sábado, 18 de outubro de 2014

Editorial: O homem de uma grande fé

Igreja > 2014-10-18 07:05:16 
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Cidade do Vaticano (RV) – RealAudioMP3 A Igreja está em festa. Neste domingo, será elevado às honras dos altares o Servo de Deus, Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, o Papa Paulo VI. Um homem tão amado e ao mesmo tempo não tão reconhecido e valorizado. Sim porque o destino da Igreja, do corpo místico de Cristo, foi guiado por esse Santo homem durante 15 anos. Período em que se realizou e se implementou o Concílio Vaticano II. De fato, ele sucedeu João XXIII, hoje São João XXIII que inaugurou os trabalhos do Concílio. Paulo VI os concluiu.

A sua beatificação se realiza precisamente no encerramento da III Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada aos desafios que a família enfrenta nos dias de hoje. Pensando na beatificação de Paulo VI, não podemos deixar de recordar o Concílio e aquele momento vivido pela Igreja. Montini guiou a Igreja em época de transição entre o durante e o pós-Vaticano II. Naquele período, a Igreja viveu uma profunda transformação com a revisão da liturgia eucarística, com as mudanças no que diz respeito ao sacerdócio, com a abertura a temas da modernidade em um mundo que registrava constantes mudanças de valores.

Sim, os temas quentes da época diziam respeito a índices crescentes de divórcio, de uniões de fato, à liberdade sexual, à legalização do aborto, às técnicas anticoncepcionais. Temas esses que também hoje os padres sinodais enfrentaram nos últimos dias durante a Assembleia sinodal.
Montini escolheu o nome Paulo para indicar que tinha uma renovada missão universal de propagar a mensagem de Cristo. Após ter concluído os trabalhos do Concílio, Paulo VI assumiu a interpretação e implementação de seus mandatos, frequentemente andando sobre uma linha entre as expectativas conflitantes de vários grupos da própria Igreja. A magnitude e a profundidade das reformas, que afetaram todas as áreas da vida da Igreja durante o seu pontificado, são hoje bem conhecidas.

Homem culto, de fina inteligência, foi um Papa sensível às exigências do seu tempo e se esforçou para interpretar os sinais dos tempos. Escreveu sete encíclicas, 12 exortações apostólicas e inúmeras cartas e constituições apostólicas. A ele se devem três dos documentos que ainda hoje são referência para a doutrina e ação da Igreja: a Populorum Progressio, sobre a justiça social no mundo; aEvangelii Nuntiandi, sobre as condições para a evangelização; e a Humanae Vitae, sobre a dignidade da vida humana, muitas vezes reduzida a uma mera proibição de métodos contraceptivos.

Quando olhamos para este grande homem da Igreja, nos é difícil sintetizar o legado que ele deixou com seus escritos, discursos e ações. O seu “testamento espiritual” foi lido por mais de uma vez por João Paulo II nos "exercícios espirituais" que fazia, e deles tirou ideias, propósitos e pontos de reflexão para a sua vida e pontificado.

Paulo VI foi também um devoto mariano; visitou santuários marianos e três de suas encíclicas são marianas. Montini procurou o diálogo com o mundo, com outros cristãos, religiosos e não, sem excluir ninguém. Viu-se como um humilde servo de uma humanidade sofredora e pediu mudanças significativas dos ricos nos países desenvolvidos, quer no continente americano quer na Europa, em favor dos pobres do então chamado Terceiro Mundo.

Ele não parou, não foi um homem que se acomodou, sempre quis mais, sempre quis ser o peregrino da mensagem de Cristo. Paulo VI foi o primeiro Papa a visitar os cinco continentes. Em 1970 sobreviveu a uma tentativa de assassinato nas Filipinas.

O Papa Francisco promulgou, no dia 6 de maio deste ano, o decreto que reconhece o milagre atribuído à sua intercessão. O milagre está relacionado à cura de uma criança, ocorrida em 2001 nos Estados Unidos. A mãe do bebê, durante a gravidez, descobriu um grave problema cerebral. Os médicos lhe aconselharam o aborto, fato rejeitado pela mãe que optou em continuar a gravidez e pediu a intercessão de Paulo VI. A criança nasceu sem problemas e os médicos consideraram seu nascimento “um feito verdadeiramente extraordinário e sobrenatural”.

Paulo VI cumpriu a tarefa de levar à Igreja e ao mundo as novidades que o Concílio Vaticano II tinha introduzido. Conduziu a Igreja nos tempos difíceis do pós-Concílio, nos quais a sua serenidade foi capaz de levar a porto seguro a nave de Cristo em uma das épocas mais complicadas da história da Igreja Católica. Um homem de fé que confirmou os irmãos e defendeu o princípio do fidei depositum, uma vez que lhe foi confiado. Faleceu em 6 de agosto de 1978, em Castel Gandolfo, na Festa da Transfiguração. (Silvonei José)
Rádio Vaticano 

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