terça-feira, 17 de março de 2015

Dois anos de papado de Francisco são marcados pela abertura e tolerância


Cristina Fontenele
Adital

Eleito no dia 13 de março de 2013 para comandar a Igreja Católica no mundo após a renúncia de Bento XVI, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, assumiu a direção espiritual de mais de 1,2 bilhão de fiéis. Completando dois anos de papado nesta sexta-feira, 13, o Sumo Pontífice se transformou em referencial de esperança e diálogo. Com estilo simples e direto, Francisco vem propondo reformas na Igreja e uma postura de abertura e acolhimento para com os mais excluídos da sociedade. 
Em entrevista à Adital, o coordenador do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) e vice-presidente da Cáritas em Fortaleza, Estado do Ceará, padre Luís Sartorel, avalia a atuação do primeiro papa latino-americano. 
Segundo ele, o Papa representa um marco importante na história da Igreja pós-conciliar, na medida em que recolocou em pauta pontos do Concílio Vaticano II que estavam esquecidos. Para Sartorel, Francisco tem realizado uma reforma interna na Igreja para uma mudança de estilo e qualidade como, por exemplo, a renovação da direção do Banco do Vaticano. "O Papa desperta reações, na maior parte positivas, recuperando a credibilidade da Igreja e a participação de muitos fiéis.”, destaca. 
O Papa estaria apresentando também uma nova maneira de se relacionar com o povo. Para o coordenador do Cebi, uma atitude totalmente humana marca esse pontificado, o que tem sido uma surpresa agradável para a maior parte dos católicos e também perante outras tradições religiosas. 
Para Sartorel, o Papa desperta reações, na maior parte positivas, recuperando a credibilidade da Igreja e a participação de muitos fiéis.
Foto: CEBI.

Atenção aos pobres
De acordo com Sartorel, o Papa Francisco recolocou o pobre no centro das atenções, sob um ponto de vista sociológico e teológico-eclesial. "É um homem que fala e sabe escutar, sabe perceber os problemas e anseios do mundo, principalmente a necessidade dos pobres e marginalizados.”, ressalta. 
O padre defende que, na perspectiva sociológica, o pobre deveria ser a medida das leis e das organizações. "O mundo não terá paz sem justiça e diálogo entre os povos.”, diz. No aspecto teológico-eclesial, o pobre não seria somente alguém que se pode ajudar devido à situação de pobreza, mas o centro sacramental da Igreja, o foco da caridade. "Caridade não é somente bondade e piedade, mas o ato de amor que me faz assumir com amor o sofrimento do irmão. Caridade é um amor político que modifica a situação e a estrutura.”, resume. 
Reforma da Igreja
Diante de uma Igreja que vinha enfrentando tempos de crise, corrupção interna e perda de fiéis, o Papa tem proposto mais simplicidade e menos luxo. A reforma da Cúria, projeto lançado em 2013, visa a reduzir gastos e uma colaboração mais eficaz e transparente entre o clero. 
No entanto, a atitude papal sofre fortes resistências dentro e fora de sua administração. Sartorel comenta que muitas pessoas se sentem incomodadas com os depoimentos e documentos de Francisco. Acusam o Papa de ser comunista, de confundir os fiéis com suas declarações polêmicas. Fora da Igreja, Sartorel explica que os capitais internacionais, donos do poder, indústrias de armas, por exemplo, não concordam com a atitude do Papa. 
"Francisco é um homem atualizado, de olho no mundo. Com olhos de profeta, é iluminado pelo Espírito Santo. Esses dois anos de papado foram muito positivos. Espero que ele resista e aguente por muito tempo.”, reafirma. 
Intervenção pela paz
O Papa Francisco também tem se destacado pela intermediação entre os países, na busca da paz. Recentemente, ele facilitou o início das negociações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos (acordo assinado em 17 de dezembro do ano passado). Também tem promovido um espaço de esperança nas relações internacionais, trazendo forças positivas entre a Igreja e o mundo. O Papa facilita o diálogo internacional e inter-religioso. Em sua mensagem de Natal, por exemplo, o Sumo Pontífice frisou a necessidade de paz e diálogo num planeta em crise. 
O Papa sofre fortes resistências dentro e fora de sua administração. Muitas pessoas se sentem incomodadas com os depoimentos e documentos de Francisco. Foto: Reprodução.

Movimentos Sociais
Como primeiro Papa na história a reunir e ouvir movimentos sociais no Vaticano, Francisco demonstra ainda uma postura de abertura e acolhimento. Ele tem discutido a fome no mundo, conversado com movimentos populares sobre o direito à terra, a questão do latifúndio e reforma agrária. 
Em seus discursos, o Papa ressalta que é preciso pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É necessário lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra, de moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas. Segundo o Pontífice, os pobres não se contentam com promessas ilusórias, desculpas e pretextos. 
Família
Abertura e acolhimento à família moderna e sua evolução é a postura defendida pela Papa e disseminada nas dioceses. Será também pauta do próximo Sínodo, que acontecerá em outubro próximo. 
Em conselhos às famílias, o Papa tem defendido a simplicidade, a oração, a fé e a necessidade de perdoar e de se apoiar. De acordo com Francisco, entre todas as coisas, aquilo que mais pesa é a falta de amor. "Pesa não receber um sorriso, não ser recebido. Pesam certos silêncios. Por vezes, também em família, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos. Sem amor, o esforço torna-se mais pesado, intolerável". (Discurso do Papa no Encontro de Famílias, Roma, outubro do 2013). 
Movimento GLBT
A verdadeira alegria vem da harmonia profunda entre as pessoas. Com esse pensamento o Papa também tem mostrado abertura para acolher e respeitar todas as formas de opção sexual. Segundo Sartorel, a instituição do matrimônio ainda é um sacramento entre homem e mulher e o Papa não poderá avançar muito nessa diretriz da Igreja. Porém, sua atitude é de que cada pessoa tem o direito de encontrar a razão para viver, mesmo com opções sexuais diferentes. 
Em atitude inédita, o Papa recebeu o transexual espanhol Diego Neria Lejárraga, numa audiência privada no Vaticano, em janeiro deste ano. No mês seguinte, se reuniu também com um grupo de 50 católicos homossexuais estadunidenses, que fazem parte da New Ways Ministry, entidade que prega a diversidade e direitos homossexuais no catolicismo. 
Em atitude inovadora, o Papa dialoga com movimentos sociais, grupo LGBT e reafirma a figura do pobre como centro da Igreja. Foto: Cantareira.

Mulheres 
Para Sartorel, o Papa tem sensibilidade e estimula a emancipação e valorização das mulheres. "Ainda há uma posição machista conservadora na Igreja, mas seria interessante o Papa discutir o diaconato para as mulheres”. 
Francisco tem discursado para que as mulheres sejam mais reconhecidas nos seus direitos, na vida social e profissional. Ele busca valorizar a imagem da mulher, da mãe e os problemas enfrentados pela mulher dentro da família, como a parte ainda mais fraca nessa relação. 
O Papa tem dito que é necessário estudar critérios e modalidades novas para que as mulheres não se sintam hóspedes, mas participantes de pleno direito dos diversos âmbitos da vida social e eclesial. No entanto, o Sumo Pontífice afirma que o sacerdócio é reservado aos homens, questão essa que não se põe em discussão. 
Juventude
Sartorel comenta que a "Juventude ama o Papa”. Os jovens são um ponto importante na pauta da Igreja. Através das jornadas mundiais e nacionais, Francisco envia mensagens de ânimo, coragem, esperança. "Em todo tempo histórico se falou, pejorativamente, dos jovens, mas também, em todo tempo, foi essa mesma juventude que dava testemunho de compromisso, fidelidade e alegria. Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e por sobre todo são os que podem construir uma nova Civilização do amor", defende o Papa. 
Para Sartorel, a Juventude não é só o futuro, é presença hoje. O futuro está nas mãos dos jovens, que devem trabalhar para levar adiante projetos para o bem-viver. O Papa tem aberto cada vez mais espaços para os jovens dentro da Igreja. 
Entre os conselhos aos jovens, o Papa ressalta a importância de ter um coração jovem sempre, ir contra a corrente, apostar em grandes ideais, estar com Deus em silêncio, ser protagonista das mudanças, ser revolucionário, aproximar-se da cruz de Cristo. 
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