quarta-feira, 4 de março de 2015

O perigo de ver a bebida como passaporte para aceitação social

Andrea Ramal*


Se consumido em doses moderadas, o álcool já representa um risco para pessoas de qualquer idade, o perigo se torna ainda maior quando ele passa a ser visto como passaporte para a aceitação social no ambiente universitário, com regras que valorizam quem bebe mais e excluem os que não são “da turma”. 


A morte de um estudante por ingestão de 20 doses de vodca, numa “brincadeira” que mede a capacidade de beber mais em menos tempo, é um exemplo disso.

A necessidade de ser aceito, tão própria dessa idade, acaba se convertendo numa oportunidade comercial para muitos. Os folhetos e mails de propaganda das festas para universitários fazem verdadeira apologia ao álcool, a começar pelos nomes dos eventos: “Odontobeer”, “Medbeer”, “Psicólatras”, “Direito Beer”, “Habeas Copus” e assim por diante.

É anúncio destacado a oferta de “open bar”, com design que faz referência a garrafas e copos, muitas vezes com logomarcas de fabricantes. Rodadas de tequila, camarotes com uísque e “beer games” são anunciados como valor agregado. Nas imagens, jovens saudáveis e bonitos se divertem. Sugere-se que a inclusão no grupo passa pela adesão às atitudes divulgadas nessas propagandas. 

Quase nunca há referências a alimentos a serem servidos, o que remete a outra ameaça crescente entre os jovens, a da drunkorexia, transtorno que mistura a anorexia e o alcoolismo. Os jovens somam a obsessão por estar magro com a aceitação social pelo consumo do álcool, trocando as calorias não consumidas com alimentos pelas da bebida.

Casos como o do universitário Humberto Fonseca, que morreu numa festa de universitários em Bauru, não são isolados. É comum que vários jovens terminem a noite em coma alcoólico. Mais de uma vez, quando comentei esses fatos com alguns estudantes, ouvi a resposta: “É só tomar glicose na veia e pronto”.

A solução para atitudes como essas, que colocam em risco a saúde e a própria vida, não passam, de forma alguma, pela proibição às festas, mas pela educação. Em primeiro lugar, papel da família, formando desde cedo para uma postura de autoconfiança, que não dependa do ato de transgredir, ou de atitudes autodestrutivas, para sentir-se aceito pelos outros. 

Além disso, cabe às universidades colocar o tema na pauta. Mesmo que as festas aconteçam fora do espaço acadêmico, não há como ser indiferente e ignorar o que atinge seus alunos.

Por fim, falta uma ação mais efetiva do governo, com campanhas mais contundentes voltadas à prevenção. O novo presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, já anunciou como prioridade um programa forte contra o consumo de álcool. Boa oportunidade para conhecer as estratégias e, por que não, pegar carona nessa iniciativa.
*Colunista g1
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/1.html

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