vento, ao buscar uma justiça utópica – embora aqui ela esteja mais próxima de se concretizar, com um herói tão eficiente.
Tudo começa quando a sua companheira de bancada da lanchonete, a jovem – com certeza, menor de idade – prostituta Teri/Alina (Chloë Grace Moretz, tão mal aproveitada que some por mais de uma hora durante o filme), é brutalmente espancada pelo seu cafetão russo (David Meunier).
McCall vai atrás dele e, não conseguindo se acertar financeiramente com ele, investe contra o bandido e seus comparsas, dando inicio às cenas de ação na produção, que são graficamente fortes, em sua sangrenta e incomum violência.
Como o roteiro de Richard Wenk – “16 Quadras” (2006) e “Os Mercenários” (2012) – não traz grandes novidades, não é complicado supor que logo ele iniciará sua saga como justiceiro.
Ainda mais quando o chefe da máfia manda da Rússia um perverso assassino, chamado Teddy (Marton Csokas, que constrói um vilão à altura), para “consertar” o seu esquema em Boston, que foi abalado depois da chacina.
Antoine Fuqua faz questão de caracterizar seu protagonista sempre num tom acima, seja com sua capacidade de “parar o tempo”, usando efeitos já vistos nos dois “Sherlock Holmes” (2009 e 2011) do Guy Richie, ou nas suas habilidades à la MacGyver – o espectador, provavelmente, vai pensar em 1001 maneiras de se defender toda vez que entrar em uma loja de material para construção a partir de agora.
No entanto, o ápice é a clássica cena da caminhada inabalável do herói com tudo explodindo atrás dele, que aqui ganha uma duração ainda maior do que o habitual e mais impacto na exibição em IMAX.
“O Protetor” só não cai no ridículo com isso, porque Denzel faz um McCall bem convincente, dividido entre a justiça e seu ímpeto violento.
A câmera do fotógrafo Mauro Fiore – vencedor do Oscar por “Avatar” (2009) –, viajando entre gruas e steadicams, brinca com o foco e o desfoque, evidenciando a dualidade dos pensamentos e conceitos do personagem, em pleno dilema moral. Este elemento, somado ao bom entretenimento criado pela direção de Fuqua, torna o filme – cuja sequência é quase certa –, ao menos, um dos mais interessantes desta safra.
Clique aqui e veja o trailler e onde o filme está em cartaz!
SÃO PAULO (Reuters) - Nos últimos anos, o gênero de ação tem investido – e lucrado muito – nos heróis de meia-idade, desde que Liam Neeson mostrou seu lado de “bravo protetor” em “Busca Implacável” (2008).
Vide a turma, cada vez maior, do “tiro, pancada e bomba” que se reúne bienalmente na franquia “Os Mercenários”. No entanto, isso não é novo: Charles Bronson se firmou como o grande astro de ação nos anos 1970, quando estava na casa dos 50 anos.
Outro exemplo deste diferente arquétipo, só que na TV, foi a série “The Equalizer” (1985-1989), produzida pela CBS e estrelada por Edward Woodward, que interpretava um ex-agente secreto que, ao resolver se aposentar, se transformou em um justiceiro que vende seus serviços pelos classificados.
A atração oitentista, por sua vez, ganhou um remake cinematográfico, “O Protetor” (2014), que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta (25), um dia antes da estreia norte-americana.
A adaptação dirigida por Antoine Fuqua, traz à frente Denzel Washington, cuja parceria anterior com o diretor, em “Dia de Treinamento” (2001) rendeu ao ator seu segundo Oscar. Ele que, há uma década, já era o experiente guardião que quebrava tudo em “Chamas da Vingança” (2004), repete a dose, porém, mais “badass” do que nunca na pele de Robert McCall.
No entanto, por mais que o espectador desconfie, mesmo com a gravidade que Denzel coloca no personagem, só conhecemos suas habilidades no segundo ato do filme, assim como um pouco do seu passado. Pode-se dizer que o início é até lento demais para os mais habituados ao gênero.
O longa passa mais de meia hora apresentando a cronometrada rotina – acentuada visualmente com os inúmeros planos em detalhe de relógios – do seu protagonista, que de tão meticulosa beira o TOC (transtorno obsessivo compulsivo).
Funcionário de uma loja de materiais de construção, jardinagem e afins, McCall opta pela discrição e o trabalho duro. Viúvo e insone, ele passa as madrugadas em uma lanchonete de esquina, que parece copiada dos quadros de Edward Hooper – especialmente “Nighthawks” e “Automat” –, tomando seu chá e lendo alguns clássicos.
Os livros, por sinal, marcam claramente os atos da trama. A solidão do personagem, mostrada no primeiro ato, é consonante à do pescador de “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway; enquanto “O Homem Invisível”, de H. G. Wells, aparece no final, em uma das poucas cenas do filme que faz homenagem à série que o originou.
Mas é na citação indireta a Dom Quixote que se introduz a segunda parte do longa, na qual o protagonista torna-se também um cavaleiro andante, que persegue seus próprios moinhos de vento, ao buscar uma justiça utópica – embora aqui ela esteja mais próxima de se concretizar, com um herói tão eficiente.
Tudo começa quando a sua companheira de bancada da lanchonete, a jovem – com certeza, menor de idade – prostituta Teri/Alina (Chloë Grace Moretz, tão mal aproveitada que some por mais de uma hora durante o filme), é brutalmente espancada pelo seu cafetão russo (David Meunier).
McCall vai atrás dele e, não conseguindo se acertar financeiramente com ele, investe contra o bandido e seus comparsas, dando inicio às cenas de ação na produção, que são graficamente fortes, em sua sangrenta e incomum violência.
Como o roteiro de Richard Wenk – “16 Quadras” (2006) e “Os Mercenários” (2012) – não traz grandes novidades, não é complicado supor que logo ele iniciará sua saga como justiceiro.
Ainda mais quando o chefe da máfia manda da Rússia um perverso assassino, chamado Teddy (Marton Csokas, que constrói um vilão à altura), para “consertar” o seu esquema em Boston, que foi abalado depois da chacina.
Antoine Fuqua faz questão de caracterizar seu protagonista sempre num tom acima, seja com sua capacidade de “parar o tempo”, usando efeitos já vistos nos dois “Sherlock Holmes” (2009 e 2011) do Guy Richie, ou nas suas habilidades à la MacGyver – o espectador, provavelmente, vai pensar em 1001 maneiras de se defender toda vez que entrar em uma loja de material para construção a partir de agora.
No entanto, o ápice é a clássica cena da caminhada inabalável do herói com tudo explodindo atrás dele, que aqui ganha uma duração ainda maior do que o habitual e mais impacto na exibição em IMAX.
“O Protetor” só não cai no ridículo com isso, porque Denzel faz um McCall bem convincente, dividido entre a justiça e seu ímpeto violento.
A câmera do fotógrafo Mauro Fiore – vencedor do Oscar por “Avatar” (2009) –, viajando entre gruas e steadicams, brinca com o foco e o desfoque, evidenciando a dualidade dos pensamentos e conceitos do personagem, em pleno dilema moral. Este elemento, somado ao bom entretenimento criado pela direção de Fuqua, torna o filme – cuja sequência é quase certa –, ao menos, um dos mais interessantes desta safra.
Clique aqui e veja o trailler e onde o filme está em cartaz!
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