24/11/2014 | domtotal.com
Nossa vida é um dom do Criador para colocarmos nossos talentos na prática da realização do Seu projeto.
Por Dom Alfredo Schaffler*
A virtude é exaltada pelas pessoas que sabem distinguir o bem do mal, de acordo com a ética, a honradez, os valores inerentes à dignidade humana e o altruísmo. Mas hoje se confunde muito o mal moral com o bem subjetivo, a ponto de se inverterem os valores.A "esperteza" ou a "lei de Gerson" é considerada como a virtude de quem está acima do bem e do mal. Valoriza-se quem se projeta passando por cima dos frágeis. Aí acontecem a compra de votos, a apresentação de alguém se considerar superior ou mais importante dos demais por ter ludibriado os outros nos negócios e empreendimentos, bem como em situações de concorrência.
A Bíblia apresenta a mulher virtuosa na pessoa de quem tudo faz com dedicação e amor para servir a família em vista de um ideal de dar de si para o bem do lar (Cf. Provérbios 31,10-31). Não se trata de uma condição servil na subserviência devida à condição cultural da época, mas da virtude de quem entende o convívio familiar assumido com apreço e vontade de fazê-lo bom para todos os seus membros. Precisamos de exemplos assim para realçar o altruísmo como base para se praticarem as virtudes humanas.
Estas levam à atitude de ternura, desapego, serviço de amor e prática da solidariedade. Viver apenas para se pensar cada um para si não focaliza a realidade humana frente a um ideal de serviço ao bem comum. Sem a consistência do valor de se viver para ajudar a construir um mundo mais justo e humano, faz o egoísmo grassar a comunidade, a ponto de se pensar que virtude é olhar para si sem compromisso com o bem estar dos outros. Nossa vida é um dom do Criador para colocarmos nossos talentos na prática da realização do Seu projeto, que nos quer felizes já na terra.
Para isso, é preciso que cada um coloque seus dons a serviço do bem comum. Caso contrário, nós nos tornamos servos inúteis. Seríamos como os jogadores que pensassem só em si individualmente, sem colaborar com o time para ele ganhar o jogo. Na realidade, o time só ganha quando o ajudarmos a ganhar.
É preciso reconstituir o sentido original das virtudes, para elas serem a prática de um compromisso solidário, com manifestação de ética e altruísmo nas relações interpessoais. A virtude considerada só como um bem para si não dá fruto. Seria como uma árvore frutífera que não produz nada. Ao mesmo tempo, o conjunto de virtudes pessoais deve estar atrelado à sua finalização, ou seja, a de ser o cultivo de valores pessoais que culminem com o benefício do semelhante.
Na parábola dos talentos Jesus apresenta o cuidado de quem os recebe para desenvolvê-los de acordo com o que foi contratado pelo dono que os emprestou. De fato, não somos donos de nossa vida e de nossas qualidades. Na hora em que Deus nos chamar para a eternidade, devemos ter o resultado do que fizemos com os dons na vida presente.
Ao contrário, podemos nada receber por não termos merecido o que não fizemos com os pendores recebidos. Poderemos ouvir: “Servo mau e preguiçoso!... Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão” (Mateus 2526.30).
O apóstolo Paulo lembra que os talentos são outorgados por Deus para serem colocados a serviço do bem comum (1 Coríntios 12,7). Firme na fé e fiquem com Deus!
CNBB, 21-11-2014.
*Dom Alfredo Schaffler é bispo de Parnaíba (PI).
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