segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

'Debandada' pop: Grupos perdem espaço nas paradas do Brasil e EUA

Artistas solo e duplas sobem; bandas despencam em rankings dos anos 2000.

'Mais fácil trabalhar', diz empresário de Thiaguinho e Péricles após Exalta.

Rodrigo OrtegaDo G1, em São Paulo

Unidos perderemos. Esse é a lição para artistas que buscam sucessos em rádio nos últimos anos no Brasil. O número de bandas que conseguem emplacar hits nas no país despencou, dando lugar a formações enxutas: artistas solo e duplas. No ano 2000, das 100 músicas mais tocadas, 60 eram de bandas. Em 2014, foram apenas 15 grupos, segundo a empresa de monitoramento Crowley. Veja o vídeo acima.
O fenômeno não é só brasileiro. No top 100 anual da revista “Billboard” dos EUA, há mais bandas que aqui, mas elas também caíram: de 34 em 2000 para 21 em 2014. O início deste século era propício a bandas pop (Backstreet Boys, N-Sync) e rock (Creed, Blink 182, Matchbox Twenty). Agora é a hora de cantoras pop (Taylor Swift, Katy Perry, Lorde) e super DJs (Calvin Harris, Avicii, David Guetta).  Se antes era legal chamar amigos “montar uma banda”, o caminho hoje é mais “cada um por si”. Veja gráfico abaixo sobre o top 100 no Brasil.
Gráfico mostra quantidades de bandas, artistas solo e duplas nas paradas no Brasil (Foto: Arte G1)
Não só pelo sertanejo
No Brasil, a subida do sertanejo, estilo tradicionalmente de duplas e cantores solo, é a principal explicação para o quase sumiço das bandas das paradas. Mas não é o único motivo. Mesmo considerando apenas os outros gêneros – rock, pop, pagode -, que hoje ocupam quase metade do ranking, a proporção de bandas diminuiu (de 67% em 2000 para 36% em 2014). Em resumo: menos (gente) é mais.
É muito mais fácil trabalhar. Dupla sertaneja já briga, imagina um grupo de 5 ou 6 pessoas?"
Fabio Francisco, empresário
É difícil dar causas exatas para a virada nas formações de sucesso, além da subida do sertanejo. Mas empresários procurados peloG1 destacam a maior facilidade de focar o trabalho uma ou duas pessoas, sem ter que conciliar conflitos de uma turma. O maior exemplo recente desta mudança no Brasil é a transição amigável em 2012 de um nome de sucesso, o Exaltasamba, em duas fontes de hits: Thiaguinho e Péricles. O empresário Fabio Francisco cuidava da carreira da banda e continua a trabalhar com os cantores.
Exaltação ao solo
“A vantagem é o simples fato de que tenho que falar só com uma pessoa. Não preciso ficar discutindo com várias. Isto facilita a discussão de conceitos e o fluxo de ideias da carreira”, diz Fabio. “É muito mais fácil trabalhar. Não só no caso do Exalta, mas na maioria das bandas, quanto menos sócios ou artistas melhor; se as duplas sertanejas já brigam, imagina um grupo de cinco ou seis pessoas?” Casos semelhantes são do Só Pra Contrariar e com Alexandre Pires, e do grupo Tradição com Michel Teló - sem contar  estrelas que já nascem solo.
Exaltasamba (Foto: Divulgação)Exaltasamba terminou em 2012 (Foto: Divulgação)
“Terminar o Exalta foi uma decisão tranquila e madura. Não foi uma atitude precipitada porque já existia dentro do grupo essa inquietação natural pela mudança. Por outro lado, foi preciso ter coragem e determinação para encerrar a carreira vitoriosa de um grupo que estava no topo, no auge do sucesso. Foi um grande desafio construir a carreira do Péricles e do Thiaguinho, mas nunca tive dúvidas”, conta.
Mais gente, mais briga
O empresário Anderson Ricardo, que trabalhou com Luan Santana e tem em seu cast só duplas e artistas solo (Gaby Amarantos, Wanessa, Alinne Rosa), não vê explicação simples para a escolha. “O mercado muda constantemente por vários fatores e enumerá-los é quase impossível. Mas é notável que é mais difícil [trabalhar com bandas]. São pessoas diferentes, com gostos diferentes, obviamente irá surgir conflitos pelo caminho, é mais difícil chegar a uma conclusão – opiniões, visões artísticas diferentes”, diz.
O grupo Dallas Country conseguiu um feito raríssimo no Brasil: emplacar um hit sertanejo em banda (“Clima de rodeio”, em 2002). Em entrevista ao G1 em 2014, a vocalista Jameika Mansur conta uma história que confirma a visão dos empresários de que é mais fácil manter uma carreira individual do que administrar conflitos coletivos. “Musicalmente falando todo mundo era muito competente. Mas se a gente não estiver preparado emocionalmente, é complicado." Depois de muita briga, hoje ela tenta dar a volta por cima na música. Em carreira solo
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