domingo, 2 de novembro de 2014

Tony Bellotto diz que 'crise dos 50' se reflete no livro 'Bellini e o labirinto'

02/11/2014 11h24

Músico dos Titãs volta à literatura com detetive que o consagrou como autor.

Ao G1, ele comenta música sertaneja na trama: ‘Respeito Zezé e Xororó’.

Cauê MuraroDo G1, em São Paulo
Tony Bellotto (Foto: Divulgação/Companhia das Letras)O músico e escritor Tony Bellotto (Foto: Divulgação/
Companhia das Letras)
Guitarrista do Titãs e escritor, Tony Bellotto diz que é “impossível passar pela ‘crise’ dos 50 e não escrever sobre isso” – ele nasceu em 30/06/1960. O resultado literário da alegada crise, contudo, não foi um ensaio sobre a finitude da vida ou algo do tipo. Foi uma história de detetive: “Bellini e o demônio” (Companhia das Letras), lançado agora.
É a quarta obra estrelada pelo personagem, que já rendeu dois filmes – seu intérprete na tela é Fabio Assunção. Agora mais velho e acusando a idade, Remo Bellini tem de se deslocar para Goiânia para resolver o desaparecimento de um cantor sertanejo. A vítima integra a dupla Marlon & Brandão (parece Marlon Brando e não é por acaso).
Mas Bellini, que também é narrador, gosta de blues. Talvez só de blues. Por isso, não é exatamente favorável a opinião que ele tem sobre a obra de Marlon & Brandão. Teria Tony Belloto tirado proveito dessa “liberdade” de seu detetive para criticar o estilo musical? “Mais ou menos”, responde ele, em entrevista ao G1 por e-mail. “Respeito muito Zezé Di Camargo e Xororó”. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa sobre "Bellini e o labirinto", que é dedicado à atriz Malu Mader, mulher de Bellotto:
Capa do livro 'Bellini e o labirinto', de Tony Bellotto (Foto: Divulgação/Companhia das Letras)Capa do livro 'Bellini e o labirinto'
(Foto: Divulgação/Companhia das Letras)
G1 – Por que falar sobre música e (mais especificamente) o sertanejo?
Tony Bellotto –
 Porquês são difíceis de desvendar quando se trata da motivação para escrever um romance. Talvez porque eu gostei de assistir pela TV ao “Canto da sereia”, baseado no livro de Nelson Motta, que conseguiu unir muito bem o clima noir a uma certa brasilidade. Talvez porque a música sertaneja está no âmago de minhas lembranças sentimentais, da época em que vivi em Assis, no interior de SP, na década de 1970. Talvez porque eu seja músico e não detetive…
G1 – Fez isso para, digamos, tornar o livro contemporâneo?
Tony Bellotto –
 Não, não pela contemporaneidade, ela é irrelevante. Poderia ter escrito a história de um assassinato ocorrido numa orquestra sinfônica, por exemplo.
G1 – O Bellini tem permissão plena para criticar a música sertaneja (ou, aparentemente, qualquer gênero, menos o blues). O Tony Bellotto talvez não tenha. Tirou algum proveito dessa liberdade do seu personagem/narrador?
Tony Bellotto –
 Mais ou menos. Eu gosto de música sertaneja e respeito muito músicos como Zezé de Camargo e Xororó, por exemplo, que é um grande instrumentista. Por outro lado, é claro que o Bellini tem direito de falar o que ele quiser, sem se preocupar com as consequências na "vida real".
G1 – A trama de pedofilia surgiu antes ou depois de o assassinato já estar rascunhado?
Tony Bellotto –
 A trama surgiu junto com o assassinato. Pedofilia é um crime terrível, que revela um lado obscuro do ser humano, e do qual não conseguimos nos livrar.
G1 – Você chegou a viajar para Goiânia na intenção de fazer pesquisa prévia?
Tony Bellotto –
 Sim, eu viajo pelo menos uma vez por ano para Goiânia para fazer shows com os Titãs. Isso desde 1984. A cidade sempre me fascinou pelo paradoxo: grande e pequena, provinciana e cosmopolita, caipira e moderna…acho Goiânia muito reveladora do que é o Brasil. Guimarães Rosa e Zezé de Camargo estão por ali. Além disso, o acidente do Césio 137 sempre me intrigou.
Fábio Assunção em 'Bellini e o demônio' (2010) (Foto: Divulgação)Fábio Assunção em 'Bellini e o demônio' (2010)
(Foto: Divulgação)
G1 – Você dedica o primeiro livro ao seu pai. O segundo, à Malu e ao Dashiel Hammet. O terceiro, à Heloísa Liberalli Belloto (quem é?). E agora ‘Labirinto’ é novamente dedicado à Malu. Alguma relação (ainda que indireta) entre as dedicatórias os temas de cada livro/crime?
Tony Belotto –
 Heloisa Bellotto é minha mãe. Bem, não há uma relação direta, mas são pessoas especialíssimas para mim: meu pai, minha mãe, a mulher que eu amo e o grande escritor policial, inventor da prosa seca (alguns a atribuem a Ernest Hemingway).
G1 – No blog da Companhia das Letras, você já escreveu sobre o ‘nascimento’ do Bellini. Cita que estava em busca de um alter ego juvenil.  O que Tony Bellotto e Bellini têm em comum?
Tony Bellotto –
 Muito em comum, mas muita coisa diferente também. Difícil fazer uma divisão matemática de quanto eu estou ali dentro. Emma Bovary cést moi, disse Flaubert, e isso explica tudo.
G1 – Você mesmo escreveu que fez releituras dos livros anteriores antes de escrever o novo, para redefinir o chama de ‘DNA literário’ do personagem, não?
Tony Bellotto –
 Claro. Toda vez que vou escrever um Bellini preciso me lembrar de como ele era. Às vezes tenho medo de que ele não reapareça. mas até hoje isso não aconteceu.
G1 – As mudanças do Bellini refletem suas mudanças como autor e como narrador?
Tony Bellotto –
 Sim. É impossível passar pela "crise" dos 50 e não escrever sobre isso.
G1 – A linguagem do Bellini muda com o tempo, certo? No primeiro livro, por exemplo, o narrador usava por vezes verbos como ‘redarguir’. Foi uma mudança consciente?
Tony Bellotto –
 Acho que ganhei fluência como narrador. São 20 anos. Redarguir eu não uso mais. Se me prender a esses detalhes, é capaz do Bellini não aparecer mais, ou eu mesmo encher o saco do negócio…
G1 – O Bellini agora está mais velho. Quem poderia interpretá-lo no cinema? Quem seria o Fabio Assunção mais velho ideal?
Tony Bellotto –
 O Fábio continua sendo meu Bellini ideal.
Tony Bellotto e a atriz Malu Mader, sua mulher, a quem é dedicado 'Bellini e o labirinto' (Foto: Divulgação/TV Globo)Tony Bellotto e a atriz Malu Mader, sua mulher, a quem é dedicado 'Bellini e o labirinto' (Foto: Divulgação/TV 

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