Certa senhora disse que aprendera a não rezar pelos suicidas. Segundo o que lhe foi ensinado, tais pessoas não teriam lugar no Céu, uma vez que negaram o dom mais precioso que Deus nos dá, a vida. Portanto, por negarem o dom de Deus, os suicidas pertenceriam ao diabo e, desse modo, não se deve clamar por eles.
Fico me questionando sobre a evangelização que recebemos. Que Evangelho, isto é, que Boa Notícia é essa que nos priva de exercer algo ensinado pela própria religião como sendo uma das obras de misericórdia, o ato de orar pelos falecidos? Quem ora por outro, volta para este o próprio coração. Se rezo por alguém é porque meu coração está cheio dessa pessoa e quero confiá-la Àquele que dela pode cuidar melhor. Rezar por inimigos é esvaziar o coração do ódio que se sente, rezar por amigos é transbordar de amor, rezar por um suicida é compadecer-se de sua dor. Questiono-me acerca dos arautos e pregoeiros do Céu que não fazem passar suas leis e mandamentos pelo crivo do amor. Tais pessoas não anunciam uma boa nova, mas somente a malfadada religião da culpa, que troca a escravidão do pecado pela escravidão da lei. São os mesmos que censuravam Jesus por curar em dia ilícito e que, hoje, tantas vezes, autodenominam-se cristãos. Não faço uma defesa do suicídio, mas não nos compete fechar as portas da eternidade.
O suicídio tem a ver com o “peso do mundo”, quando a existência é sentida com gravidade. O suicida sente o peso das responsabilidades, dos problemas e de tantas outras coisas sobre si, de tal forma, que não aguenta afirmar-se na existência. As coisas se tornaram maior do que ele. Em linguagem filosófica, poderíamos dizer que há um desejo de sersi-mesmo e não conseguir ou de ser um outro, de viver uma outra vida, e não poder. Desse desespero sobre a própria existência, a morte se apresenta como uma saída. Um suicida é antes de tudo alguém que viveu com gravidade. Seus irmãos são o louco e o místico. O louco não busca a saída para fora, mas para dentro. A loucura é o mergulho na própria subjetividade, saída do mundo da vida para o mundo próprio. O místico é alguém que encontrou uma transcendência, alguém que, também se dando conta do peso do mundo, entende que há algo maior, fundamento de si e do mundo. Se a existência é sentida com gravidade, pela contemplação é possível vislumbrá-la para além de suas aparências e, pela caridade, colaborar para a manifestação desse mundo que se contempla no aqui e agora.
Se o suicida, o louco e o místico se irmanam, seria demasiado pensar num santo suicida? Pois é isso que Micheliny Verunschk faz no seu romance "Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida", lançado pela Editora Patuá. O livro, que tem patrocínio da Petrobras Cultural, traz a trágica história de Teresa, sua vida e morte, segundo a narrativa de um velho, embaçando a tênue linha que separa suicídio, loucura e santidade. Não se trata de uma apologia ao suicídio, mas um mergulho na complexidade do dinamismo humano. A obra (profana) de Micheliny acaba por ser um ato de misericórdia à memória dos que não suportaram a existência. De modo secular, o livro faz o que muitos pregadores não dão conta, educa o olhar para a compaixão.
Rezemos para que a vida seja sentida com leveza!
Saiba mais sobre o livro e a autora no site da editora. Lá é possível ler um trecho do primeiro capítulo. Acesse:
http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=277
Fico me questionando sobre a evangelização que recebemos. Que Evangelho, isto é, que Boa Notícia é essa que nos priva de exercer algo ensinado pela própria religião como sendo uma das obras de misericórdia, o ato de orar pelos falecidos? Quem ora por outro, volta para este o próprio coração. Se rezo por alguém é porque meu coração está cheio dessa pessoa e quero confiá-la Àquele que dela pode cuidar melhor. Rezar por inimigos é esvaziar o coração do ódio que se sente, rezar por amigos é transbordar de amor, rezar por um suicida é compadecer-se de sua dor. Questiono-me acerca dos arautos e pregoeiros do Céu que não fazem passar suas leis e mandamentos pelo crivo do amor. Tais pessoas não anunciam uma boa nova, mas somente a malfadada religião da culpa, que troca a escravidão do pecado pela escravidão da lei. São os mesmos que censuravam Jesus por curar em dia ilícito e que, hoje, tantas vezes, autodenominam-se cristãos. Não faço uma defesa do suicídio, mas não nos compete fechar as portas da eternidade.
O suicídio tem a ver com o “peso do mundo”, quando a existência é sentida com gravidade. O suicida sente o peso das responsabilidades, dos problemas e de tantas outras coisas sobre si, de tal forma, que não aguenta afirmar-se na existência. As coisas se tornaram maior do que ele. Em linguagem filosófica, poderíamos dizer que há um desejo de sersi-mesmo e não conseguir ou de ser um outro, de viver uma outra vida, e não poder. Desse desespero sobre a própria existência, a morte se apresenta como uma saída. Um suicida é antes de tudo alguém que viveu com gravidade. Seus irmãos são o louco e o místico. O louco não busca a saída para fora, mas para dentro. A loucura é o mergulho na própria subjetividade, saída do mundo da vida para o mundo próprio. O místico é alguém que encontrou uma transcendência, alguém que, também se dando conta do peso do mundo, entende que há algo maior, fundamento de si e do mundo. Se a existência é sentida com gravidade, pela contemplação é possível vislumbrá-la para além de suas aparências e, pela caridade, colaborar para a manifestação desse mundo que se contempla no aqui e agora.
Se o suicida, o louco e o místico se irmanam, seria demasiado pensar num santo suicida? Pois é isso que Micheliny Verunschk faz no seu romance "Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida", lançado pela Editora Patuá. O livro, que tem patrocínio da Petrobras Cultural, traz a trágica história de Teresa, sua vida e morte, segundo a narrativa de um velho, embaçando a tênue linha que separa suicídio, loucura e santidade. Não se trata de uma apologia ao suicídio, mas um mergulho na complexidade do dinamismo humano. A obra (profana) de Micheliny acaba por ser um ato de misericórdia à memória dos que não suportaram a existência. De modo secular, o livro faz o que muitos pregadores não dão conta, educa o olhar para a compaixão.
Rezemos para que a vida seja sentida com leveza!
Saiba mais sobre o livro e a autora no site da editora. Lá é possível ler um trecho do primeiro capítulo. Acesse:
http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=277
Gilmar P. da Silva SJMestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.
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