03/09/2014, às
08:20, por Andrea Ramal
Professora de
Franco da Rocha, SP, vítima de violência de alunosO Brasil está em primeiro
lugar no ranking de violência contra professores divulgado pela OCDE. Será que
os pais dos estudantes têm consciência da gravidade desse resultado e do que
ele significa para a educação dos seus filhos?
Por um lado,
significa que nossas crianças e jovens estudam num sistema educacional cheio de
falhas e ineficaz. Não adianta explicar a violência na escola só em função do
entorno em que os alunos vivem. Isso conta, mas o fato é que o país não
atualizou o ensino e, em plena cibercultura, mantém um modelo educacional do
século passado.
Nesse sistema, o
magistério é tão mal remunerado que não atrai talentos. Os que ingressam na
profissão não recebem a preparação adequada, começam a lecionar sem experiência
e têm dificuldade para conquistar os estudantes. Os alunos não se interessam
pelo que é ensinado e a didática não é atraente. Ficam desmotivados,
hiperativos, indisciplinados.
Para controlar a
turma, muitos professores tentam manter a ordem, o que, dependendo da forma,
gera revolta. A sala de aula se converte num campo de batalha. Professores
adoecem. Milhares abandonam a profissão. Prova Brasil e Enem mostram que, a
cada ano, poucos alunos aprenderam o que deveriam.
Ao mesmo tempo,
esse desonroso resultado também significa que muitos jovens não estão
aprendendo, em casa, aspectos básicos para o convívio social, como urbanidade,
respeito, cortesia, civilidade. E estão aprendendo pouco sobre o valor da
educação.
Na Coreia do
Sul, o índice de violência relatado pelos mestres é zero. Isso não acontece
apenas porque o país valorizou a carreira docente, mas sobretudo porque em
casa, desde cedo, as crianças aprendem a importância da escola e o respeito
pelos que ensinam.
É verdade que
esse fenômeno não ocorre só no Brasil. Por exemplo, no México, a Comissão
Nacional de Direitos Humanos e o Sindicato de Trabalhadores da Educação acabam
de lançar um documento que adverte sobre a violência que os professores vêm
sofrendo por parte dos alunos, citando: ameaças, insultos, roubos, danos a seus
carros, bullying pela internet, empurrões, socos. Fatos similares ocorrem na
Argentina, Espanha, Uruguai, por citar alguns. Isso não deveria ser um consolo.
Alguns estados brasileiros passaram a colocar policiais dentro das escolas.
Essa não deveria e não pode ser a única solução possível.
Pobre do país
que despreza seus próprios mestres. Serão os tablets a solução mágica? Recursos
tecnológicos armazenam muitos conteúdos, mas não podem ensinar valores,
promover posturas de vida, formar agentes de mudança social.
Se os pais
brasileiros desejam uma educação de qualidade para seus filhos, não deveriam
lidar com agressões contra professores como se fosse normal. A violência
crescente contra os mestres é sinal de colapso iminente no sistema educacional.
Os pais precisam se envolver nas discussões sobre as melhorias necessárias nas
escolas. Acompanhar a implantação do Plano Nacional de Educação. Seja qual for
o candidato eleito, cobrar uma gestão qualificada da rede escolar. A cobrança
da sociedade pode conquistar políticas educacionais mais continuadas e
efetivas.
Os pais que têm
filhos em idade escolar deveriam ficar atentos ao exemplo que dão quando falam
dos mestres. Não tirar a autoridade deles na frente das crianças. Isso não
significa que os estudantes precisam obedecer cegamente, eles sempre devem
expressar o que pensam. E os pais sempre podem apresentar queixas na escola.
Mas precisam ensinar uma postura de colaboração na sala de aula. Dos gestores
escolares, exigir que o professor seja bem preparado, competente e valorizado.
É nas crianças e
nos jovens em formação que está o país que podemos ser. Mas não se enganem, é urgente: antes, há que
cuidar de quem os forma.
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