14/11/2014 | domtotal.com
Parece-me que uma das visões mais duras sobre o ser humano é a cartesiana, que vê o homem numa divisão de “coisa” pensante e “coisa” material (uma tradução livre para res extensa e res cogitans que demandaria muito tempo para aqui ser explicada). A visão de uma máquina controlada pelo pensamento é bem esquizofrênica, dissocia a integralidade humana e se presta, muitas vezes, ao seu controle e domínio. E isso cresceu de uma forma que há quem veja no homem uma espécie de computador, com hardware e software, sendo o corpo um e a mente o outro.
Essa manipulação do indivíduo se mostra em procedimentos que nos parecem normais. Você está triste? Toma um remedinho. Ele vai atuar certeiro. Felicidade passou a ser somente uma reação química no cérebro. Aliás, toda a dificuldade do ser humano está no seu corpo, perecível e limitado. Que bom seria ter um corpo que não envelhecesse e cujas capacidades pudessem ser expandidas! Pois bem, é daqui que surge o sonho do cyborg, de um homem-máquina cujo corpo não cosntitui limite, ou do desejo de transferir a mente para um computador e existir para sempre. No fundo, há um desprezo pelo humano, pelo carnal, e a busca de uma realidade dita superior à que vivemos. Trata-se de uma releitura contemporânea do dualismo religioso que rejeita o corpo e busca um céu para o qual a carne é impedimento.
Uma das coisas mais interessantes nos embates da Igreja contra o gnosticismo no início do Cristianismo estava na relação com a corporeidade. Para alguns grupos gnósticos, o corpo era um empecilho ao conhecimento pleno, à salvação, porque os desejos da carne impediam a liberdade do espírito. Já a perspectiva judaico-cristã entendia a unidade da pessoa, tanto que sua profissão de fé apregoava a ressurreição da carne e incluía a visão de um corpo glorioso. É claro que essas questões não se dissolveram mas, volta e meia, retornaram ao imaginário cristão. O que não se percebe, com frequência, é que numa sociedade que busca sua emancipação da religião, subsiste o desprezo à corporeidade e visão dualista do humano.
A tentativa de dar destaque a outras esferas do ser humano foi levando, na história do pensamento, a definições do homem para além da ideia de uma máquina pensante, ou de mero animal racional, dando origem a termos como homo faber, homo ludens etc. O que importa, entretanto, é perceber a complexidade de que se compõe o fenômeno humano. Não se quer somente comida e bebida ou, como se diz cristãmente, não só de pão vive o homem. Temos fome de palavra, de sentido. A esfera do simbólico é também constituinte da pessoa e é por isso que se canta, dança, vai-se ao teatro, reza-se, encontra-se; para ser humano.
Música, Artes Cênicas e Literatura
Belo Horizonte está cheia de coisas para fazer nos próximos dias.
Para quem busca música, no Galpão 1 da Funarte – Rua Januária, 68 – acontece o Circuito Cultural Brasil Diverso. O projeto que acontece aos fins de semana, estando já no 7º, tem uma programação extensa que vai até o dia 30/11. Os gêneros versam entre pós-punk, música popular, chorinho, instrumental, eletrônico, rock, MPB, rockabilly, rock undrgroun e soul. Maiores informações na página facebook.com/CircuitoBrasilDiverso.
Para quem busca artes cênicas, BH recebe uma grande mostra de espetáculos cênicos individuais, o BH in Solos. Com um único interprete em cena, as apresentações versam entre teatro, dança e performance, cada dia com um espetáculo diferente. Os dias serão de 13 a 16 e 20 a 23 de Novembro, também no espaço da Funarte. Maiores informações no site bhinsolos.com.br.
E para quem quer mergulhar no universo das letras, dos dias 12 a 16 de Novembro, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade promoverá o seu Circuito Literário, movimentando os 12 museus que o compõe e outros espaços. A programação completa pode ser conferida em circuitoculturalliberdade.com.br.
*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.
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