sexta-feira, 20 de março de 2015

As últimas duas 'surpresas' de Francisco

Desta vez, as novidades estão na duração de seu mandato e no Ano Santo da misericórdia.

Por Gianni Gennari
Francisco, a cada "palavra", uma surpresa, e há dois anos um rio de comentários. As duas últimas, em uma entrevista à colega Alazakri, sobre a duração do seu "ministério" do sucessor de Pedro e, depois, no anúncio do Ano Santo da misericórdia. No primeiro caso, a curiosidade de todos foi ao pensamento do seu pontificado "breve" e, portanto, à "possibilidade" de uma futura "renúncia" sua.
No segundo, eco ainda mais vasto por tema e imediaticidade do que o anúncio, abriu-se a discussão sobre Roma e sobre a oportunidade religiosa, mas também econômica e publicitária, que assim é aberta para a cidade em todos os componentes: imediatamente, por causa da preparação, depois, por causa da celebração de um ano inteiro do Jubileu.
Um pontificado breve? Escreveram "cinco anos", e dois já passaram... Fizeram-se diversas hipóteses, reevocou-se a renúncia – grande gesto de sabedoria e de verdadeira santidade – do Papa Bento XVI, mas ninguém – a meu ver – observou que, hoje e por um tempo talvez ainda muito indefinível, uma renúncia de Francisco criaria a copresença de nada menos do que três pessoas com o título de bispos de Roma, dois eméritos e um, depois da sua futura eleição, efetivamente no cargo.
Pois bem: eu acredito que, no presente, o estado de saúde de Joseph Ratzinger, sempre admirável, antes e depois, é a mais forte garantia humanamente pensável da permanência de Francisco no serviço efetivo de sucessor de Pedro, bispo de Roma e, portanto, papa.
"Dominus conservet eum, et vivificet eum...!" (" O Senhor o conserve e lhe dê vida..."), como tanto se rezou por séculos e ainda se reza...
O Jubileu da "Misericórdia"
Chegamos ao segundo tema: apenas dois meses depois do Sínodo, que vai concluir o caminho iniciado em outubro passado sobre os temas da família, casamento e sexualidade, com alguns pontos "quentes" já mais ou menos explicitados durante a discussão, mas que são o fundo da problemática mais premente, para a atenção ao longo de décadas e talvez de séculos, chega este Jubileu, que também diz respeito ao próprio Sínodo, entre aberturas e resistências.
Além disso, já no Sínodo sobre a família de 1980 – e bastaria ir controlar documentos e a imprensa da época – o problema da comunhão aos divorciados em segunda união e o da contracepção estiveram no centro do debate.
Passaram-se 35 anos: essa primeira fase do Sínodo ainda está lá, e justamente sobre aqueles pontos fixou-se a atenção das conclusões provisórias e das discussões que preparam a fase posterior, pouco antes do novo Jubileu.
A esse propósito, uma coisa deve ser esclarecida: os pontos da comunhão aos divorciados, da homossexualidade e da interpretação do complexo dos "fins do matrimônio", com o centro efetivo, embora nem sempre e não muito evidenciado, no problema da "norma" da Humanae vitae na primeira fase do Sínodo, foram simplesmente "postergados" para a segunda fase, não tendo alcançado os dois terços, mas tendo também alcançado a maioria absoluta dos placet.
Não é um dado insignificante, e, portanto, equivoca-se quem anunciou imediatamente a "rejeição" dos pontos quentes, querendo colocar a carroça na frente dos bois. Tudo ainda está em aberto: no contexto do acompanhamento dos casais de divorciados em segunda união, com aquilo que Francisco chamou se "reintegração" eclesial, também o problema da comunhão eucarística e o da "interpretação" da norma da Humanae vitae – como disse repetidamente o próprio Francisco, começando pela primeira grande conversa com o padre Antonio Spadaro –, estes e outros são os pontos a serem abordados no Sínodo...
Mas há algo mais. Logo perceberam alguns dos comentaristas mais importantes. Raniero La Valle, por exemplo, colocou em um livro a afirmação de que a mensagem de Francisco apresenta, acima de tudo, um rosto de Deus-Misericórdia e proximidade que é aquele autêntico revelado e anunciado por Jesus, "que veio não para condenar, mas para salvar o mundo" (curiosamente, mas talvez não seja apenas uma curiosidade, esse é o Evangelho da liturgia do dia em que Francisco anunciou o Jubileu, com o diálogo entre Jesus e Nicodemos em João 3), e Alberto Melloni – no jornal Corsera, 15-03-2015, p. 25: "A resposta de Francisco aos defensores do rigor" – escreveu que, "com o Ano Santo, Francisco envia (aos bispos participantes do Sínodo) um aviso: não é a miséria do povo cristão que pede descontos, mas é a própria natureza de Deus que pede misericórdia. E o povo peregrino fará ver isso".
Como será possível, portanto, poucas semanas antes da abertura do Ano Santo da "Misericórdia", dar, na conclusão do Sínodo, uma mensagem que seja apenas de rejeição da misericórdia e de possível abertura pastoral?
Uma recordação antiga de aluno e não só em teologia moral, repetidamente inculcada pelos nossos mestres que viveram e também preanunciaram o Concílio: "Os princípios permanecem sempre idênticos, mas as aplicações podem mudar"...
Tudo isso também tendo em conta que a Misericórdia de Deus é idêntica à Sua Justiça, e, por isso, uma santa como Teresa de Lisieux – que Francisco ama e venera desde sempre – escreveu que a Justiça de Deus é uma única coisa com a Sua Misericórdia ou, melhor, é a sua superabundância, porque Ele vê também todos atenuantes que a nossa humanidade de criaturas não consegue levar em consideração.
Eis: "A própria Justiça (de Deus) me parece revestida de amor... Que doce alegria pensar que o Bom Deus é Justo, isto é, que Ele leva em conta as nossas fraquezas, que Ele conhece perfeitamente a fragilidade da nossa natureza!" (Man. A, fólio 83).
E vem imediatamente o pensamento ao fato de que, também recentemente, Francisco falou do "perdão" de Deus que, aos olhos cegos das nossas medidas, pode parecer "injusto": ao filho mais velho, parece injusta a acolhida do filho "pródigo", e aos operários da primeira hora, que suportaram "o peso do dia inteiro e do sol escaldante", parece injusta a recompensa para aqueles da última hora, idêntica à que lhes foi reservada e estabelecida desde o início do trabalho.
Ainda Teresa: a Justiça de Deus "não se estende senão sobre a terra", enquanto a Sua "Misericórdia se eleva até os Céus" (Man. A, fólio 84.).
E, para concluir, uma constatação: não é por nada que, também no domingo passado, no Ângelus, e falando justamente sobre o futuro Jubileu, Francisco disse que "Deus perdoa tudo e perdoa sempre". É lícito ver aqui também a possível "resposta aos defensores do rigor"?
Pessoalmente, acho que sim.
Vatican Insider, 17-03-2015.
*Tradução de Moisés Sbardelotto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário