sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Mercado de Notícias

26/09/2014  |  domtotal.com

Gilmar P. da Silva SJ*

É época de eleição. Há notícias de todos os modos, estatísticas variadas e divergentes em sua interpretação e método. É difícil saber onde está a verdade em meio a um turbilhão de informações. E a imprensa não costuma ajudar, uma vez que cada veículo assume uma ideologia e trabalha com os dados segundo lhe parece melhor. Fica difícil saber em quem votar se você não acompanhou as discussões ao longo dos quatro anos entre uma eleição e outra, período que permite confrontar as diversas notícias. E as redes sociais se invadem de charges e outras peças cômicas afrontando um candidato ou debochando de outro.

Segundo Ben Jonson (1572-1637), dramaturgo e poeta inglês, ri-se de uma pessoa quando seu modo de ser e agir fogem aos padrões socialmente estabelecidos como normais, uma espécie de idiossincrasia. Contudo, para ele, não se deve rir de qualquer coisa – um crime, por exemplo. Antes, o objetivo da comédia estaria em “troçar das tolices humanas” e “daqueles erros, que todos [...] confessarão rindo-se deles”. Nesse sentido, seu riso será desferido para o ridículo de sua época.

Três anos após o surgimento do primeiro jornal londrino, Jonson escreve a peça “O Mercado de Notícias”, apontando para problemas que ainda são comuns à imprensa de hoje. Segundo o cineasta Jorge Furtado, comentando sobre a atualidade do texto de Jonson, estes seriam questões como “a credibilidade da fonte, o financiamento da notícia, a veracidade da informação, a notícia como entretenimento, gente que quer aparecer no jornal de qualquer maneira, o vício por novidade todo dia...”.

Afetado pela peça, Furtado cria um trabalho monumental, um documentário homônimo ao texto do dramaturgo londrino. “O Mercado de Notícias” de Jorge Furtado traz dois elementos fundamentais. O primeiro consiste no relato de grandes nomes da imprensa nacional, como Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Mauricio Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete. O segundo elemento são cenas da peça, elaboradas especialmente para o documentário – Jorge e uma amiga traduziram-na para o português –, que possibilita uma costura à pluralidade de vozes acerca da mídia que a obra de Furtado traz.

A costura feita pelo cineasta é interessantíssima, mas não a única. Por isso, em uma atitude profundamente honesta, ele nos brinda com uma espécie de fichário, o site do documentário. Em omercadodenoticias.com.br, encontra-se um material valioso para quem pretende pesquisar sobre o jornalismo nacional. Dentre o conteúdo, destaca-se a versão extensa de cada uma das entrevistas, bibliografia utilizada e casos jornalísticos emblemáticos. Assim, é possível fazer a leitura no ordenamento estabelecido por Furtado, pelo próprio documentário, e ainda construir o seu próprio ordenamento, navegando no site segundo o que lhe parecer melhor.

O “Mercado de Notícias” está em exibição, em Belo Horizonte, no Usiminas Belas Artes com apenas uma sessão diária. Vale a pena visitar esse trabalho tão rico! É algo que pode ajudar a pensar o modo com que nos relacionamos com a informação revestida de verdade. Mas é preciso correr antes que saia de cartaz.

*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

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