quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A Igreja Católica já foi muito mais moderna

O ano de 2015 será capaz de mudar de maneira duradoura a Igreja católica?

Por Bernward Loheide
Quer se trate de arbítrio, celibato ou ordenação de mulheres: exatamente na tradição da Igreja o Papa Francisco poderia encontrar muitas indicações para a reforma, escreve o historiador da Igreja Hubert Wolf. Para o Papa Francisco, o ano de 2015 poderia ser um ano decisivo. Será capaz de mudar de maneira duradoura a Igreja católica? Veremos quando ocorrer o Sínodo dos bispos no próximo outono.
Os conservadores da cúria romana se opõem às reformas. Querem conservar uma tradição da Igreja que já tem 2000 anos. Mas a tradição desenvolve um papel de baluarte contra um maior compartilhamento da gestão, mais direitos às mulheres ou em prol dos divorciados recasados? O historiador da Igreja Hubert Wolf, no seu último livro, demonstra que quem mais respeita a tradição são os reformistas.
Wolf conhece sobre o que escreve. Ficou famoso nos anos 1990 pela sua análise sobre os arquivos secretos papais em Roma. Desde o ano 2000 dirige o seminário Für Mittlere und Neue Kirchengeschichte da faculdade de teologia católica da Universidade de Münster. Em 2003 recebeu o renomado prêmio Leibnitz da Deutsche Forschungsgemeinschaft.
“Na tradição e na história da Igreja estão a disposição muitas possibilidades que – usadas de forma criativa – poderiam mudar definitivamente a imagem da Igreja”, escreve Wolf. A história é um tesouro de ideias revolucionárias. Quem os colocar em prática, com os meios da tradição eclesiástica, poderá resolver muitos problemas da atualidade.
Citemos como exemplo a escolha dos bispos. Na Igreja primitiva era muito mais evidente aquilo que o Papa Leão Magno formulou no século V dessa forma: “Quem irá presidir a todos, deve ser escolhido por todos”. Somente em tempos modernos se impôs o poder do Papa que hoje pode nomear os bispos de acordo com sua vontade em quase todos os países do mundo.
Citemos o exemplo dos não religiosos nas pastorais: quem colocava a própria vida no seguimento de Cristo, no início não precisava nenhuma consagração ou ordenação presbítera para pregar e administrar o sacramento da penitência. Hubert Wolf se refere a exemplos como aquele do asceta Martinho di Tours e vê uma possível solução da atual carência dos padres: ao lado aos padres ordenados também como “curadores de almas” – compreendidas as mulheres – teriam autorização para o perdão dos pecados.
Citemos o exemplo da consagração dos padres: em muitos conventos femininos, as superioras da ordem tinham poderes iguais aos bispos. Fundavam paróquias e se ocupavam da pastoral. A consagração das abadessas era igual a dos bispos. Somente em 1970 “a cerimônia completa foi reduzida à uma benção inócua da abadessa para eliminar tudo aquilo que poderia de alguma forma lembrar a consagração de mulheres”, escreve Wolf. Tática de camuflagem e falsas declarações.
Citemos o exemplo do capítulo da catedral: hoje um bispo governa de maneira monárquica a sua diocese. O restante do clero e a administração diocesana podem, praticamente, somente ratificar as suas decisões. “Ao que pode conduzir esse conceito absolutista, os eventos de Limburg o colocaram drasticamente à frente dos olhos”, diz Wolf. “Contas fora de controle na construção da casa do bispo, tática de camuflagem e falsas declarações, divisões entre os fiéis. Ninguém na diocese era capaz de frear o comportamento do bispo (Franz-Peter Tebartz-van Elst)”. Quando foi fundada a diocese de Limburg, em 1821, existia, pelo contrario, uma divisão de poderes, uma corresponsabilidade paroquial de todo o clero na administração.
O mesmo na cúria: a Igreja desenvolveu no passado vários modelos para impedir um estilo autocrático de governo do Papa. Papa Francisco agora retoma estes modelos historicamente esquecidos. Existe um conselho formado por oito cardeais provenientes de várias partes do mundo que está trabalhando na reforma da cúria. Para o desenvolvimento de uma nova imagem de família e matrimônio na igreja, coletam opiniões de todos os fiéis. Uma olhada na história mostra que com as suas reformas, o Papa Francisco retoma tradições sepultadas que poderão reviver.
Sítio Welt.de, 25-01-2015.

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