Por todos os lados no PT, e muito por conta das dificuldades enfrentadas ao longo da campanha, sempre se ouviu que Lula gostaria de ter maior influência no segundo mandato de Dilma Rousseff. Ele próprio nunca escondeu o desejo, não só na confiança de que isso contribuiria para fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro, mas também para preparar a campanha para 2018 – a sua própria campanha para 2018. Só para lembrar, nos cálculos de Lula, o PT estaria em 2018 desgastado e sofrendo de "fadiga de material" depois de 16 anos no poder. Esse desgaste veio antes, agora em 2014 e, mesmo assim, a vitória foi garantida.
A pergunta que mais se ouve agora é se Dilma vai "dobrar a aposta" e fazer o governo dela ou se vai abrir espaço para Lula. A resposta poderá ser dada no momento em que Dilma indicar o nome do ministro da Fazenda. Guido Mantega chegou ao posto por indicação de Lula, mas ao longo deste ano o ex-presidente sugeriu a troca. Dilma manteve, mas ela própria anunciou "governo novo, com novos nomes".
Se a escolha for por Nelson Barbosa, sem dúvida, terá sido uma indicação de Lula. Dilma já gostou de Barbosa, era seu preferido na equipe de Mantega, mas, por considerar que ele "vazava informações para a imprensa", deixou de chamá-lo ao Planalto. Distante do centro de decisão, ele pediu demissão. Se não for Barbosa, será preciso ver quem será o escolhido.
No segundo turno, foi visivel a movimentação de Lula e a de Dilma. Lula mergulhou na rua, deu o tom dos discursos e instruções para a militância. Isso teve enorme valor para reverter o quadro que, no primeiro instante, parecia mais favorável a Aécio Neves. O discuso petista conseguiu conter o crescimento de Aécio e, no segundo momento, derrubá-lo. Para a campanha, Dilma levou pessoas de sua confiança: Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Jaques Wagner. Com exceção de Mercadante, Rossetto e Wagner foram ministros de Lula, mas têm forte ligação com a presidente.
Por mais que Lula tenha influenciado na formação do ministério do primeiro governo, no início do mandato, Dilma mostrou que o Palácio do Planalto é dela. Ao substituir Antonio Palocci, levou para a vaga Gleisi Hoffmann, que não seria a escolhida por Lula. E depois dela, Mercadante, que também não foi levado para o governo com Lula.
Sendo assim, é possível imaginar que Dilma reforce a equipe por seu estilo. Rossetto e Jaques Wagner têm temperamento mais conciliador e mais aberto ao diálogo. Os dois, dizem os mais próximos, têm mais poder de persuasão em relação a Dilma e fazem questão de baixar o tom quando a temperatura política está alta. Não é o caso de Mercadante que é sempre enfático e adepto do estilo "nós contra eles".
Um exemplo disso pôde ser visto na saída do último debate da campanha presidencial na TV Globo. Ao cruzar com o tucano José Serra na saída, Jaques Wagner tomou a iniciativa: "Precisamos conversar, rapaz". Não é o que ele quer, mas o governador da Bahia começa a se movimentar como articulador para o governo. Antes do resultado das urnas, ele fez um gesto para a oposição que Dilma não fez no discurso da vitória. Ela falou em diálogo com todos os brasileiros e todas as brasileiras, mas não fez menção à oposição.
Pequenos sinais vão sendo dados, mas ninguém arrisca nada sobre o papel de Lula e sobre qual o tamanho da força que Dilma vai usar em seu segundo mandato.
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