14/12/2014 | domtotal.com
Oposição quer demissão da presidente Graça Foster após denúncia que atinge cúpula
Por Rodolfo Borges*
O escândalo de corrupção na Petrobras ganhou mais um capítulo decisivo nesta sexta-feira. A geóloga Venina Velosa da Fonseca, funcionária de carreira da maior estatal brasileira desde 1990, perdeu seu emprego na tentativa de avisar a atual diretoria da empresa sobre os ilícitos investigados pela Operação Lava Jato, revelou reportagem do jornal Valor Econômico. Rica em detalhes, a matéria dá conta de que Venina informou, desde 2008 até este ano, vários diretores da empresa, entre eles a atual presidenta da companhia, Graça Foster, e seu antecessor, José Sérgio Gabrielli, sobre suspeitas de malfeitos na diretoria de Abastecimento, então dirigida por Paulo Roberto Costa, preso na operação da Polícia Federal.
E o que ganhou a funcionária por tentar proteger a empresa que até outro dia era motivo de orgulho para seus funcionários? Antes de ser afastada, no mês passado, após auditorias internas na estatal, a ex-gerente da Petrobras foi enviada para o escritório da petroleira em Cingapura, em 2010, onde teria sido instruída a não trabalhar e aconselhada a fazer um curso de especialização. Meses depois, Venina enviou uma mensagem para Graça Foster dizendo que “do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha”.
As minúcias da denúncia, que a ex-gerente pretende apresentar ao Ministério Público Federal, aumentam o cerco sobre os já encurralados dirigentes da petroleira e animaram a oposição do Governo Dilma no Congresso Nacional a pedir o afastamento imediato da diretoria da Petrobras. Para o senador Alvaro Dias, um dos líderes do PSDB, a “demissão de Graça Foster e dos demais diretores é umas medidas que já deveria ter sido tomada pelo Planalto desde que veio à tona o esquema de corrupção na Petrobras”.
Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno descreve a denúncia como “um enredo estarrecedor”. “Não há mais qualquer desculpa para a permanência de Graça Foster na presidência da Petrobras. Se tiver o mínimo de juízo, a presidente Dilma tem a obrigação de demitir sua protegida e toda a diretoria da empresa. Se não o fizer, vai sinalizar que também faz parte da quadrilha que saqueou a Petrobras”, desafiou o deputado, que cobra a inclusão das denúncias da ex-gerente da diretoria de Abastecimento da Petrobras na apuração da Operação Lava Jato.
No material enviado por Venina Velosa da Fonseca aos superiores durante um período de seis anos, fica registrado que Graça Foster e José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento, foram avisados de desvios no pagamento de um total de 58 milhões de reais em serviços de comunicação que não foram realizados e no aumento de 4 bilhões de dólares (10 bilhões de reais) para 18 bilhões de dólares (45 bilhões de reais) no orçamento para a construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
“Me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada”.
No último e-mail enviado por Venina a Graça Foster, em 20 de novembro deste ano, um dia depois de ser afastada, a ex-gerente diz que desde 2008 sua vida “se tornou um inferno”. “Me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive”, escreveu Venina, que diz que não havia exposto toda a documentação do caso à imprensa por respeito à Petrobras e destaca que, quando foi “expatriada” para Cingapura, “o diretor hoje preso [Costa] “levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida”.
A Petrobras divulgou nota nesta sexta-feira para comentar a reportagem publicada pelo Valor Econômico, e a companhia assegura que “apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria”. “A Petrobras esclarece que (...) instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 03 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013. O resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes”, diz a nota.
Após a Petrobras sair do centro das investigações da Operação Lava Jato, que concentrou sua sétima etapa nos corruptores e levou à cadeia dezenas de diretores e presidentes de empreiteiras, a maior estatal brasileira retorna ao foco do maior escândalo de corrupção da história do Brasil, e, agora, tem como protagonista a presidenta Graça Foster, amiga da presidenta Dilma Rousseff, e num momento em que os primeiros investigados do caso começam a virar réus.
O juiz responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, aceitou nesta sexta-feira denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra nove dos suspeitos de participação em crimes como corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Entre os novos réus estão diretores da Engevix, o doleiro Alberto Youssef, acusado de ser o chefe do esquema, e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Resta ainda a decisão sobre os outros 27 nomes denunciados pelo MPF.
*Rodolfo Borges é correspondente em São Paulo do El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.
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