15/10/2014 | domtotal.com
Dia 18 de outubro, dia de São Lucas, comemora-se o DIA DO MÉDICO. O que se tem para comemorar?
Por Evaldo D´Assumpção*
Formei-me em Medicina em 1963. Nessa época eram duas as Faculdades de Medicina na Capital mineira. Os exames vestibulares eram específicos para cada Faculdade, e quem se inscrevia o fazia por vocação. Melhor dizendo, por decisão pessoal de ser Médico. Por isso havia os que prestavam exames pela terceira e até quarta vez, até lograr a aprovação. Afinal, era o que desejavam ser.
Cinquenta anos são passados e tudo mudou radicalmente. Hoje, boa parte dos estudantes não sabe a profissão que deseja ter. São raros os jovens que estão realmente decididos a ser Médicos, Engenheiros, Advogados, etc. por uma livre opção pessoal, fruto de verdadeira vocação. Quem sabe, trazem esta decisão gravada em sua carga genética. E são estes os que, de um modo geral e sem quase margem de erro, tornam-se profissionais éticos, capazes, exemplares. A maioria quer apenas um título de “doutor”, não importa qual, ou então vislumbra naquela profissão, apenas o filão com boas probabilidades de robusto retorno financeiro, muitas vezes em decorrência de oportunidades familiares e ancestrais.
Na medicina, além da escolha profissional, existe a decisão sobre a especialidade a ser seguida. Se alguns ainda se sentem perdidos nesse mister, outros já pesquisaram as de maior rentabilidade, as de melhores possibilidades para se lograr, a curto prazo, o sucesso dos médicos-modelo que lhes serviram de inspiração. Estes constituem o grupo a que chamo de “profissionais”. São práticos, objetivos, muitas vezes obstinados e capazes de superar obstáculos como tratores abrindo passagem. Por vezes pouco escrupulosos, não se importam em infringir algumas normas éticas, desde que o retorno financeiro compense. Tampouco se preocupam com possíveis danos que possam causar aos que recorrem aos seus serviços. Importante é o lucro.
Existe outro grupo, ao qual chamo de “artistas”. Estes já se envolvem mais com a profissão escolhida, porém seu objetivo é também o sucesso, a notoriedade. Mas buscam alcançá-los por vias distintas, quase sempre pelo “state-of-the-art”, como dizem os de língua inglesa. Ou seja, “a excelência da arte”. Eles se preocupam com a medicina de ponta, de alta tecnologia. Gostam mais de trabalhar em instituições de pesquisa, sonham com grandes descobertas, se orgulham em citar os convites que recebem para conferências, especialmente se vierem de outros países. Publicam, às vezes compulsivamente, trabalhos científicos e livros. Sentem-se mais confortáveis em congressos e reuniões científicas que frequentam com grande intensidade, do que nos consultórios. Conquistam mestrados, doutorados, tornam-se professores com teses defendidas com brilhantismo. Sem dúvida, alguns deles trazem contribuições importantes para a saúde pública, e até possuem uma boa relação com os enfermos. Mas, o importante mesmo é a sua citação internacional, mesmo que seus trabalhos sejam de pouco proveito para o povo em geral.
E chegamos àqueles a quem chamo de MÉDICOS. Sim, com letras maiúsculas, porque são os que se formaram por compaixão (Compaixão significa compartilhar a dor dos que sofrem). Aqueles que sempre perceberam a medicina como um campo onde poderiam ajudar aos angustiados, aliviar as dores, curar enfermidades. Porém, muito mais do que isso, acolher compassivamente os que necessitam de quem os escute, de quem lhes dê a mão, de quem não se preocupe em usar neles os novos e avançadíssimos recursos propedêuticos e terapêuticos, exames sofisticados – obviamente de custo elevadíssimo – que diagnosticam doenças raríssimas, e cujos tratamentos quase sempre sacrificam enormemente os enfermos, abalam as finanças familiares, e nem sempre são proporcionalmente eficazes. Procedimentos que visam mais a satisfação científica do médico do que o alívio, o conforto e a cura do enfermo.
Estes MÉDICOS são os que valorizam sim, os estudos e os congressos, pois neles aprendem a fazer melhor o que fazem. Todavia não se deixam levar pelo canto das sereias tecnológicas, não se envergonham de usar tratamentos simples – mas supreendentemente eficientes. São os que acreditam ser essencial em sua prática médica, a anamnese, ou seja, o escutar das queixas do enfermo e as informações dos seus familiares; o exame clínico meticuloso, quase sempre demorado, tocando o paciente para perceber cada fibra do seu organismo combalido. São esses os que raramente se tornam materialmente ricos, quase nunca milionários, mas que trazem dentro de si a felicidade de estar realizando o sonho hipocrático que um dia tiveram, e ao qual nunca traíram.
Hoje, os tempos são outros. Os médicos “profissionais” multiplicam-se geometricamente e os “artistas” multiplicam-se aritmeticamente. Os MÉDICOS, estes ainda existem e resistem, mas sem dúvida são espécime em extinção. Abençoados sejam todos eles, para que persistam sempre nesse caminho que é o mais precioso dom que receberam do Criador!
Formei-me em Medicina em 1963. Nessa época eram duas as Faculdades de Medicina na Capital mineira. Os exames vestibulares eram específicos para cada Faculdade, e quem se inscrevia o fazia por vocação. Melhor dizendo, por decisão pessoal de ser Médico. Por isso havia os que prestavam exames pela terceira e até quarta vez, até lograr a aprovação. Afinal, era o que desejavam ser.
Cinquenta anos são passados e tudo mudou radicalmente. Hoje, boa parte dos estudantes não sabe a profissão que deseja ter. São raros os jovens que estão realmente decididos a ser Médicos, Engenheiros, Advogados, etc. por uma livre opção pessoal, fruto de verdadeira vocação. Quem sabe, trazem esta decisão gravada em sua carga genética. E são estes os que, de um modo geral e sem quase margem de erro, tornam-se profissionais éticos, capazes, exemplares. A maioria quer apenas um título de “doutor”, não importa qual, ou então vislumbra naquela profissão, apenas o filão com boas probabilidades de robusto retorno financeiro, muitas vezes em decorrência de oportunidades familiares e ancestrais.
Na medicina, além da escolha profissional, existe a decisão sobre a especialidade a ser seguida. Se alguns ainda se sentem perdidos nesse mister, outros já pesquisaram as de maior rentabilidade, as de melhores possibilidades para se lograr, a curto prazo, o sucesso dos médicos-modelo que lhes serviram de inspiração. Estes constituem o grupo a que chamo de “profissionais”. São práticos, objetivos, muitas vezes obstinados e capazes de superar obstáculos como tratores abrindo passagem. Por vezes pouco escrupulosos, não se importam em infringir algumas normas éticas, desde que o retorno financeiro compense. Tampouco se preocupam com possíveis danos que possam causar aos que recorrem aos seus serviços. Importante é o lucro.
Existe outro grupo, ao qual chamo de “artistas”. Estes já se envolvem mais com a profissão escolhida, porém seu objetivo é também o sucesso, a notoriedade. Mas buscam alcançá-los por vias distintas, quase sempre pelo “state-of-the-art”, como dizem os de língua inglesa. Ou seja, “a excelência da arte”. Eles se preocupam com a medicina de ponta, de alta tecnologia. Gostam mais de trabalhar em instituições de pesquisa, sonham com grandes descobertas, se orgulham em citar os convites que recebem para conferências, especialmente se vierem de outros países. Publicam, às vezes compulsivamente, trabalhos científicos e livros. Sentem-se mais confortáveis em congressos e reuniões científicas que frequentam com grande intensidade, do que nos consultórios. Conquistam mestrados, doutorados, tornam-se professores com teses defendidas com brilhantismo. Sem dúvida, alguns deles trazem contribuições importantes para a saúde pública, e até possuem uma boa relação com os enfermos. Mas, o importante mesmo é a sua citação internacional, mesmo que seus trabalhos sejam de pouco proveito para o povo em geral.
E chegamos àqueles a quem chamo de MÉDICOS. Sim, com letras maiúsculas, porque são os que se formaram por compaixão (Compaixão significa compartilhar a dor dos que sofrem). Aqueles que sempre perceberam a medicina como um campo onde poderiam ajudar aos angustiados, aliviar as dores, curar enfermidades. Porém, muito mais do que isso, acolher compassivamente os que necessitam de quem os escute, de quem lhes dê a mão, de quem não se preocupe em usar neles os novos e avançadíssimos recursos propedêuticos e terapêuticos, exames sofisticados – obviamente de custo elevadíssimo – que diagnosticam doenças raríssimas, e cujos tratamentos quase sempre sacrificam enormemente os enfermos, abalam as finanças familiares, e nem sempre são proporcionalmente eficazes. Procedimentos que visam mais a satisfação científica do médico do que o alívio, o conforto e a cura do enfermo.
Estes MÉDICOS são os que valorizam sim, os estudos e os congressos, pois neles aprendem a fazer melhor o que fazem. Todavia não se deixam levar pelo canto das sereias tecnológicas, não se envergonham de usar tratamentos simples – mas supreendentemente eficientes. São os que acreditam ser essencial em sua prática médica, a anamnese, ou seja, o escutar das queixas do enfermo e as informações dos seus familiares; o exame clínico meticuloso, quase sempre demorado, tocando o paciente para perceber cada fibra do seu organismo combalido. São esses os que raramente se tornam materialmente ricos, quase nunca milionários, mas que trazem dentro de si a felicidade de estar realizando o sonho hipocrático que um dia tiveram, e ao qual nunca traíram.
Hoje, os tempos são outros. Os médicos “profissionais” multiplicam-se geometricamente e os “artistas” multiplicam-se aritmeticamente. Os MÉDICOS, estes ainda existem e resistem, mas sem dúvida são espécime em extinção. Abençoados sejam todos eles, para que persistam sempre nesse caminho que é o mais precioso dom que receberam do Criador!
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor
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