segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Deus se comunica pela palavra

Quando ouvimos os relatos de conversões, entendemos esse 'mecanismo' da mudança do coração.
Por Luiz Carlos de Oliveira

Aos tomarmos a Bíblia nas mãos ou ouvir sua leitura, sentimo-nos diante de um livro precioso, de um texto conservado há tanto séculos. Ela está entre os grandes livros dos quais se diz: ‘As grandes religiões têm um livro sagrado’. Esse livro é tomado com respeito. Nele se procuram os ensinamentos ou se serve deles para apoiar as idéias, pregações e comportamentos. Não podemos nivelar estes livros.

Há uma diferença: A Palavra de Deus não é o Livro. É guardada por ele. Ela é como o sacrário que guarda um precioso tesouro que é a comunicação de Deus com as pessoas. A pior idolatria é ter esse Livro como um objeto que domino, explico e uso. Este modo de agir é um tipo de idolatria. É idolatria porque nos servimos da Palavra e não servimos à Palavra.

Por que a diferença da Bíblia e dos outros livros? Ela está unida ao seu autor que é o próprio Deus que deu seu Espírito para guiar os escritores que escreveram de modo humano o que é divino. A Palavra é a comunicação de Deus. Está unida a Deus do qual ela provém. É o modo que Deus tem para chegar a nós. A Palavra si identifica com o Filho que provém do Pai, como lemos em S. João: “No princípio era o Verbo (a Palavra) e Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava com Deus... Veio para o que era seu e os seus não O receberam. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos sua glória, como a glória do Unigênito do Pai” (Jo 1,111.14). A Palavra é Jesus.

O único modo de Deus se comunicar é a Palavra que vai chegar a seu ponto máximo em Jesus. Quem O ouve e Nele crê, tem a Vida eterna. Jesus não é o Livro santo. É a Palavra de Deus. O Livro santo mostra-nos como essa Palavra pode ser compreendida. Temos aí seu lado humano, natural, simbólico e acessível. A Palavra nos introduz no Mistério do Deus que se comunica e convida à comunhão de vida. Ele tem uma força de vida e um caminho de compreensão.

Palavra celebrada

Em todos os sacramentos temos necessariamente a leitura de um trecho da Sagrada Escritura, Palavra de Deus, que nos esclarece sobre o sentido do sacramento celebrado. E vale para todos os sacramentos. A liturgia, por sua natureza exige a leitura da Palavra.
Sem ela está incompleto. Por que? É ela que proclama a presença do Deus que salva e Se comunica naquele sacramento. O texto tem caráter pedagógico de ensinamento. É uma catequese. Não é o fundamental.

É o sacramento da presença, como a dizer: o Deus que Se comunica nesse sacramento está presente, dá-nos o Filho que pelo Espírito nos santifica de acordo com o sacramento celebrado. Os símbolos sacramentais (os ritos as matérias usadas por ex. água, óleo, pão) indicam o modo como acontece em nos a Redenção. A Palavra celebrada é Palavra atualizada. Faz-se memória e atua-se o mistério.

Palavra anunciada

É belo ouvir as notícias sobre as maravilhas que a Palavra de Deus realiza. Ao encontrar-se com a Palavra, encontra-se com o Deus que a pronuncia. É de Deus que vem a Palavra. Quando ouvimos os relatos de conversões, ficamos por entender esse “mecanismo” da mudança do coração que muda também a vida. O que provoca a conversão.

Sabemos que é uma obra de Deus. Quem ouve a Palavra não se encontra com um texto, mas com uma Pessoa viva chamada Jesus Cristo. A palavra ouvida conduz à Palavra Viva. O anúncio da Palavra não é só um conteúdo que se transmite, mas é o próprio Cristo que se faz presente e toca os corações e gera novos filhos para o Reino.
A12, 31-08-2014.
*Luiz Carlos de Oliveira é padre.

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