terça-feira, 16 de setembro de 2014

Situação do rock brasileiro é melhor do que já foi, diz Marcelo Camelo

 Atualizado em 16/09/2014 07h22

Ao G1, cantor fala da Banda do Mar, que lança disco e faz turnê pelo Brasil.

'É um ponto da trajetória que se Deus quiser vai ser longa', diz sobre Mallu.

Braulio LorentzDo G1, em São Paulo
Fred, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo formam a Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)Fred, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo formam a Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)
"Partiu muito mais da vontade de estar junto do que de qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, queremos fazer um negócio do qual tenhamos orgulho", diz Marcelo Camelo sobre a Banda do Mar, com disco recém-lançado e turnê brasileira agendada para outubro e novembro. Marcelo tem a companhia do baterista e amigo Fred (Orelha Negra, Buraka Som Sistema) e da cantora e esposa Mallu Magalhães. O disco reflete o período que o casal viveu em Lisboa. Já completaram um ano na capital portuguesa: a composição e gravação das músicas se deu no mesmo tempo em que "montavam o apartamento" por lá.
Em entrevista ao G1, Camelo fala da nova banda, do repertório dos shows, de rock brasileiro, Los Hermanos e de três de suas paixões (surf, documentários de história natural e Mallu). Somam-se a elas um apreço pela nova vida em Portugal: gastronomia, paisagens, povo, ditados locais. "São frases meio lapidares", diz o cantor. Seus ditados portugueses preferidos são "A vida é como se apresenta" e "Se vamos vamos, se não vamos então ficamos”
'O CAMELO FALOU ISSO?'
G1 relembra início da admiração mútua entre ele e Mallu durante show dela no Rio, em 2008
Marcelo Camelo e Mallu Magalhães tocam juntos em 2008, no Recife (Foto: Caroline Bittencourt/G1)
"Ela é muito talentosa. Compõe e canta muito bem". Foi assim que Camelo falou de Mallu, quando o entrevistei no primeiro show da então menina prodígio, em março de 2008, durante festival para 200 fãs no Rio.

"O Camelo falou isso? Gosto de saber. É que tinha a auto-estima baixa, né? Mas agora isso já passou. E, a cada elogio, eu acabo querendo compor mais", disse Mallu, quando contei a frase do então ídolo, no camarim do extinto Cinematèque, em Botafogo. Seis meses depois, eles tocaram juntos no Recife (foto acima).

De ídolo, Camelo foi ganhando promoções: parceiro, amigo, namorado, marido. Ela gravou no disco dele. Ele gravou no disco dela. E os dois agora têm uma banda para chamarem de sua. Com o português Fred, que não segura vela, segura (muito bem) baquetas.

Quase todas as músicas ímpares são dele; as pares, dela. Juntas, formam um dos melhores discos de pop rock (e de MPB) até agora lançados neste 2014.
G1 - Não há parcerias, músicas de você e Mallu juntos. Por que isso? E na hora de escolher a ordem das músicas no disco, foi pensado esse revezamento Camelo, Mallu, Camelo, Mallu, Camelo, Mallu...?
Marcelo Camelo - 
É... O setlist foi pensado assim para ter alternância. Não ter parceria vem de uma coisa minha e da Mallu. Temos certo respeito, que vem do reconhecimento do lugar de onde sai as composições, de ser um reduto de individualidades. Temos reconhecimento do indivíduo. A gente se apoia, faz músicas um para o outro. Temos dois interlocutores, é um trio. São para um encontro entre três.

G1 - Desde 'Janta' e com você participando do disco dela e ela do seu, como você vê sua ligação com ela como artistas, essa evolução em seis anos tocando juntos?
Marcelo Camelo - A gente se modifica como ser humano. É muito profundo. Estar com alguém promove um diálogo interno profundo. A pessoa tira informações com você, você se questiona. A gente vem construindo uma relação humana. É um ponto da trajetória que se Deus quiser vai ser muito longa. Eu sou muito fã dela. Sou grande admirador dela como musicista, como compositora, como esteta. O método e escolhas dela me atraem muito. É muito diferente de como fazia. E acho que eu trago informações e referências para ela.
Fred, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo formam a Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)Fred, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo formam a
Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)
Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred formam a Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred formam a
Banda do Mar (Foto: Divulgação/Pedro Trigueiro)
G1 - O disco tem um pouco de surf music. É algo que anda ouvindo?
Marcelo Camelo - Essa coisa de influência, depois de certa idade, fica cada vez mais difuso. Dificilmente, a gente fala que vai fazer algo “mais Beatles”. É "mais claro", "mais bonito"... No Los Hermanos, já era assim, referências abstratas. A gente descobre uma emoção nova a qual se remeter. Falamos mais sobre isso do que das bandas que causaram elas.
G1 - No show, vão tocar músicas sem ser da Banda do Mar. O que tocarão?
Marcelo Camelo - A gente vem ensaiando há dez dias e ficamos muito à vontade tanto eu, quando a Mallu, de botar coisas da nossa carreira, seja Los Hermanos, carreira solo. Com a condição que este tem que ser o show da nossa banda. O show vai girar em torno das 12 composições do disco, mas a gente fica a vontade para construir em torno deste repertório. Até músicas de outras pessoas, da nossa geração, músicas que a gente curte.

G1 - O que você ouviu ou viu nos últimos meses que mais gostou?
Marcelo Camelo - A BBC tem um jornalista de história natural chamado David Attenborough. É uma lenda da BBC. Ele faz matérias de vida animal, história da vida. E tem uma série sobre o Mediterrâneo que se chama “The First Eden”, o primeiro Eden. É dividida em quatro capítulos e o número três é uma das coisas mais emocionantes que já ouvi. A mistura da música e da voz do cara, com as composições feitas para o programa e os sons da natureza gravados por um cara da BBC que faz isso magistralmente e o editor de áudio que junta as coisas. Para mim, foi o disco do ano. E nem é do ano. E nem é disco.
A diversidade é positiva. Acho bonitão ter Criolo, Jeneci, Cícero, Silva...
A pluralidade da cena é uma virtude em relação ao que vivi de perto, que era um funilzão que passava só um tipo de coisa. Sou otimista e na prática a situação está muito melhor do que foi"
Marcelo Camelo, cantor
G1 - Por falar com tanta fascinação deste programa, pensa em trabalhar em algo do tipo? É que às vezes a gente fica empolgado com algo, e quer fazer também...
Marcelo Camelo - É, nem sempre. Como você disse, gosto de surf music. E eu adoro surf como ideia, é uma forma de arte. É uma metáfora da vida. Cada surfista faz de um jeito e tem a ver com o jeito que o cara encara as coisas do mundo. Eu me interesso como me interesso por pintura e dança. Mas não tenho capacidade, nem talento. Só de me imaginar em uma prancha já caio no chão.
G1 - Tem alguma novidade de Los Hermanos? Mudaria algo na trajetória da banda?
Marcelo Camelo - Vemos a banda como um lugar que podemos revisitar. Mas pressões e circunstâncias me levaram a ter certo medo. A gente está vivendo outra época e é mais normal que grupos se deem desse jeito. O importante é conseguir ter a liberdade de se encontrar e fazer o que quiser. Não adiantava ter um êxito e ter memórias ruins, como um amigo que você tem constrangimento de encontrar por ter dito alguma coisa. Fomos buscando quitar nossas dívidas pessoais um com o outro, resolver nossos problemas com esforço, trabalho, compreensão e conversa.
G1 - Como você vê o rock brasileiro hoje?
Marcelo Camelo - A cena underground que eu acompanhava na base da fita demo e show para 50 pessoas está vindo a tona. Temos canais de comunicação mais eficientes e por isso atinge mais pessoas. Mais pessoas se sentem representadas. A diversidade é positiva. Acho bonitão ter Criolo, Boogarins, Jeneci, Cícero, Silva, Wado e as coisas que não são tão parecidas com o que eu faço. A pluralidade da cena é uma virtude em relação ao que eu vivi de perto, que era um funilzão que passava só um tipo de coisa e ficavam só explorando aquilo. Eu sou otimista e na prática a situação está muito melhor do que foi.

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