27/09/2014 | domtotal.com
'As palavras voam e os gestos permanecem'. Que a Eucaristia nos permita colocar nossas vidas em acordo com Deus.
Vivemos a maior parte do tempo fechados em nossas rotinas. Somos feitos de como empregamos o nosso tempo, de ritos, certezas e sujeições. Mesmo assim, nossos modos de ser e de proceder foram muitas vezes escolhidos com discernimento. Pensemos, por exemplo, nas práticas da vida monástica, que podem transformar a existência toda num ritual. Enfim, não nos apressemos a condenar os hábitos todos que adquirimos, na maior parte do tempo, para estarmos "à altura".
Nem todos somos os publicanos e as prostitutas do evangelho de hoje. Apenas isto: o que quer que sejamos ou façamos, ainda não chegamos ao final da nossa humanidade, que é imagem e semelhança de Deus. Estamos a caminho para o nosso último momento. Deus vem sempre nos visitar e todos estes encontros nos convidam a nos movermos, a ir mais além, para outros lugares e outras maneiras de ser. O Cristo, visita de Deus, é o caminho, a via para a nossa última verdade e é esta a nossa vida.
"Levanta-te e anda…"; "Tens observado os mandamentos por toda a vida? Uma coisa ainda te falta…"; "Trabalhastes o dia inteiro? E agora estais aqui, servidores desocupados: de pé! Ainda há muita coisa a se fazer!" Isto não significa que não é preciso descansar nunca, mas que jamais devemos ficar satisfeitos com o que nos tornamos. É um paradoxo: na paz e na alegria é que temos de seguir a nossa estrada.
O novo para todo o mundo
É claro que fica mais fácil estar insatisfeito consigo quando se é um escroque ou um/a prostituto/a, a princípio, pelo menos. Os bem-pensantes e os que se julgam bem-feitores da humanidade têm a tendência de agradecer a Deus “por não serem como os outros homens” (Lucas 18,11) e de se deixarem repousar e regalar-se com as riquezas materiais e morais acumuladas (Lucas 12,13-19). João Batista dirigiu-se a todos, justos ou pecadores. Jesus também.
De fato, estamos todos em débito, em relação à novidade do que se manifestou em Cristo. Temos todos de nos "convertermos", ou seja, de nos voltarmos para Ele, para encontrarmos n’Ele a sua verdade. "Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez realidade nova" (2 Coríntios 5,17).
Por isso se fala de Novo Testamento e por isso Paulo insiste tanto na necessidade de nos revestirmos com o Homem Novo. Esta nova criatura, procedente de um novo nascimento, não apaga o passado pura e simplesmente, mas ultrapassa-o, completa-o, para além de todas as suas esperanças. Por isso é preciso "deixar tudo para segui-lo", vender tudo o que se tem, para adquirir este tesouro. E isto pode ser vivido materialmente, como fizeram os apóstolos, ou espiritualmente. Sob a condição de bem compreender-se que o "espiritual" é tão real quanto o material. Aquilo de que não podemos nos separar materialmente ganha, então, um sentido novo e, com isto, vivemos uma nova relação.
Sair das nossas prisões
Temos aí, nesta parábola, um filho que está decidido a ir trabalhar na vinha paterna, e o outro que se recusa a ir. Ambos, no entanto, vão modificar sua conduta; os dois vão mudar. A primeira reflexão que se impõe é que não podemos estar seguros de nada nem, sobretudo, de nós mesmos. O marasmo espiritual e humano em que agora me encontro ou, ao contrário, a euforia e a generosidade de que dei provas hoje não estarão aí para sempre. Podemos mudar completamente.
Segue, então, que vamos ficar desolados no primeiro caso e desconfiados e inseguros, no segundo? Certamente que não! Nos dois casos, podemos nos libertar da preocupação para conosco e nos colocarmos tranquilamente nas mãos de Deus. Esta feliz abertura para o Outro é o fundo mesmo da nossa fé, a experiência vivida da nossa esperança.
Os publicanos e as prostitutas são aqueles que, de início, recusaram o dom de Deus, porque ir "trabalhar na sua vinha" é um dom. O chamado de João abriu-lhes outros horizontes. Os chefes dos sacerdotes e os anciãos, operários da vinha por sua própria função, tendo sido, portanto, os primeiros a responderem ao convite divino, recusaram modificar-se. Preferiram o conforto da imobilidade no status quo, à fadiga de pôr-se a caminho.
Nós, por nossa vez, aceitemos ouvir o "levanta-te e anda" que o Cristo está nos dizendo. Não se trata de uma mobilização para um trabalho penoso, mas sim de uma libertação.
Nem todos somos os publicanos e as prostitutas do evangelho de hoje. Apenas isto: o que quer que sejamos ou façamos, ainda não chegamos ao final da nossa humanidade, que é imagem e semelhança de Deus. Estamos a caminho para o nosso último momento. Deus vem sempre nos visitar e todos estes encontros nos convidam a nos movermos, a ir mais além, para outros lugares e outras maneiras de ser. O Cristo, visita de Deus, é o caminho, a via para a nossa última verdade e é esta a nossa vida.
"Levanta-te e anda…"; "Tens observado os mandamentos por toda a vida? Uma coisa ainda te falta…"; "Trabalhastes o dia inteiro? E agora estais aqui, servidores desocupados: de pé! Ainda há muita coisa a se fazer!" Isto não significa que não é preciso descansar nunca, mas que jamais devemos ficar satisfeitos com o que nos tornamos. É um paradoxo: na paz e na alegria é que temos de seguir a nossa estrada.
O novo para todo o mundo
É claro que fica mais fácil estar insatisfeito consigo quando se é um escroque ou um/a prostituto/a, a princípio, pelo menos. Os bem-pensantes e os que se julgam bem-feitores da humanidade têm a tendência de agradecer a Deus “por não serem como os outros homens” (Lucas 18,11) e de se deixarem repousar e regalar-se com as riquezas materiais e morais acumuladas (Lucas 12,13-19). João Batista dirigiu-se a todos, justos ou pecadores. Jesus também.
De fato, estamos todos em débito, em relação à novidade do que se manifestou em Cristo. Temos todos de nos "convertermos", ou seja, de nos voltarmos para Ele, para encontrarmos n’Ele a sua verdade. "Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez realidade nova" (2 Coríntios 5,17).
Por isso se fala de Novo Testamento e por isso Paulo insiste tanto na necessidade de nos revestirmos com o Homem Novo. Esta nova criatura, procedente de um novo nascimento, não apaga o passado pura e simplesmente, mas ultrapassa-o, completa-o, para além de todas as suas esperanças. Por isso é preciso "deixar tudo para segui-lo", vender tudo o que se tem, para adquirir este tesouro. E isto pode ser vivido materialmente, como fizeram os apóstolos, ou espiritualmente. Sob a condição de bem compreender-se que o "espiritual" é tão real quanto o material. Aquilo de que não podemos nos separar materialmente ganha, então, um sentido novo e, com isto, vivemos uma nova relação.
Sair das nossas prisões
Temos aí, nesta parábola, um filho que está decidido a ir trabalhar na vinha paterna, e o outro que se recusa a ir. Ambos, no entanto, vão modificar sua conduta; os dois vão mudar. A primeira reflexão que se impõe é que não podemos estar seguros de nada nem, sobretudo, de nós mesmos. O marasmo espiritual e humano em que agora me encontro ou, ao contrário, a euforia e a generosidade de que dei provas hoje não estarão aí para sempre. Podemos mudar completamente.
Segue, então, que vamos ficar desolados no primeiro caso e desconfiados e inseguros, no segundo? Certamente que não! Nos dois casos, podemos nos libertar da preocupação para conosco e nos colocarmos tranquilamente nas mãos de Deus. Esta feliz abertura para o Outro é o fundo mesmo da nossa fé, a experiência vivida da nossa esperança.
Os publicanos e as prostitutas são aqueles que, de início, recusaram o dom de Deus, porque ir "trabalhar na sua vinha" é um dom. O chamado de João abriu-lhes outros horizontes. Os chefes dos sacerdotes e os anciãos, operários da vinha por sua própria função, tendo sido, portanto, os primeiros a responderem ao convite divino, recusaram modificar-se. Preferiram o conforto da imobilidade no status quo, à fadiga de pôr-se a caminho.
Nós, por nossa vez, aceitemos ouvir o "levanta-te e anda" que o Cristo está nos dizendo. Não se trata de uma mobilização para um trabalho penoso, mas sim de uma libertação.
Croire
*Marcel Domergue é sacerdote jesuíta francês. O texto é baseado nas leituras do 26º Domingo do Tempo Comum (28 de setembro de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
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