sábado, 11 de outubro de 2014

Absolvida, Carla Cepollina diz que vai defender direitos humanos

11/10/2014 08h47

'Fui absolvida seis vezes, em todas as instâncias', diz advogada.

Ela foi acusada de ter matado o ex-namorado coronel Ubiratan.

Roney DomingosDo G1 São Paulo
Carla Cepollina  (Foto: Caio Kenji/ G1 )Advogada tenta retomar a carreira após conclusão do processo em que foi acusada pela morte do ex-namorado (Foto: Caio Kenji/ G1 )
A absolvição da acusação de ter matado o ex-namorado coronel Ubiratan Guimarães e o fim da possibilidade de recursos de seu julgamento encerram oito anos de uma luta de Carla Cepollina na Justiça para provar sua inocência. É assim que a advogada vê o fim de todo este processo após transitar em julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, recurso do Ministério Público de São Paulo contra decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que a inocentou, em 20 de junho de 2013. "Fui absolvida seis vezes, em todas as instâncias", diz a advogada.

Cepollina admite ter enfrentado uma depressão e diz que agora tenta retomar a vida após provar sua honra.
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Entenda a decisão:
- No dia 7 de novembro de 2012, o tribunal do júri inocentou Carla Ceppolina da acusação de ter matado o coronel Ubiratan por ciúmes.
- No dia seguinte, o promotor João Carlos Calsavara informou que pediria um novo julgamento. O advogado Vicente Cascione, que representa a família do coronel, também informou que iria recorrer do júri.
-  Em 20 de junho de 2013, desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo negaram os recursos da acusação.
O Ministério Público Estadual recorreu ao Superior Tribunal de Justiça, que rejeitou o recurso.
 "Estou reconstruindo minha vida. Minha vida nesses  anos foi destruída. Você sai de um processo desse definitivamente mutilada. Do ponto de vista profissional,  emocional, social, ficou uma espada sobre a minha cabeça esperando para resolver. Meu pai morreu com a dor de ter uma filha acusada de assassinato", afirmou Carla em entrevista concedida aoG1.
Em novembro de 2012, Carla foi declarada inocente pelo Tribunal do Júri da acusação de ter matado o Coronel Ubiratan Guimarães. Os jurados consideraram as provas insuficientes.
Ex-aluna do tradicional Colégio Dante Alighieri, formada em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, Carla está disposta agora a ajudar pessoas que enfrentam na Justiça a mesma situação que ela enfrentou.
"Nesses últimos oito anos, por força do destino, acabei aprendendo muito sobre direito penal e júri e faço questão absoluta de fazer um trabalho para ajudar pessoas, porque sei que nem todo mundo tem a fé, a coragem, a força e o conhecimento que eu tive para superar a barbárie a que fui submetida", afirmou. "Eu conheço os dois lados. Eu sei o que é ser vítima de opressão, pré-julgamento. Eu tive a mesma dor. Eu não teria conseguido sem a força, sem as orações da minha família e meus amigos", disse.
carla cepollina (Foto: Caio Kenji/G1)Luta contra 'barbárie' foi por provar a honra, diz
Cepollina (Foto: Caio Kenji/G1)
Carla revela que se colocou  à disposição da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDD) e do Movimento de Defesa da Advocacia (MDA) para ajudar pessoas que passam pela mesma experiência que ela passou. "O triunfo de um inocente sobre um processo desse deveria ser alguma coisa que deveria dar alento a outros inocentes", disse a advogada inocentada pela morte do coronel Ubiratan.
Ubiratan foi o comandante da invasão do presídio do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos pela Polícia Militar. O coronel chegou a ser condenado pela Justiça a 632 anos de prisão, mas foi absolvido pelo órgão especial do TJ-SP. À época de sua morte, Ubiratan era deputado estadual.
Eu falei: 'eu morro, mas não vou ceder.' Isso não tem a ver com classe social. Eu sou corintiana: tem a ver com isso."
Carla Cepoliina
Carla diz não ter raiva ou mágoa do processo que enfrentou e deixa claro que o prejuízo que sofreu é maior do que qualquer indenização. "Eu não tenho raiva, eu tenho talvez solidariedade. Só quando você alcança esse limiar de dor, você consegue respeitar tanto o próximo e a dor do próximo. Tem alguma indenização que pague o que eu passei? Quanto que paga oito anos da minha vida? Eu chegar a um lugar, dar o cartão e as pessoas me olharem com aquela cara 'Foi ela? Não foi? É ela que está no jornal?'. Quanto que paga meu irmãos terem algum tipo de embaraço. As pessoas que são encarregadas, que a gente espera que sejam defensores da ordem e da lei não conduziram o processo da maneira que se espera que eles conduzam. Tenho que fazer as pazes com isso".
Cepollina diz que retoma a vida profissional. Segundo ela, sua defesa tomou a frente de toda e qualquer outra ambição.  "Sua vida para. Você não tem uma interação social normal quando é acusada de assassinato. Quando saiu isso, as pessoas que me conhecem, que fizeram Dante [Colégio Dante Alighieri] ou qualquer uma das faculdades que eu fiz, que sabem meu temperamento, sabem como sou, não acreditaram. Mas você se sente tolhido. E a prioridade na sua vida é isso. Eu sempre tinha sido boa aluna e sempre tinha trazido honra para a família. A minha missão na vida era acabar aquilo. Você fica anestesiada para as outras coisas da vida. Eu tenho dupla cidadania [brasileira e italiana], mas jamais iria embora, porque minha família está aqui, meu nome está aqui. Tenho senso de honra, de dever, de tudo."
carla cepollina (Foto: Caio Kenji/G1)Advogada acredita que é preciso reabrir a investiga-
ção sobre a morte de Ubiratan (Foto: Caio Kenji/G1)
A advogada diz que o sucesso em sua defesa não tem relação com sua posição social. "Fui criada ouvindo que a gente não se conforma com opressão e luta pelo que a gente acredita. Meus dois avós são heróis condecorados de guerra. Eu falei: 'eu morro, mas não vou ceder.' Isso não tem a ver com classe social. Eu sou corintiana: tem a ver com isso. Perdeu o jogo, no dia seguinte tem de estar com a camisa na rua. Tem a ver com vontade de sobreviver. Nesse processo, fazem de tudo para quebrar seu espírito", afirmou. "Você pensa que eu não entrei em depressão? Quando marcaram o júri, eu estava mal.

Carla sugere que o caso Ubiratan seja reaberto. "Sugiro que telefonem para o divisionário do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e peçam que seja reaberto o caso Ubiratan. Se precisar, colaboro com as investigações. Mas isso não tem nada a ver com a Carla Cepollina. Se as pessoas tiverem um pouco de decência, que me deixem em paz."

Ela não indica suspeitos, mas vê falhas na investigação. "Eu acho que quando um deputado estadual que está em campanha, que participou do Carandiru, é morto, a gente não investiga só a namorada e não fala que foi a namorada depois de 24 horas."
O coronel Ubiratan Guimarães foi achado morto em 10 de setembro de 2006 em seu apartamento, nos Jardins, em São Paulo. Com base na investigação policial, o MP acusou Carla de ter atirado no namorado motivada por ciúmes. 

Em 7 de novembro de 2012, após três dias de julgamento, o 1º Tribunal do Júri da Capital absolveu Cepollina. Ela havia sido denunciada por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima) sob alegação de ter matado Ubiratan com um tiro no abdome após suposta discussão.  O MP recorreu e o recurso foi negado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, por três votos a zero, no dia 20 de junho de 2013.

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