quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Nosso problema é o crescimento

Marcus Eduardo de Oliveira

A partir da construção da percepção de que os atuais padrões de consumo estão nas raízes da crise ambiental, faz-se necessário repensar toda a organização econômica (atividade produtiva e ciência social), afastando-a definitivamente dessa sociedade de mercado sem horizontes humanos, afastando-a, obrigatoriamente, da incessante busca por taxas de crescimento que desrespeitam as leis da natureza, porque, sem critérios, ultrapassam as fronteiras ecossistêmicas.

Como bem disse Dennis Meadows: “nosso problema é o crescimento físico em um mundo finito”. Por isso não é mais possível continuarmos fazendo o que por muito tempo fizemos: praticando uma economia de acumulação que não se baseava no capital do planeta, mas em seu estoque, como asseverou Dominique Voynet, ambientalista francesa.

Assim como também não é mais possível continuarmos privilegiando a acumulação individual, muito menos seguir vivendo além de nossos meios, consumindo mais de 120% dos recursos do planeta.

É desse modo que, lamentavelmente, se enaltece o crescimento da economia – meramente com a preocupação em acumular bens materiais, e deixa-se de lado o desenvolvimento – a melhoria na qualidade de vida, aquilo que realmente importa em matéria de bem viver.

Urge rompermos com esse paradigma destruidor das bases da natureza. Para tanto, o que precisamos fazer? Como o Ser Humano, a Terra e a Natureza se pertencem mutuamente, não há dúvidas que, como bem disse Leonardo Boff, “é possível forjarmos um caminho de convivência não destrutiva”.

Para tanto, usando as palavras do ecofilósofo norueguês Sigmund Kwaloy, “precisamos operar a passagem de uma sociedade de crescimento para uma sociedade de sustentação de toda a vida”, porque a vida, na verdade, só se sustenta a partir do equilíbrio à Terra e aos ecossistemas, de que dependem a sociedade humana para a sua existência.

Fato concreto, para finalizar em rápidas palavras, é que essa crise ambiental ora em curso começou a dar seus primeiros passos desde que o planeta começou a crescer industrial e populacionalmente. Daí a necessidade de estabilizar tanto a população quanto o consumo (em 1900, havia 1,5 bilhão de pessoas na Terra, desde então, em apenas 114 anos, aumentou-se a população em 5,5 bilhões de pessoas, ou seja, mais de 350%, ao passo que entre 1950 e 2000, a atividade econômica cresceu dez vezes), partindo, em paralelo, ao desenvolvimento de fontes de energia com baixo carbono.

O que não se pode perder de vista é que para “custear” o crescimento econômico promove-se a destruição ecológica. Para fazer a economia se expandir, mina-se as bases de sustentabilidade destruindo os frágeis equilíbrios ecológicos dos quais depende a conservação dos ecossistemas e da própria vida.

Isso explica, grosso modo, o fato de a ciência econômica “dominar” o mundo através do automatismo do mercado, tratando a natureza como mero objeto de trabalho. Lamentavelmente, o planeta não “gira” regido pelas leis do universo e da natureza, mas pelas ordens impostas no mercado global.

Isso resulta numa conclusão inexorável: estamos submetidos a uma racionalidade de um poder concentrador da riqueza, gerador de desigualdades e insustentabilidade. A economia neoclássica (a economia tradicional) não faz nenhuma “força” para entender que a degradação ambiental não se deve a causas naturais; sua existência está relacionada às ações antrópicas.

Não obstante, como bem apontou o economista mexicano Enrique Leff, “os tomadores de decisões continuam dando mais importância aos imperativos do crescimento econômico e à estabilidade macroeconômica nas políticas de desenvolvimento sustentável que aos estudos prospectivos sobre o risco ecológico e o desencadeamento do aquecimento global”.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com pós-graduação em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br.

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