03/10/2014 | domtotal.com
Na perspectiva do progresso da Ciência é muito interessante que os pesquisadores publiquem suas contribuições e as socializem para seus colegas e outros interessados. Por outro lado, o registro das atividades e produções de pesquisadores e professores permite verificar a eficácia dos investimentos aplicados no ensino e pesquisa. Neste sentido, o “Currículo Lattes”, que todos os acadêmicos devem manter em dia, é uma coisa louvável.
Constata-se, porém, uma desvirtuação. O currículo tornou-se um instrumento de propaganda e de competição, tanto da parte dos professores e pesquisadores em particular como também das Instituições de Ensino Superior. Querem mostrar serviço: “para Lattes ver”... Quanto mais publicações, mais chances de promoção. As Instituições são obrigadas a entregar coleta de dados a respeito da produção de seus membros, para receberem incentivos. Tanto os docentes e pesquisadores em particular quanto as instituições cedem à tendência de alistar o maior número possível de produções e atividades. Olhando os currículos de muitos professores, percebe-se com admiração, na Academia, uma plêiade de super-homens. Contudo, ao se verificar o conhecimento e a cultura dos alunos – e, às vezes, dos próprios professores –, a admiração ganha outro sentido...
Algumas Instituições de Ensino Superior contam com um coordenador ou secretário que se especializa em tornar registrável qualquer sopro dos docentes ou pesquisadores. São verdadeiros “latti-fundiários”. A improbabilidade grita ao céu. Mas tem que ser levada em consideração no momento da avaliação trienal pelas CAPES.
Eu sugeriria que, em vez de se exigir a lista exaustiva das produções, o currículo Lattes fosse programado para receber somente aquelas produções que realmente representem uma contribuição de qualidade, confiável, sólida e, se possível, original. Poder-se-ia propor que os docentes e pesquisadores lançassem no currículo somente as cinco melhores produções do ano, pois mais coisa séria do que isso é difícil produzir. Como está agora, o currículo Lattes de alguns acadêmicos recém-formados, que querem impressionar a qualquer preço, vira um “ridículo Lattes”.
E mencione-se ainda a indústria das citações. Alguém é mais valorizado na Academia se pode apontar mais citações de suas produções em publicações científicas. Ora, é só se entender com um grupo de colegas: citam-se mutuamente – uma espécie de mafia de citações. Certo acadêmico, por mera travessura, driblou a comissão científica e publicou, numa renomada revista científica, um erro patente. O resultado foi esplêndido: ele tornou-se um dos cientistas mais citados do ano. E ainda teve a oportunidade de publicar outro artigo para explicar que seu erro era na realidade um teste...
Por trás dos fenômenos aqui lembrados está o mito da quantificação, que corresponde ao mecanicismo materialista da modernidade, pois a matéria é res extensa. Só se considera o que é descritível em termos de quantidade. Esquece-se, porém, uma regra da logica minor de Aristóteles: “quam maior extensio, eo minor intentio”, ou seja: quanto mais coisas se abarcam, menos conteúdo têm. O saber é atomizado numa multidão de produções, mas pouco importa o que se “sabe realmente”. Colabora para este fenômeno a informatização: sabe-se onde localizar a informação, mas não se sabe raciocinar com ela. Os “serviços de inteligência”, muitas vezes, colecionam tantas informações que se torna impossível tirar delas saber algum. As estatísticas exibem pletora de dados, e poucos são os que sabem interpretá-los. Informação ainda não é saber, embora, por outro lado, saber sem informação não passa de fantasia.
Digo isto não para condenar a informatização, o registro da produção e coisas semelhantes, mas para que não se confundam as coisas. Os membros das Instituições de Ensino Superior são julgados com base em produções quantificáveis, mas não é assim que descobre quem é bom professor. A pesquisa é valorizada, a boa docência, não. Mas sem bons docentes, que talvez nem tenham tempo para se dedicar ao que é considerado “produção”, logo mais não haverá mais pesquisadores bem formados. É necessária uma reavaliação dos critérios de avaliação...
Constata-se, porém, uma desvirtuação. O currículo tornou-se um instrumento de propaganda e de competição, tanto da parte dos professores e pesquisadores em particular como também das Instituições de Ensino Superior. Querem mostrar serviço: “para Lattes ver”... Quanto mais publicações, mais chances de promoção. As Instituições são obrigadas a entregar coleta de dados a respeito da produção de seus membros, para receberem incentivos. Tanto os docentes e pesquisadores em particular quanto as instituições cedem à tendência de alistar o maior número possível de produções e atividades. Olhando os currículos de muitos professores, percebe-se com admiração, na Academia, uma plêiade de super-homens. Contudo, ao se verificar o conhecimento e a cultura dos alunos – e, às vezes, dos próprios professores –, a admiração ganha outro sentido...
Algumas Instituições de Ensino Superior contam com um coordenador ou secretário que se especializa em tornar registrável qualquer sopro dos docentes ou pesquisadores. São verdadeiros “latti-fundiários”. A improbabilidade grita ao céu. Mas tem que ser levada em consideração no momento da avaliação trienal pelas CAPES.
Eu sugeriria que, em vez de se exigir a lista exaustiva das produções, o currículo Lattes fosse programado para receber somente aquelas produções que realmente representem uma contribuição de qualidade, confiável, sólida e, se possível, original. Poder-se-ia propor que os docentes e pesquisadores lançassem no currículo somente as cinco melhores produções do ano, pois mais coisa séria do que isso é difícil produzir. Como está agora, o currículo Lattes de alguns acadêmicos recém-formados, que querem impressionar a qualquer preço, vira um “ridículo Lattes”.
E mencione-se ainda a indústria das citações. Alguém é mais valorizado na Academia se pode apontar mais citações de suas produções em publicações científicas. Ora, é só se entender com um grupo de colegas: citam-se mutuamente – uma espécie de mafia de citações. Certo acadêmico, por mera travessura, driblou a comissão científica e publicou, numa renomada revista científica, um erro patente. O resultado foi esplêndido: ele tornou-se um dos cientistas mais citados do ano. E ainda teve a oportunidade de publicar outro artigo para explicar que seu erro era na realidade um teste...
Por trás dos fenômenos aqui lembrados está o mito da quantificação, que corresponde ao mecanicismo materialista da modernidade, pois a matéria é res extensa. Só se considera o que é descritível em termos de quantidade. Esquece-se, porém, uma regra da logica minor de Aristóteles: “quam maior extensio, eo minor intentio”, ou seja: quanto mais coisas se abarcam, menos conteúdo têm. O saber é atomizado numa multidão de produções, mas pouco importa o que se “sabe realmente”. Colabora para este fenômeno a informatização: sabe-se onde localizar a informação, mas não se sabe raciocinar com ela. Os “serviços de inteligência”, muitas vezes, colecionam tantas informações que se torna impossível tirar delas saber algum. As estatísticas exibem pletora de dados, e poucos são os que sabem interpretá-los. Informação ainda não é saber, embora, por outro lado, saber sem informação não passa de fantasia.
Digo isto não para condenar a informatização, o registro da produção e coisas semelhantes, mas para que não se confundam as coisas. Os membros das Instituições de Ensino Superior são julgados com base em produções quantificáveis, mas não é assim que descobre quem é bom professor. A pesquisa é valorizada, a boa docência, não. Mas sem bons docentes, que talvez nem tenham tempo para se dedicar ao que é considerado “produção”, logo mais não haverá mais pesquisadores bem formados. É necessária uma reavaliação dos critérios de avaliação...
Johan KoningsJohan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara.
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