A vergonha por ter nascido no país do carnaval, caipirinha e futebol, se dá por muitos motivos.
Por Ricardo Soares*
Tenho vergonha de ser brasileiro quando no exterior vejo uma horda barulhenta em bagunça desorganizada e são meus conterrâneos a confundir irreverência com falta de educação. Tenho vergonha de ser brasileiro quando em solo nativo vejo os cidadãos,que cidadãos não são, pararem seus carros em fila dupla , não respeitarem semáforos nem faixas de segurança , entrarem na contramão e trafegarem nos acostamentos, jogarem lixo pela janela de seus bólidos e ligarem o som mais alto que podem para incomodarem os que estão à sua volta com o pior tipo de música possível. Afinal quem faz isso não ouve Beethoven ou Jobim pois não?
Tenho vergonha de ser brasileiro quando o país ainda dá protagonismo a discussão sobre os nadas das novelas das nove e dá mais importância na história de nossa civilização a Boni , Walter Clark e Daniel Filho do que a Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira ou Paulo Freire. Tenho vergonha de ser brasileiro quando se pretende levantar qualquer nível de conversa e um engraçadinho a desqualifica dizendo que é papo de intelectual ou de esquerda legitimando o preconceito com um verniz cult em tudo que é lixo cultural incluso Regina Casé, Big Brother e revistas de celebridades.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando a propaganda é a alma de qualquer negócio desalmado e quando o marketing pessoal está acima de qualquer competência , prática usual no meio audiovisual , com o perdão da rima. Tenho vergonha de ser brasileiro quando o que se valoriza é fama , fortuna , tórax e bumbum malhado acompanhado de um cérebro atrofiado. Tenho vergonha de ser brasileiro quando qualquer índice da corrupção mundial nos coloca em lugar de ponta e quando toda e qualquer critica é desqualificada como se apontar nossas mazelas fosse desconhecer o que temos de bom.
Sucede que o que temos de bom fica em segundo plano a começar das pautas dos hediondos telejornais diários a relevar somente o que temos de pior em busca de audiência , anunciantes e mentes delirantes alimentadas pelo medo e paranóia. Tenho vergonha de ser brasileiro diante da irresponsabilidade daqueles que pensam e fazem comunicação colocando o ruim em primeiro lugar , nivelando por baixo para ficar por cima . Tenho vergonha de ser brasileiro ao ver os altos índices de audiência do que há de mais abjeto, quando vejo a educação sucateada e os professores acuados pelo medo de apanhar dos próprios alunos , quando vejo os alunos pensarem em “ter” na vida e não em ser.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo que poucos respeitam lei do silêncio, assento e vaga de idosos e deficientes , quando não se tem a menor consideração pelos mais velhos e onde a juventude é antes de tudo virtude e jamais ignorância. Tenho vergonha de ser brasileiro quando sinto que envelheço e meu país regride em comportamento , atos e palavras por nossa culpa, nossa máxima culpa e não apenas as de governos federais, estaduais e municipais.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo índios bêbados e maltratados tratados como piolhos de cobras por barões do latifúndio que pregam o uso de armas para manterem seus privilégios em cima de terras invadidas. Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo negros amarrados a postes espancados e dilacerados com o aval e incentivo de comentaristas midiáticos irresponsáveis e calhordas. Tenho vergonha de ser brasileiro diante de tantas desigualdades que na verdade são abismos sociais , tenho vergonha de tanta intolerância , tanta maldade , tanta banalização da violência e maus costumes que agora resvalam até para a intolerância religiosa como se cada um de nós não nascesse livre para escolher que deus ou que credo seguir. Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo o “deus do A” disputando com o “deus do B” pelo maior número de fiéis a serem conduzidos a um paraíso que tem antes de mais nada carrão, casarão, tv de plasma e dvd. Tenho vergonha de ser brasileiro quando sinto que os brasileiros ricos se consideram seres humanos diferentes dos brasileiros pobres como se um dia os primeiros virassem ouro e só os segundos virassem pó.
Tenho vergonha de ser brasileiro e ter que escrever essas linhas quando poderia estar falando do quanto evoluímos em pouco mais de meio século desde que eu nasci . E, mais, tenho vergonha de ser brasileiro pois pelas ruas de São Paulo , os calçadões do Rio e as superquadras de Brasília só vejo aumentar os zumbis do crack , as legiões bárbaras das torcidas uniformizadas e a profusão de craques de futebol que valorizam a ostentação e o orgulho da própria ignorância.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando ainda é vista como nossa grande qualidade a capacidade de sermos uma pátria de chuteiras que as vezes só parece se unir em volta de um ideal comum quando está em disputa um mundial de futebol. Tenho vergonha de ser brasileiro ao ver tanta bola fora, tanto pênalti perdido, tanta eficiência largada no banco dos reservas. Finalmente tenho vergonha de ser brasileiro quando percebo que estamos há anos luz de batermos um bolão e mais distantes ainda de que deixemos de ter vergonha de nossos incontáveis defeitos e passemos dia a dia a corrigi-los para que no futuro um incauto como eu sente e escreva que tem verdadeiramente orgulho de ser brasileiro sem ser taxado de ufanista, delirante ou , pior, de mentiroso.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando no exterior vejo uma horda barulhenta em bagunça desorganizada e são meus conterrâneos a confundir irreverência com falta de educação. Tenho vergonha de ser brasileiro quando em solo nativo vejo os cidadãos,que cidadãos não são, pararem seus carros em fila dupla , não respeitarem semáforos nem faixas de segurança , entrarem na contramão e trafegarem nos acostamentos, jogarem lixo pela janela de seus bólidos e ligarem o som mais alto que podem para incomodarem os que estão à sua volta com o pior tipo de música possível. Afinal quem faz isso não ouve Beethoven ou Jobim pois não?
Tenho vergonha de ser brasileiro quando o país ainda dá protagonismo a discussão sobre os nadas das novelas das nove e dá mais importância na história de nossa civilização a Boni , Walter Clark e Daniel Filho do que a Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira ou Paulo Freire. Tenho vergonha de ser brasileiro quando se pretende levantar qualquer nível de conversa e um engraçadinho a desqualifica dizendo que é papo de intelectual ou de esquerda legitimando o preconceito com um verniz cult em tudo que é lixo cultural incluso Regina Casé, Big Brother e revistas de celebridades.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando a propaganda é a alma de qualquer negócio desalmado e quando o marketing pessoal está acima de qualquer competência , prática usual no meio audiovisual , com o perdão da rima. Tenho vergonha de ser brasileiro quando o que se valoriza é fama , fortuna , tórax e bumbum malhado acompanhado de um cérebro atrofiado. Tenho vergonha de ser brasileiro quando qualquer índice da corrupção mundial nos coloca em lugar de ponta e quando toda e qualquer critica é desqualificada como se apontar nossas mazelas fosse desconhecer o que temos de bom.
Sucede que o que temos de bom fica em segundo plano a começar das pautas dos hediondos telejornais diários a relevar somente o que temos de pior em busca de audiência , anunciantes e mentes delirantes alimentadas pelo medo e paranóia. Tenho vergonha de ser brasileiro diante da irresponsabilidade daqueles que pensam e fazem comunicação colocando o ruim em primeiro lugar , nivelando por baixo para ficar por cima . Tenho vergonha de ser brasileiro ao ver os altos índices de audiência do que há de mais abjeto, quando vejo a educação sucateada e os professores acuados pelo medo de apanhar dos próprios alunos , quando vejo os alunos pensarem em “ter” na vida e não em ser.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo que poucos respeitam lei do silêncio, assento e vaga de idosos e deficientes , quando não se tem a menor consideração pelos mais velhos e onde a juventude é antes de tudo virtude e jamais ignorância. Tenho vergonha de ser brasileiro quando sinto que envelheço e meu país regride em comportamento , atos e palavras por nossa culpa, nossa máxima culpa e não apenas as de governos federais, estaduais e municipais.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo índios bêbados e maltratados tratados como piolhos de cobras por barões do latifúndio que pregam o uso de armas para manterem seus privilégios em cima de terras invadidas. Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo negros amarrados a postes espancados e dilacerados com o aval e incentivo de comentaristas midiáticos irresponsáveis e calhordas. Tenho vergonha de ser brasileiro diante de tantas desigualdades que na verdade são abismos sociais , tenho vergonha de tanta intolerância , tanta maldade , tanta banalização da violência e maus costumes que agora resvalam até para a intolerância religiosa como se cada um de nós não nascesse livre para escolher que deus ou que credo seguir. Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo o “deus do A” disputando com o “deus do B” pelo maior número de fiéis a serem conduzidos a um paraíso que tem antes de mais nada carrão, casarão, tv de plasma e dvd. Tenho vergonha de ser brasileiro quando sinto que os brasileiros ricos se consideram seres humanos diferentes dos brasileiros pobres como se um dia os primeiros virassem ouro e só os segundos virassem pó.
Tenho vergonha de ser brasileiro e ter que escrever essas linhas quando poderia estar falando do quanto evoluímos em pouco mais de meio século desde que eu nasci . E, mais, tenho vergonha de ser brasileiro pois pelas ruas de São Paulo , os calçadões do Rio e as superquadras de Brasília só vejo aumentar os zumbis do crack , as legiões bárbaras das torcidas uniformizadas e a profusão de craques de futebol que valorizam a ostentação e o orgulho da própria ignorância.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando ainda é vista como nossa grande qualidade a capacidade de sermos uma pátria de chuteiras que as vezes só parece se unir em volta de um ideal comum quando está em disputa um mundial de futebol. Tenho vergonha de ser brasileiro ao ver tanta bola fora, tanto pênalti perdido, tanta eficiência largada no banco dos reservas. Finalmente tenho vergonha de ser brasileiro quando percebo que estamos há anos luz de batermos um bolão e mais distantes ainda de que deixemos de ter vergonha de nossos incontáveis defeitos e passemos dia a dia a corrigi-los para que no futuro um incauto como eu sente e escreva que tem verdadeiramente orgulho de ser brasileiro sem ser taxado de ufanista, delirante ou , pior, de mentiroso.
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.
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