segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Igreja Espanhola: uma Igreja reformada e combativa

Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R. , 25 de Agosto de 2014 às 08h40. Atualizada em 25 de Agosto de 2014 às 09h03.
HISTÓRIA DA IGREJA
NA AMÉRICA LATINA  

Espanha na Época da Colonização
Os europeus começaram a chegar ao continente latino-americano em fins do século XV e início do século XVI. Naquele tempo o movimento protestante ainda avançava pela Europa, ganhando terreno em regiões até então colocadas sobre a tutela da Igreja. Mas, Espanha e Portugal foram dois países que pouco sofreram com o avanço protestante, pois seus reis permaneceram fiéis ao papa e contavam com ele para legitimar o seu processo expansionista.
Como estava organizada a sociedade espanhola na época do descobrimento:
População:
Era formada por aproximadamente 8 milhões de pessoas, contando entre elas cerca de 500 mil judeus e 1 milhão de muçulmanos e descendentes. Esta população concentrava-se mais na zona rural, com índice de até 80%, variando de região para região.
Distribuição nas diversas classes sociais:
Assim estavam organizadas as principais classes sociais na Espanha que mantinha ainda muitos traços da civilização medieval: 
- 3% classe média;
- 75 mil eclesiásticos (1% da população) sendo 2 mil do alto Clero;
- 120-140 mil religiosos;
- 2% de aristocratas;
Sociedade espanhola
Era extremamente desigual e nela apenas 2% da população concentravam em suas mãos aproximadamente 97% das terras e das riquezas. A Igreja tinha uma situação bastante privilegiada, contando com uma renda anual de 6 milhões de ducados (1 ducado correspondia a 20 dias de trabalho de um peão ou 8 dias de um trabalhador especializado).
Estruturação social:
Distribuição das classes sociais na Espanha do século XVI: 
- Aristocracia (50 famílias);
- Clero;
- Classe Média;
- Camponeses;
Foto de: reprodução.
Espanha Medieval
No início da idade moderna a Espanha ainda conservava fortes traços da Civilização Medieval. 

Porque a Espanha colonizou o “Novo Mundo”?
Esta é uma pergunta que muitos historiadores fizeram, mas a questão continua sendo motivo de polêmica. Entretanto, podemos afirmar que o catolicismo espanhol era diferente do restante da Europa. Era de uma “fogosidade” maior, pois a Península enfrentou quase 8 séculos de luta contra os “infiéis”. O catolicismo espanhol era marcado pelo martírio e pelo Espírito de Cruzada.
A tão necessária reforma eclesiástica aconteceu na Espanha com quase um século de antecedência do que no resto do continente. Ainda que a presença da Espanha na América tenha coincidido com a crise europeia trazida pela Reforma Protestante, isto pouco abalou a Península Ibérica como um todo. Além disso, os teólogos do século XVI não abandonaram o ideal de “Orbis Christianus”, ou seja, a constituição de um mundo genuinamente cristão-católico com a união do poderes da Igreja com o estado espanhol. Em vez de simplesmente coagir os infiéis a abraçarem a fé, motivava-se os batizados a conservá-la.
A perseguição aos judeus, da qual ainda hoje muito se fala, era obra do “Braço Secular”, devido aos interesses econômicos. O cristão e, sobretudo, o missionário ou colonizador que passasse à América devia possuir o "estatuto de limpeza ou pureza de sangue" e não podia, em hipótese alguma, ter descendência ou ligação com qualquer raça de infiéis.
Como já foi dito acima, permanecia ainda o ideal de cruzada, sendo que a conquista de Granada em 1492, último reduto muçulmano na Espanha, coincidiu com o descobrimento da América e fez aumentar este mesmo espírito. 
Foto de: reprodução.
Reconquista Espanhola
A luta contra os infiéis preparou 
a Espanha para as grandes viagens
e conquistas ultramarinas.
A Igreja Espanhola
Era uma Igreja reformada. Seus bispos deviam ser espanhóis de sangue e residir em suas dioceses. Na vida interna da Igreja notava-se uma grande influência dos reis católicos. Grandes figuras do episcopado como Hermando de Talavera, Diego de Deza e Francisco Jiménez de Cisneros davam o tom da conduta e a linha de caminhada da Igreja, mas também, como era muito comum nesta época, havia um grande espírito nacionalista, e por ele a Igreja era mais afinada com os reis do que com o próprio papa, considerado muito distante da realidade e da cultuara espanhola. 
Como a Reforma Eclesiástica agiu na Espanha?
Os reis Carlos I (1516-1552) e Felipe II (1552-1598) procuraram pôr em prática os decretos conciliares oriundos de Trento, levando a cabo a reforma já iniciada há tempos pelos reis católicos. Entre as medidas tomadas para implementar a Reforma Eclesiástica podemos destacar a realização de Concílios Provinciais e Sínodos Diocesanos na Espanha e nas colônias, como o de Lima em 1582 e do México em 1585.
A ação de alguns grandes bispos e prelados, a renovação das congregações e ordens religiosas, com a criação de novos institutos também muito contribuiu para manter o espírito da Igreja espanhola.
No campo das ciências e das artes acontecia o florescimento da teologia e da literatura cristã e, paralelo a isso, havia a ação da inquisição contra os infiéis e hereges.
A Espanha, sobretudo, com Felipe II, tornou-se o principal campo de luta contra o avanço do protestantismo, pois defendendo a fé católica defendia os seus próprios interesses: 
- Combateu os focos protestantes nas cidades de Sevilha e Valadolid;
- Combateu e derrotou os últimos focos de muçulmanos na Espanha, participando da vitória contra os turcos em Lepanto (1571);
- Participou das Guerras de Religião na França (1562-1596), nos Países Baixos (1572-1600) e na Inglaterra (1588), onde se deu a derrota da “invencível armada” como grande revés deste período. 
A ação de Felipe II foi continuada por Felipe III (1598-1621) e por Felipe IV (1621-1665) durante a Guerra dos 30 anos até que se chegasse à Paz de Westfalia (1648). 
Foto de: reprodução.
Rei Felipe II
O rei espanhol Felipe II foi o grande promotor 
da reforma eclesiástica em seu território.
Estrutura política da Espanha após a reconquista e unificação
Existia a junção de vários reinos. O reino de Aragão compreendia diversos territórios (Aragão, Catalunha, Valência, Sicília, Sardenha e Nápoles) que eram autônomos na administração, na justiça e economia. O reino de Castela, por sua vez, era um bloco unido, constituído por 18 províncias e alguns territórios autônomos que eram propriedade das ordens de cavaleiros. Havia ainda a Província Basca.
Com o casamento de Fernando e Isabel, os famosos reis católicos, a Espanha uniu todos os seus reinos e aprontou-se para a grande expansão ultramarina, dotando-se, porém, de alguns órgãos de Governo Central para controlar o seu expansionismo: 
- Conselho Supremo (de Aragão, Castela e Inquisição);
- Conselho de Estado – Consultivo;
- Conselho de Guerra – Só em tempo de guerra;
- Supremo Conselho das Índias – Para tudo o que se referia as colônias.

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.  
Mestre em História da Igreja 
pela Universidade Gregoriana

Escreve série sobre a  
História da Igreja no Brasil  
para o A12.com

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