Sergio Ferrari
Adital
Todos os caminhos altermundialistas conduzem PARA uma Túnis "atacada” e na rua
A contagem regressiva para o início do Fórum Social Mundial (FSM) 2015 está chegando ao fim. Nesta terça-feira, 24 de março, milhares de representantes da sociedade civil planetária se encontrarão na capital Túnis [Tunísia] para protagonizar uma nova edição desde processo em favor de "Outro mundo possível”, que adquire, agora, um significado político ainda mais importante.
Os acontecimentos sangrentos — ataque terrorista ao Museu Bardo, com vários mortos e feridos — na capital tunisiana, no último dia 18 de março, reforçou a convicção dos organizadores. Em um comunicado de imprensa, poucas horas depois dos eventos, destacam que: "o FSM e o conjunto de suas atividades estão confirmados”.
"Mais do que nunca, a ampla participação no FSM 2015 será a resposta apropriada de todas as forças de paz e democracia que militam no seio do movimento altermundialista por um mundo melhor, de justiça, liberdade e coexistência pacífica”.
O êxito deste FSM será a "vitória da luta civil e pacífica contra o terrorismo e o fanatismo religioso, que ameaçam a democracia, a liberdade, a tolerância e o viver juntos”, ressalta Abderrahmane Hedhili, em nome da equipe de coordenação.
15 anos de construção cidadã
Será o décimo "conclave centralizado” desde o seu nascimento, em 2001, em Porto Alegre [Brasil], cidade do orçamento participativo. Desde então, foram realizadas cinco edições no Brasil: 2001, 2002, 2003, 2005, em Porto Alegre, e, em 2009, em Belém do Pará; uma na Índia, em 2004; e três na África (Quênia, em 2007, Senegal, em 2011, e Tunísia, em 2013).
Somente três quinquênios, nos quais centenas de fóruns descentralizados, regionais, continentais, nacionais e temáticos, multiplicaram esse esforço de busca por alternativas ao modelo dominante. E que vem aportando seus frutos na consolidação de redes e movimentos sociais globais. Assim como na prática dos movimentos e atores sociais na disputa do poder político: governos progressistas latino-americanos e novas forças políticas europeias como o Podemos, nascido do "Movimento dos Indignados” [Espanha].
Túnis 2015
Uma manifestação popular, como é costume na história do Fórum, dará o sinal de largada desta nova edição, na tarde do dia 24, percorrendo desde o Teatro Municipal até a Praça dos Direitos Humanos, em pleno centro da capital tunisiana. Quatro dias mais tarde, na tarde do dia 28 de março, outra manifestação cidadã marcará o encerramento. No marco de um clima mais geral de manifestações populares contra a violência, desatado a partir dos acontecimentos do Museu Bardo.
Ainda que os organizadores prefiram não quantificarem, antecipadamente, os possíveis participantes, mais de 4.300 organizações do mundo inteiro haviam comunicado sua participação a seis dias da inauguração. O programa integral do FSM, disponibilizado ao público uma semana antes do arranque, registra mais de 1 mil atividades autogestionadas, que se completarão, em paralelo, com eventos muito variados, tanto em Túnis quanto em outros países.
Somente há dois anos atrás, quase na mesma data, dia por dia, Túnis havia reunido já milhares de representantes da sociedade civil internacional. A qualidade do conteúdo e da organização levou os movimentos sociais tunisianos e do Magreb a proporem, novamente, a realização de um novo encontro cidadão no mesmo recinto central (da capital, a Universidad El Manar). E motivou o Conselho Internacional do Fórum - a instância facilitadora do mesmo — a aceitar esta proposta de repetir o cenário.
A complexa dinâmica em que vive o mundo árabe — em geral — e as vicissitudes dos processos nascidos quatro anos antes com a "primavera árabe” conferem à capital tunisiana, em pleno Magreb, uma importância significativa para a reflexão sobre o presente e futuro. Os acontecimentos sangrentos de quarta-feira, 18, não são mais que outro exemplo demonstrativo.
2015: inovar na metodologia
Nesta ocasião, a comissão Metodologia do FSM 2015 definiu seis espaços de luta, onde se integrarão as atividades do Fórum. Esta nova proposta significa uma inovação com relação aos tradicionais "eixos temáticos” que marcaram o ritmo dos fóruns anteriores. Esses espaços são: o bairro El planeta; o cruzamento Para além da fronteira; a praça da Justiça social; o bairro da Igualdade, a Dignidade e os Direitos; a praça da Economia e das Alternativas; e o cruzamento da Cidadania. A localização geográfica desses espaços, em distintos pontos da Universidad El Manar, garantirá a proximidade geográfica das atividades com temas afins.
Segundo os organizadores: "esses espaços (denominados Espaços de luta) estão desenhados de maneira a permitir uma transversalidade ainda maior no método de planejamento das questões e facilitar os encontros entre os diferentes participantes, indivíduos e grupos de trabalho nos diversos temas”. São, perante a tudo, lugares de reuniões, de debates e de passagens. Concretizam-se, por um lado, no programa do FSM e, por outro, no Campus Farhar Hached El Manar, afirmam.
FSM 2015, organizado em bairros, praças e cruzamentos
No bairro El planeta, estarão as atividades relacionadas ao meio ambiente, a exploração dos recursos naturais e a mudança climática. No cruzamentoPara além da fronteira, serão tratados temas relacionados ao território, ao colonialismo, aos movimentos de libertação, às guerras e aos conflitos armados, além da liberdade de circulação, das migrações e do tema dos refugiados.
O bairro da Igualdade, da Dignidade e dos Direitos acolherá as atividades relacionadas à luta contra as discriminações, a igualdade de gênero e os direitos das mulheres, os direitos das minorias, as lutas de povos indígenas.
A praça da Justiça social reunirá as atividades relacionadas com o reforço da defesa do trabalho, os direitos sociais, a proteção social, a saúde, a educação, as lutas sindicais, o trabalho ilegal e lugar de expressão dos novos movimentos sociais.
A praça da Economia e das Alternativas está aberta às atividades que tratam dos procedimentos financeiros das multinacionais, o protesto contra a dívida, a luta contra a corrupção, mas também às alternativas ao sistema econômico dominante, como os setores reunidos...
O cruzamento da Cidadania reunirá atividades relacionadas com a mobilização cidadã na transição democrática, nos modos alternativos da organização política, no futuro do processo dos fóruns...
*Com colaboração da E-CHANGER/COMUNDO, organização de cooperação solidária ativa no FSM desde sua primeira edição em 2001.
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