terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O triunfo do Servo fiel o obediente

Padre Geovane Saraiva*
Na mensagem de Páscoa (20/04/2014) o Papa Francisco se expressou assim: “Jesus, o Amor encarnado, morreu na cruz pelos nossos pecados, mas Deus Pai ressuscitou-o e fê-Lo Senhor da vida e da morte. Em Jesus, o Amor triunfou sobre o ódio, a misericórdia sobre o pecado, o bem sobre o mal, a verdade sobre a mentira, a vida sobre a morte”. Que a nossa reflexão desta Semana Santa de 2015 tenha por base o Evangelho segundo São João, no supremo gesto revelador do Filho de Deus, na doação, na renúncia e na generosidade: “Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido” (cf. Jo 13, 4-5). Depois Jesus explicou o gesto: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (cf. Jo 13,15).

E qual é realmente o significado de “pegar uma toalha e lavar os pés?” Jesus, sendo Deus assumiu a forma de servo, isto é, tornou-se pobre e humilde e colocou-se a serviço da humanidade. O Santo Padre nos responde: “Há tanta gente necessitada que lhes 'lavemos os pés'. É bem possível que bem perto tenha gente assim. Pessoas necessitadas que 'lavemos seus pés' ouvindo-as, aceitando-as como são, ajudando-as para que cresçam e não as discriminando. A situação do mundo, imerso em tantos problemas, é prova de que ainda, dois mil anos depois, não somos capazes de  'lavar os pés' dos nossos irmãos. Comungamos o Corpo e o Sangue do Senhor, mas não o transmitimos o suficiente nem aos mais próximos” (17/04/14).

O Augusto Pontífice, nesses dois anos de pontificado, tem sido exaustivo nos exemplos, indicando que nós cristãos (discípulos do Senhor) somos convidados a assumir também uma postura de humildade, no serviço e  no despojamento, colocando-nos ao lado do povo aflito, frágil e sofredor: os pobres, os doentes, os fracos, os presos. Também os que sobram e são excluídos e mesmo nem visto são, numa sociedade hedonista e consumista, que se diz cristã. A humanidade precisa ter clareza e colocar bem diante dos olhos e no coração a lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Nova Lei: “Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 13,34).

No consumismo somos desafiados pela lei da concorrência. Quando falta o amor e a amizade, nenhuma lei civil, nenhum ordenamento jurídico é suficiente. Mas quando a velha Igreja se reveste de amor, de um solidarismo profundamente fraterno, então se apresenta nova e fecunda, cheia de graça, concretamente abraçada com a missão de irradiar a Boa Nova da Salvação e jamais  perde de vista os empobrecidos: “Eu vos asseguro: o que fizestes a estes meus irmãos, a mim o fizestes” (cf. Mt 25,40).

Nesta semana santa, eu Pe. Geovane Saraiva, ficarei cingido com uma toalha na liturgia da quinta-feira, para lavar os pés de pessoas de nossa Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório. É claro que vem a pergunta de diversas pessoas: ele estará disposto a ser Cirineu, a ajudar alguém a carregar a Cruz; ou a exemplo de Verônica a enxugar o suor, a aliviar os sofrimentos de inúmeras pessoas? Deus nos dê a graça de mais e melhor compreendermos o insondável mistério do qual somos chamados a participar, sem jamais esquecer de nos colocarmos solidários ao pé da Cruz, identificados com Maria e o discípulo amado. Numa prece fervorosa, peçamos o convencimento de que é só no amor encontramos a explicação plausível do que Deus realizou e realiza sempre por cada um de nós, e por toda a humanidade. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (cf. Jo 15, 13).

Quando na Sexta-Feira da Paixão o sacerdote, presidente da celebração, prostra-se diante do altar, em um inexprimível simbolismo de reverência, humildade e penitência, no início da celebração da Paixão do Senhor, ele quer transmitir um forte e expressivo gesto de amor, que não se explica com palavras e muito menos com a razão. É como diz Dom Helder Câmara: “Que eu possa aprender afinal, cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas, o mistério da redenção”. Entende-se a partir de uma excelsa mística, identificando-a na importância do silêncio, concentração, meditação e oração, com grandiosa fé diante do mistério, no qual o Filho de Deus se antecipa na glória. Com a escuta atenta da música litúrgica e apropriada para a celebração da paixão do Senhor somos convidados a refletir: “Eu me entrego, Senhor, em tuas mãos, e espero pela tua salvação”. Assim seja!

*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE - geovanesaraiva@gmail.com

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