3/11/2014 | domtotal.com
O longa de Cris D’Amato, inaugura o que talvez seja um novo gênero no cinema brasileiro, a comédia espírita.
Glória Pires não vacila e vai logo contando o que a atraiu no roteiro de "Linda de Morrer", o longa de Cris D’Amato que filma, atualmente, no Rio. "Foi a relação mãe/filha." A própria diretora faz eco de suas palavras. "Nós, mulheres, estamos muito competitivas. Avançamos muito no mercado de trabalho, mas isso, muitas vezes, em detrimento das condições familiares. Não podemos ser profissionais, mães e esposas em tempo integral. Alguma coisa termina sempre sendo sacrificada."
Ela está de volta, e linda de morrer. Mas, atenção, o longa de Cris D’Amato, a diretora de - entre outros sucessos - S.O.S. Mulheres ao Mar (2 milhões de espectadores), inaugura o que talvez seja um novo gênero no cinema brasileiro, a comédia espírita.
Durante boa parte do tempo, Glória Pires estará presente, em Linda de Morrer, como espírito. A trama do filme é a seguinte. Glória faz uma dermatologista internacionalmente reconhecida. Ela cria uma fórmula para eliminar a celulite - "o sonho de todas as mulheres", ecoam a diretora e a produtora Iafa Britz, da Migdal Filmes -, mas o produto tem efeitos colaterais e aos 10 minutos, mais ou menos, durante uma festa, Glória sofre uma queda que produz sua morte.
Cris D’Amato pensa em termos de páginas de roteiro. Glória morre na página 10 e, nas 60 páginas seguintes, tenta - utilizando-se de um intermediário, como Patrick Swayze em Ghost - Do Outro Lado da Vida - convencer a filha a interromper as vendas do creme milagroso. Mas até que isso ocorra, ela busca estabelecer um canal de comunicação com a filha. Sua última frase para a filha, após uma discussão, é: "Você não merece a mãe que tem". Glória reflete: "Quantas vezes dizemos essas coisas sem nem refletir. Ocorre uma desgraça e o peso do que fica dito é mortal. Por que é tão mais difícil dizer eu te amo? Estou numa fase de manifestar meu amor pelos filhos. Não faço mais segredo. Com os meninos, que ainda são pequenos, é mais fácil do que com elas".
'Elas' são as filhas adultas, Ana, Cléo e Antônia, e a última divide a cena com a mãe em Linda de Morrer. É o primeiro filme da Antônia Morais, e na cena rodada nesse dia, numa casa da Urca o flerte de Antônia, um psicólogo transformado em intermediário por Glória - só ele consegue vê-la -, está tentando promover a reaproximação das duas. Emílio Dantas, o Cazuza do musical, é quem faz o papel. Pela simples rodagem da cena dá para perceber que Emílio e Antônia vão ficar, e que o espírito de mamãe será o cupido da história. Bem diferente da personagem que Glória Pires vai fazer na próxima novela das nove. A atriz viaja dia 20, logo após concluir a filmagem de Linda de Morrer - quatro semanas, das quais já se completaram duas -, para gravar suas primeiras cenas.
Vai para Paris, onde viveu tanto tempo com o marido, o músico Orlando Morais. Ele ainda se divide entre a França e o Brasil. O restante da família - Glória, os meninos, Antônia - está de volta ao País, e já faz algum tempo. Enquanto Glória estiver gravando na França, outra parte do elenco - da trama - estará nos EUA. O que o amigo Gilberto Braga lhe oferece desta vez? "Vou fazer uma ninfomaníaca." Como? Baixou Lars Von Trier na Globo? Ela ri. "Pois é. O Gilberto criou para mim essa personagem que promete muito. Viciada em sexo, que usa como ferramenta de poder. Vou ser uma vilã", acrescenta.
Depois do beijo gay de Walcyr Carrasco e das lésbicas de Manoel Carlos, a Globo avança na questão comportamental. Pois não é nessa novela de Gilberto Braga - Babilônia - que Fernanda Montenegro e Natália Timberg vão formar um par gay? Glória está animada. "São temas da vida contemporânea, e o Gilberto escreve muito bem. Não vai abordar essas coisas só para causar." Na TV e no cinema, Glória acredita que novelas e filmes podem ajudar na discussão de temas relevantes. "A questão do afeto é essencial para a gente construir um mundo melhor. E o afeto, como aceitação do outro, é a rejeição do preconceito."
Pare agora um pouco e olhe a foto aí em cima. Glória não está linda? "Obrigado, a gente tenta...", e ela deixa a frase no ar, como uma evasiva. No filme, a personagem morre durante uma festa. E, quando se desprende do corpo, a alma de Glória fica vagando de pés descalços (o símbolo da morte no Oriente) e com o vestido que usava, o bordozinho que você está vendo. É uma criação da figurinista Reka Koves. "Nunca vesti um figurino tão fácil num filme", brinca a atriz. Durante todo o filme, ela usa apenas três vestidos, e esse bordô, em especial, foi confeccionado três vezes. Três vestidos iguais, que Glória vai revezando no set.
O modelo é austero de frente - distinto, como convém a uma executiva -, mas quando Glória se vira... Fiu fiu! Um decote quadrado deixa as costas descobertas, bem sexy. A cor foi uma escolha da própria Glória. "Levamos para ela o desenho do modelo e oferecemos as opções de cor. Glória é mulher, né? Sabe o que levanta a gente. Não um vermelho, que seria muito chamativo, mas um bordô", explica Cris D’Amato. Glória já explicou o que a atraiu no filme. É uma atriz que alterna comédias e dramas, filmes e novelas, personagens reais e de ficção. "No limite, tudo é ficção, mas, quando a personagem é real, é preciso respeitar. Faço a minha lição de casa."
A mãe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, não era uma personagem pública, conhecida como a Lota Macedo Soares de Flores Raras, de Bruno Barreto, mas, em ambos os casos, Glória tentou ser fiel ao que se sabe dessas mulheres. E quanto a fazer comédia, diz: "Adoro. O humor pode dar a impressão de ser mais fácil, mas tem um tempo que exige muito da gente". Mãe e filha na ficção, mãe o filha na realidade - no set, Glória contracena com sua filha Antônia. As duas já estiveram juntas na TV, num dos episódios de As Brasileiras, A Mamãe da Barra. Filha de Glória Pires com o cantor Orlando Morais e irmã de Ana Pires, Bento Pires e da atriz Cléo Pires, começou a carreira fazendo pequena participação em Anjo Mau.
A carreira para valer, não só de participações, iniciou com a Isadora do remake de Guerra dos Sexos, apaixonada pelo Ronaldo de Jesus Luz. Lá também, como em As Brasileiras, Antônia atuava à sombra da mãe. Ela não vê problema. "Estou começando, e a Glória é uma atriz fantástica, um espelho para qualquer uma, não só para mim, que sou filha." Uma frase da personagem na cena que o repórter viu filmar ultrapassa a ficção. "Qual é a filha que não briga com a mãe?" Pois é, e Antônia ri. Está feliz da vida. Antes de o primeiro filme sair - a estreia será em agosto do ano que vem -, ela lança no começo do ano o disco que produziu inteiramente no próprio computador. Antônia canta, compõe, produz. "São poesias de afeto transformadas em música." Ela faz seu som sem se preocupar com o mercado. "É conceitual, autoral. Faço porque amo." Agora é a mãe coruja que fala. "Essa menina tem o DNA da música no sangue."
Ela está de volta, e linda de morrer. Mas, atenção, o longa de Cris D’Amato, a diretora de - entre outros sucessos - S.O.S. Mulheres ao Mar (2 milhões de espectadores), inaugura o que talvez seja um novo gênero no cinema brasileiro, a comédia espírita.
Durante boa parte do tempo, Glória Pires estará presente, em Linda de Morrer, como espírito. A trama do filme é a seguinte. Glória faz uma dermatologista internacionalmente reconhecida. Ela cria uma fórmula para eliminar a celulite - "o sonho de todas as mulheres", ecoam a diretora e a produtora Iafa Britz, da Migdal Filmes -, mas o produto tem efeitos colaterais e aos 10 minutos, mais ou menos, durante uma festa, Glória sofre uma queda que produz sua morte.
Cris D’Amato pensa em termos de páginas de roteiro. Glória morre na página 10 e, nas 60 páginas seguintes, tenta - utilizando-se de um intermediário, como Patrick Swayze em Ghost - Do Outro Lado da Vida - convencer a filha a interromper as vendas do creme milagroso. Mas até que isso ocorra, ela busca estabelecer um canal de comunicação com a filha. Sua última frase para a filha, após uma discussão, é: "Você não merece a mãe que tem". Glória reflete: "Quantas vezes dizemos essas coisas sem nem refletir. Ocorre uma desgraça e o peso do que fica dito é mortal. Por que é tão mais difícil dizer eu te amo? Estou numa fase de manifestar meu amor pelos filhos. Não faço mais segredo. Com os meninos, que ainda são pequenos, é mais fácil do que com elas".
'Elas' são as filhas adultas, Ana, Cléo e Antônia, e a última divide a cena com a mãe em Linda de Morrer. É o primeiro filme da Antônia Morais, e na cena rodada nesse dia, numa casa da Urca o flerte de Antônia, um psicólogo transformado em intermediário por Glória - só ele consegue vê-la -, está tentando promover a reaproximação das duas. Emílio Dantas, o Cazuza do musical, é quem faz o papel. Pela simples rodagem da cena dá para perceber que Emílio e Antônia vão ficar, e que o espírito de mamãe será o cupido da história. Bem diferente da personagem que Glória Pires vai fazer na próxima novela das nove. A atriz viaja dia 20, logo após concluir a filmagem de Linda de Morrer - quatro semanas, das quais já se completaram duas -, para gravar suas primeiras cenas.
Vai para Paris, onde viveu tanto tempo com o marido, o músico Orlando Morais. Ele ainda se divide entre a França e o Brasil. O restante da família - Glória, os meninos, Antônia - está de volta ao País, e já faz algum tempo. Enquanto Glória estiver gravando na França, outra parte do elenco - da trama - estará nos EUA. O que o amigo Gilberto Braga lhe oferece desta vez? "Vou fazer uma ninfomaníaca." Como? Baixou Lars Von Trier na Globo? Ela ri. "Pois é. O Gilberto criou para mim essa personagem que promete muito. Viciada em sexo, que usa como ferramenta de poder. Vou ser uma vilã", acrescenta.
Depois do beijo gay de Walcyr Carrasco e das lésbicas de Manoel Carlos, a Globo avança na questão comportamental. Pois não é nessa novela de Gilberto Braga - Babilônia - que Fernanda Montenegro e Natália Timberg vão formar um par gay? Glória está animada. "São temas da vida contemporânea, e o Gilberto escreve muito bem. Não vai abordar essas coisas só para causar." Na TV e no cinema, Glória acredita que novelas e filmes podem ajudar na discussão de temas relevantes. "A questão do afeto é essencial para a gente construir um mundo melhor. E o afeto, como aceitação do outro, é a rejeição do preconceito."
Pare agora um pouco e olhe a foto aí em cima. Glória não está linda? "Obrigado, a gente tenta...", e ela deixa a frase no ar, como uma evasiva. No filme, a personagem morre durante uma festa. E, quando se desprende do corpo, a alma de Glória fica vagando de pés descalços (o símbolo da morte no Oriente) e com o vestido que usava, o bordozinho que você está vendo. É uma criação da figurinista Reka Koves. "Nunca vesti um figurino tão fácil num filme", brinca a atriz. Durante todo o filme, ela usa apenas três vestidos, e esse bordô, em especial, foi confeccionado três vezes. Três vestidos iguais, que Glória vai revezando no set.
O modelo é austero de frente - distinto, como convém a uma executiva -, mas quando Glória se vira... Fiu fiu! Um decote quadrado deixa as costas descobertas, bem sexy. A cor foi uma escolha da própria Glória. "Levamos para ela o desenho do modelo e oferecemos as opções de cor. Glória é mulher, né? Sabe o que levanta a gente. Não um vermelho, que seria muito chamativo, mas um bordô", explica Cris D’Amato. Glória já explicou o que a atraiu no filme. É uma atriz que alterna comédias e dramas, filmes e novelas, personagens reais e de ficção. "No limite, tudo é ficção, mas, quando a personagem é real, é preciso respeitar. Faço a minha lição de casa."
A mãe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, não era uma personagem pública, conhecida como a Lota Macedo Soares de Flores Raras, de Bruno Barreto, mas, em ambos os casos, Glória tentou ser fiel ao que se sabe dessas mulheres. E quanto a fazer comédia, diz: "Adoro. O humor pode dar a impressão de ser mais fácil, mas tem um tempo que exige muito da gente". Mãe e filha na ficção, mãe o filha na realidade - no set, Glória contracena com sua filha Antônia. As duas já estiveram juntas na TV, num dos episódios de As Brasileiras, A Mamãe da Barra. Filha de Glória Pires com o cantor Orlando Morais e irmã de Ana Pires, Bento Pires e da atriz Cléo Pires, começou a carreira fazendo pequena participação em Anjo Mau.
A carreira para valer, não só de participações, iniciou com a Isadora do remake de Guerra dos Sexos, apaixonada pelo Ronaldo de Jesus Luz. Lá também, como em As Brasileiras, Antônia atuava à sombra da mãe. Ela não vê problema. "Estou começando, e a Glória é uma atriz fantástica, um espelho para qualquer uma, não só para mim, que sou filha." Uma frase da personagem na cena que o repórter viu filmar ultrapassa a ficção. "Qual é a filha que não briga com a mãe?" Pois é, e Antônia ri. Está feliz da vida. Antes de o primeiro filme sair - a estreia será em agosto do ano que vem -, ela lança no começo do ano o disco que produziu inteiramente no próprio computador. Antônia canta, compõe, produz. "São poesias de afeto transformadas em música." Ela faz seu som sem se preocupar com o mercado. "É conceitual, autoral. Faço porque amo." Agora é a mãe coruja que fala. "Essa menina tem o DNA da música no sangue."
Agência Estado
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