Aos 56 anos, depois de três décadas de carreira, a rainha do pop pretende continuar sua revolução sexual.
Por Marco Lacerda*
“As pessoas ainda não sabem como sou boa”. Madonna já avisava, lá atrás, que seu objetivo nunca foi pequeno. “Eu quero conquistar o mundo”. Ainda que tenha surgido com um visual urbano, passando de garota ingênua para a mulher glamorosa, sexy, pervertida, pensativa, mãe, política, festeira e, sobretudo, humana. Com uma sagacidade fora do comum, Madonna, embora sempre exposta na mídia, mantém um enigma sobre sua real identidade.
“Em todo o meu trabalho, o objetivo é nunca ter vergonha.” Sua carreira é focada na arte e viaja por diversos segmentos. Se ela começou tocando bateria em uma banda e logo virou vocalista; de cantora passou também a atuar em seus clipes famosos pelo mundo todo, em filmes, teatros e até mesmo dirigindo na sétima arte. Empreendedora, lançou linha de roupas, perfumes, academias e linha de cosméticos. Tem as maiores e melhores turnês do mundo e é a artista mais rica do planeta.
Se Madonna, no início da carreira, deixava em dúvidas muitos jornalistas que tentavam entender quem era Madonna; aquela imagem egoísta que entoava sua ambição loira foi deixada para trás. Religiosa, a rainha do pop da música mergulhou em causas políticas e ações sociais. Abraçou o Maláui, país de onde adotou duas crianças e virou a embaixadora local. Sua posição nunca foi diferente de como pensa: “o que estou dizendo é: não tenha medo”.
Madonna estampa não só uma, mas três capas da edição de dezembro da revista "Interview", que recebeu o título de "The art issue". Em uma das imagens clicadas por Mert Alas, a cantora aparece com mordaça dourada e uma flor. Já em outra, ela abusa do decote com roupa sexy e, na terceira, com visual comportado de látex. O fotográfo, que já trabalhou em outros momentos com Madonna, compartilhou em seu perfil do Instagram uma foto em que ela aparece sexy de lingerie, deitada em um sofá.
O que resta por fazer a uma mulher que desde o começo dos anos 80 do século passado elegeu a provocação como estilo de vida? Como uma senhora que saiu na tela derramando cera sobre o membro viril de Willem Dafoe pode questionar o status quo do mundo pop no ano de 2014, uma senhora que produziu um documentário sobre pessoas que deitavam em sua cama e um livro intitulado Sex, uma senhora que escreveu uma canção sobre o aborto em 1986 e que colocou um Jesus Cristo negro pelo qual se apaixonava em um videoclipe? Pois com algo tão simples como aparecer mostrando os seios no que parece ser o ano internacional do bumbum.
Enquanto uma pequena diva como Jennifer Lopez vai à ginástica e tenta recuperar seu posto no trono mundial do melhor bumbum, uma grande diva, como Madonna, transforma o paradigma morfológico e exige sua centralidade, algo que já conseguiu das mãos do designer Jean Paul Gaultier há mais de uma década com os sutiãs em forma de cone, cuja reformulação recentemente tem dado tantas alegrias na mídia a outras estrelas como Lady Gaga ou Katy Perry.
Voltar como se nunca tivesse ido
Talvez possa parecer um movimento quase infantil, sobretudo agora quando parece que nada mais consegue chocar e, se consegue, o escândalo dura o que o sistema demora para assimilá-lo, engarrafá-lo e vendê-lo. Aí estão essas famosas imagens de Madonna, que já deram várias voltas ao mundo, nas quais, aos seus 56 anos, sai mostrando seus peitos para a revista Interview, mas também as fotos que vazaram e nas quais a diva aparece sem passar pelo filtro e pintura do Photoshop. Para a surpresa de muitos, a autora de Ray of Light é uma mulher de 56 anos que quase aparenta a idade que tem, não esse ser sobrenatural que ela e muitos de seus fãs têm carregado durante mais de uma década, com o fútil e desnecessário desejo de ignorar a passagem do tempo.
Falar de convenções quando se trata de um produto da indústria pop pode soar exagerado, mas agora, como na frase em que promovia a continuação do filme Os Mercenários, parece que Madonna ressurgiu, e desta vez é pessoal.
La Ciccone vendeu mais de 300 milhões de discos desde que começou sua carreira. É a quarta artista que mais vendeu discos na história e a mulher que comercializou o maior número de álbuns nos Estados Unidos (65,5 milhões). Nos últimos 25 anos, 9,7 milhões de pessoas de todo tipo de orientação sexual, classe social e preocupações foram aos seus shows. Sua última turnê arrecadou mais de 300 milhões de dólares (cerca de 776 milhões de reais), número que ajudou a colocá-la no posto de cantora mais rica do planeta em 2013, segundo a Forbes, com renda de 125 milhões de dólares (323 milhões de reais).
Mas Madonna é voraz. Vai lançar mais um disco e é a nova imagem de Versace para a próxima temporada primavera/verão. Nas fotos divulgadas esta semana aparece retocada pelo Photoshop, mas consegue que esse recurso, em vez de se transformar em um truque estético para parecer mais jovem e exuberante, se apresente como uma forma de jogar com a memória coletiva sobre a imagem que se tem dela. Parece engenhoso. E é. Funciona? Parece que sim. Por isso Madonna retorna como já o fez mil vezes, e sempre conseguiu voltar como se nunca tivesse ido.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.
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