23 de janeiro de 2015
Por Carlos Ávila
No final dos anos 1960, a Editora do Autor criou uma coleção que propunha reunir em volumes – um para cada estado – textos escolhidos sobre a natureza, a história e o povo das diversas partes do país: “Brasil, Terra & Alma”. Seria, segundo a editora, uma “ampla antologia feita de antologias organizadas por escritores de renome, familiarizados com as unidades federativas que lhes coube passar em revista”. Cada organizador teria inteira liberdade para fazer sua seleção de textos – em geral trechos curtos (“como imagens cinematográficas e jornalísticas”) – e dar títulos a eles. Dessa forma, o leitor teria, ao final, uma visão da “terra & alma” do Brasil.
O volume inicial foi sobre a Guanabara (estado brasileiro que existiu no território do atual Rio de Janeiro, de 1960 a 1975), com seleção de textos de Marques Rebelo (1907/1973). Na sequência, vieram os livros sobre São Paulo, por Luis Martins (1907/1981), e Minas Gerais, por Carlos Drummond de Andrade (1902/1987).
O livro sobre Minas, organizado por Drummond e lançado em 1967, chama atenção, particularmente, pela abrangência e pela precisão na escolha dos temas e textos. Embora em nota introdutória o poeta mineiro indague: “condensar Minas Gerais numa antologia não será o mesmo que prender o mar numa garrafa? Ou fazer passar a Serra da Mantiqueira pelo fundo de uma agulha?”.
Abrindo a antologia com a sua bela e longa “Prece de mineiro no Rio”, Drummond distribui o material pesquisado por seções: Caminhos da aventura; Ouro, diamante & o mais; Índios, negros e mestiços; A terra e suas graças; A cidade; Liberdade ainda que tarde; Modo de ser e viver etc. Trata-se de um mapeamento de Minas.
Entre os autores selecionados encontram-se os poetas inconfidentes (Cláudio Manuel, Gonzaga); os viajantes europeus que andaram por aqui (Burton, Saint-Hilaire, Spix e Martius); historiadores e biógrafos diversos; o simbolista Alphonsus de Guimaraens; figuras do Patrimônio (Rodrigo de Melo Franco, Sylvio de Vasconcelos); poetas modernistas mineiros ou não (Mário e Oswald de Andrade; Manuel Bandeira; Murilo Mendes, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Emílio Moura); escritores e cronistas variados (Pedro Nava; Cyro dos Anjos; Aníbal Machado; Guimarães Rosa; Mário Palmério; Fernando Sabino; Paulo Mendes Campos); enfim, um time de primeira para dar conta dos aspectos diversificados do território, da história, da cultura e do “espírito de Minas”.
Drummond utiliza também trechos das “Cartas Chilenas”, dos “Autos da Devassa” e do “Triunfo Eucarístico”. Completam o volume, ao final, sugestões de passeios e viagens para os turistas e “Minas em números” – com dados sobre o estado coligidos pelo IBGE (hoje, obviamente, já defasados).
Esse utilíssimo livro, raro e inencontrável, merecia ser reeditado, com programação gráfica cuidada (a edição original é bastante simples e convencional), incluindo uma boa seleção de fotos e de mapas antigos e novos. Fica aqui a sugestão aos nossos editores.
Para Drummond esse livro deveria “funcionar como uma ‘boca de mina’, atraindo gente curiosa de descobrir riquezas e desvendar mistérios da terra e do homem”; também como um convite, “não uma enciclopédia nem uma louvação”. Segundo o poeta, “Minas continua, depois da última página”.
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