21/11/2014 | domtotal.com
Apesar da economia estagnada, houve aumento nas taxas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado.
Por Daniela Chiaretti
A economia brasileira, praticamente estagnada, está crescendo pouco mas emitindo muitos gases-estufa. O motivo é o aumento nas taxas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, além do uso maior de combustíveis fósseis na matriz energética.
As emissões brasileiras de gases-estufa aumentaram 7,8% em 2013 em relação ao ano anterior e bateram em 1,5 bilhão de toneladas de CO2. É a primeira vez que aumentam desde 2008.
Esses dados fazem parte das estimativas anuais de emissões do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. O SEEG é uma ferramenta desenvolvida em 2013 para calcular anualmente as emissões brasileiras e identificar sua origem. O Observatório do Clima, por sua vez, é uma rede de entidades da sociedade civil que estuda a mudança do clima no seu contexto brasileiro.
Embora desaquecida, a economia brasileira ficou menos eficiente em relação às emissões de gases de efeito estufa - está mais "carbonizada", como se diz no jargão. Em uma conta estimada feita por Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG, produzir na economia de baixo carbono seria conseguir R$ 40 mil por tonelada de CO2. "Estamos bem longe de termos uma economia de baixo carbono", disse ele no seminário em que se divulgaram as novas estimativas.
A relação das emissões brasileiras de gases-estufa com o PIB era de R$ 3.251 em 2012 e passou a R$ 3.090 em 2013. Dito de outra forma, o dado demonstra que se criou menos riqueza emitindo-se mais.
"O aumento nas emissões não é nada desprezível. Todos os setores da economia emitiram mais em 2013", diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Segundo ele, o aumento de 2013 representa uma reversão na tendência de queda que acontecia desde 2005, puxada pela redução nas taxas anuais de desmatamento. Em 2012, as emissões brasileiras chegaram a seu menor valor, com 1.454 milhão de toneladas de CO2 equivalente (medida que equipara os outros gases estufa ao CO2). O dado exato de 2013 é 1.568 milhão de toneladas.
O aumento das emissões foi puxado pelas mudanças no uso da terra (35% das emissões totais), com o crescimento no desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Energia teve grande responsabilidade (30% das emissões) em função do aumento no uso de energia termelétrica de fontes fósseis e consumo de gasolina e diesel.
A agropecuária continua a ser a principal fonte de emissões: 63,4% em 2013, somando-se desmatamento, energia e resíduos resultantes da produção.
"O pano de fundo de tudo isso é que não trouxemos o tema da mudança climática ainda, de forma estratégica, para dentro das políticas públicas e do desenvolvimento do país", diz Rittl. "Estamos ignorando o clima nos planos de fomento da indústria, nos grandes incentivos à agricultura, nas obras de infraestrutura, na matriz energética. Não consideramos o clima nem para desenvolver estes setores, nem para torná-los menos vulneráveis", continua.
Pará (11,2%) e Mato Grosso (9,4%) lideram o ranking dos Estados mais emissores de gases-estufa no país, seguidos por São Paulo (8,5%) e Minas Gerais (7,5%).
Os brasileiros, per capita, emitem 7,8 t CO2. É o primeiro aumento de emissões por habitante desde 2004 (quando a emissão por brasileiro chegou a 16,4 tCO2 /habitante, índice puxado pelas altas taxas de desmatamento).
Os dados do SEEG estão disponíveis na plataforma online (www.seeg.eco.br). O trabalho envolve organizações como o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Imaflora, Imazon e Iclei.
Valor, 20-11-2014.
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