domingo, 15 de março de 2015

Cuba se reconcilia com Clube de Paris

Isso ocorre em um ano em que Raúl Castro destinará um quantia recorde ao serviço da dívida externa.

Para 2015, Raul Castro pagará 5,66 bilhões de dólares.
Após quase três décadas de afastamento, Cuba deu início à sua reconciliação com o Clube de Paris, em um ano em que o presidente Raúl Castro destinará um quantia recorde de 5,6 bilhões de dólares ao serviço da dívida externa.
"Vamos concluir a reconciliação dentro de poucas semanas, e semanas ou meses mais tarde teremos uma negociação", disse o presidente do Clube de Paris e chefe do Tesouro francês, Bruno Bézard, em visita a Havana.
"Avançamos rápido. Por parte de Cuba e dos credores existe uma boa vontade de concluir este trabalho", acrescentou Bézard, que esteve na ilha há alguns dias com uma equipe do governo francês que prepara a visita do presidente François Hollande, no dia 11 de maio.
O Clube de Paris é um fórum informal de credores públicos criado em 1956, integrado por 19 países desenvolvidos, que se dedica a buscar soluções para as dificuldades de pagamento dos países devedores.
O tema da dívida estará na agenda da visita relâmpago de Hollande, primeira de um presidente francês a Cuba, e não se descarta o perdão de parte da dívida cubana, como fizeram nos últimos anos a Rússia, o Japão e o México.
Bézard calculou a dívida cubana com o Clube entre 15 e 16 bilhões de dólares, dos quais 5 bilhões correspondem à França.
Cuba suspendeu o serviço da dívida com o Clube de Paris em 1987, alegando "ingerência" de alguns de seus credores na política interna da ilha comunista. Um ano antes, havia renegociado favoravelmente suas dívidas de 1982-1986.
Em 2001 Havana propôs ao Clube uma nova renegociação sobre uma "solução razoável", mas fracassou diante das "condições totalmente inaceitáveis", exigidas pelos credores, segundo o Banco Central de Cuba.
Essa parte da dívida ultrapassa 7,983 bilhões de dólares e seria o cerne das de negociações, pois o restante corresponde fundamentalmente à dívida comercial.
Da "dívida impagável" de Fidel aos pagamentos de Raúl
O rompimento de Cuba com o Clube de Paris coincidiu com a crise da dívida na América Latina e com a campanha do então presidente Fidel Castro (1959-2006), que considerava essas dívidas "impagáveis".
Os dados oficiais atualizados da dívida total cubana não são conhecidos, mas devem superar os 22 bilhões de dólares. O número mais recente da dívida ativa administrado pelo Instituto Nacional de Estatística cubano é de 13,914 bilhões em 2011.
Mas Raúl Castro, que empreendeu reformas econômicas após suceder seu irmão em 2006, começou em 2009 a aplicar uma nova política dirigida a normalizar as relações com os credores, renegociando e pagando dívidas com três objetivos: gerar confiança, obter novos créditos e incentivar os investimentos estrangeiros.
"Para Cuba é primordial poder colocar em ordem todos os seus compromissos financeiros internacionais. Seria o próximo passo a uma política econômica mais prudente com os gastos desde 2009", disse à AFP o economista cubano Pavel Vidal, da la Universidad Javeriana de Cali, Colômbia.
Segundo o ex-ministro da Economia e das Finanças José Luis Rodríguez, o serviço da dívida foi de em média a 3,22 bilhões de dólares entre 2010 e 2014, cifra que representa 4,7% do PIB cubano.
Para 2015, o governo cubano "decidiu pagar 5,66 bilhões de dólares, assim como captar créditos de 5,557 bilhões", explicou Rodríguez ao portal Cubacontemporánea.
"Investimentos, além de créditos"
"Essa política de controle dos gastos e as reformas em curso permitem a Cuba negociar com os credores internacionais com base em uma credibilidade financeira que se foi construindo pouco a pouco", explicou Vidal.
"Com esta decisão cresce a credibilidade do país no processo de captação de novos investimentos estrangeiros", avaliou Rodríguez.
Com isso, Cuba passa de uma política de introspectiva, que dificultava o crescimento econômico e o consumo, a uma mais expansiva, apontam os analistas.
"Receber novos financiamentos a partir da renegociação das dívidas externas ajuda que esta mudança de política econômica não afete os equilíbrios macroeconômicos. E melhor ainda se, além dos empréstimos, chegarem investimentos que tragam novas tecnologias e acessos a redes globais de valor", concluiu Vidal.
AFP

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