Mineira de 28 anos visitou os 5 continentes gastando até R$ 50 por dia.
Ela conheceu orfanato, campo de refugiados e templo budista.
Quando a jornalista Kívia Costa saiu de sua cidade no interior de Minas Gerais para conhecer o mundo, não levou nem mochila. Os poucos pertences que separou para a viagem – algumas roupas, um livro, itens de higiene, câmera e laptop – foram colocados em uma sacola preta de supermercado.
Só alguns dias depois, quando chegou por terra ao seu primeiro destino internacional, Buenos Aires, é que a brasileira de 28 anos se preocupou em comprar uma mochila para seguir em frente. E assim, "sem esquentar muito a cabeça", ela seguiu por mais um ano e um mês, em uma jornada que a levou a conhecer 38 países nos cinco continentes, quase sempre de carona.
Na viagem, que começou em maio de 2013 e terminou em junho deste ano, Kívia foi além dos pontos turísticos tradicionais de cada lugar. Por exemplo: ela foi até um campo de refugiados na Jordânia e visitou um orfanato para meninas vítimas de mutilação genital no Quênia, passou oito dias morando em um monastério budista no Nepal e ficou em meio ao fogo cruzado na Palestina. “Viajo não só para curtir a vida, ir a praias, cachoeiras. Quero aprender, ver coisas diferentes, ter experiências diversas”, define.
Entre os países que ela conheceu, estão Malásia, Austrália, Egito, Albânia, Laos, Guatemala, Honduras, Panamá, Bulgária e El Salvador. A jornalista reuniu suas histórias e algumas dicas no blog Kiviagem – um trocadilho com seu nome do qual ela ri, mas considera inevitável.
Do emprego estável à estrada
Natural de Bom Despacho, Kívia abandonou um emprego estável e com bom salário em um banco de São Paulo para realizar o sonho antigo de viajar para muitos lugares. “Não conhecia ninguém que tivesse dado a volta ao mundo, mas fiz as contas e vi que era possível. Desde o meu primeiro emprego eu economizo dinheiro para viajar”, diz.
Aproveitando a facilidade com o espanhol e o inglês, Kívia fez quase todo o percurso pelas Américas de carona. Na América Central, um australiano que ela conheceu no caminho se juntou a ela.
Em outro momento da viagem, um viajante holandês a acompanhou e eles cruzaram o deserto do Saara juntos, também de carona. Austrália, Israel e Jordânia foram outros lugares onde ela se deslocou com a ajuda de desconhecidos.
Ela conta que recebeu cantadas de muitos motoristas, mas conseguia se desviar delas. “O Brasil foi o país onde mais fui assediada. Na maior parte dos lugares o pessoal respeita”, afirma.
Para Kívia, pegar carona era uma forma de conhecer os moradores e a realidade do lugar. “Muitas vezes eu até tinha dinheiro, mas preferia viajar assim porque é mais interessante. O trajeto começa a ficar chato quando é feito em um ônibus atrás do outro”, diz, acrescentando que quase sempre quem parava para ela eram caminhoneiros e pessoas com pouco dinheiro.
Já na Ásia a brasileira teve que mudar de estratégia. “Não falo a língua e fui a lugares onde não havia muitos turistas e as pessoas não falavam inglês, então dava muito trabalho. Na Tailândia passei uma tarde inteira na estrada e as pessoas não entendiam o que eu queria, para onde estava indo. Além disso lá é barato, nem compensava financeiramente”, observa.
Furto e cirurgia
Nos 13 meses que durou a viagem, ela se hospedou na casa de pessoas que conhecia pela rede Couchsurfing, de amigos ou de alguns motoristas que davam carona, por exemplo. Quando queria mais privacidade, ia para hotéis e hostels (albergues da juventude).
Como nem sempre fazia reservas com antecedência, já ficou sem lugar para dormir. Na China, por exemplo, chegou em um feriado nacional e teve que passar a noite em um trem que não tinha nem cadeira, apenas lugar para ficar em pé. “Dormi em parque, mesa do MC Donalds, na praia”, conta.
Ela passou por algumas experiências difíceis: teve o cartão de crédito e dois celulares furtados (no Vietnã e na Tailândia). Ficou doente na Austrália e passou por uma cirurgia por suspeita de apendicite, que acabou não se confirmando. Também teve dores fortes nas costas a partir do meio da viagem. "Não parava, emendava uma coisa na outra. Cheguei muito cansada ao Brasil", diz.
Esse tipo de contratempo e a falta de conforto, porém, não a incomodaram. “Faz parte da aventura. Acho que o conforto limita a gente. A liberdade tem um preço, e eu estava disposta a pagar. Transformava tudo de bom e de ruim em experiência”, afirma.
Namorado grego
Kívia ainda não fez as contas de quanto dinheiro gastou na viagem no total, mas diz que tinha o teto de R$ 1.500 por mês -- uma média de R$ 50 por dia. “Tirando os voos, não gastei mais do que isso. Foi bem menos do que imaginava.”
Depois de passar o período da Copa do Mundo no país natal, ela foi para a Grécia, onde está agora, morando com um namorado grego que conheceu durante a volta ao mundo. "Foi o jeito que encontramos de ficar juntos. Fico morando com ele até dezembro", relata.
Kívia está escrevendo um livro sobre a viagem. Quando voltar para casa, não pretende parar. A ideia é repetir a experiência e fazer uma viagem pelo Brasil. Também de carona.
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