Padre Geovane
Saraiva*
Na mensagem de Páscoa (20/04/2014) o Papa Francisco se expressou assim:
“Jesus, o Amor encarnado, morreu na cruz pelos nossos pecados, mas Deus Pai
ressuscitou-o e fê-Lo Senhor da vida e da morte. Em Jesus, o Amor triunfou
sobre o ódio, a misericórdia sobre o pecado, o bem sobre o mal, a verdade sobre
a mentira, a vida sobre a morte”. Que a nossa reflexão desta Semana Santa de
2015 tenha por base o Evangelho segundo São João, no supremo gesto revelador do
Filho de Deus, na doação, na renúncia e na generosidade: “Jesus levantou-se da
mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água
numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha
com que estava cingido” (cf. Jo 13, 4-5). Depois Jesus explicou o gesto:
“Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (cf. Jo 13,15).
E qual é realmente o significado de “pegar uma toalha e lavar os pés?”
Jesus, sendo Deus assumiu a forma de servo, isto é, tornou-se pobre e humilde e
colocou-se a serviço da humanidade. O Santo Padre nos responde: “Há tanta gente
necessitada que lhes 'lavemos os pés'. É bem possível que bem perto tenha gente
assim. Pessoas necessitadas que 'lavemos seus pés' ouvindo-as, aceitando-as
como são, ajudando-as para que cresçam e não as discriminando. A situação do
mundo, imerso em tantos problemas, é prova de que ainda, dois mil anos depois,
não somos capazes de 'lavar os pés' dos
nossos irmãos. Comungamos o Corpo e o Sangue do Senhor, mas não o transmitimos
o suficiente nem aos mais próximos” (17/04/14).
O Augusto Pontífice, nesses dois anos de pontificado, tem sido exaustivo
nos exemplos, indicando que nós cristãos (discípulos do Senhor) somos
convidados a assumir também uma postura de humildade, no serviço e no despojamento, colocando-nos ao lado do
povo aflito, frágil e sofredor: os pobres, os doentes, os fracos, os presos.
Também os que sobram e são excluídos e mesmo nem visto são, numa sociedade
hedonista e consumista, que se diz cristã. A humanidade precisa ter clareza e
colocar bem diante dos olhos e no coração a lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, a
Nova Lei: “Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 13,34).
No consumismo somos desafiados pela lei da concorrência. Quando falta o
amor e a amizade, nenhuma lei civil, nenhum ordenamento jurídico é suficiente.
Mas quando a velha Igreja se reveste de amor, de um solidarismo profundamente
fraterno, então se apresenta nova e fecunda, cheia de graça, concretamente
abraçada com a missão de irradiar a Boa Nova da Salvação e jamais perde de vista os empobrecidos: “Eu vos
asseguro: o que fizestes a estes meus irmãos, a mim o fizestes” (cf. Mt 25,40).
Nesta semana santa, eu Pe. Geovane Saraiva, ficarei cingido com uma
toalha na liturgia da quinta-feira, para lavar os pés de pessoas de nossa
Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório. É claro que vem a pergunta de
diversas pessoas: ele estará disposto a ser Cirineu, a ajudar alguém a carregar
a Cruz; ou a exemplo de Verônica a enxugar o suor, a aliviar os sofrimentos de
inúmeras pessoas? Deus nos dê a graça de mais e melhor compreendermos o
insondável mistério do qual somos chamados a participar, sem jamais esquecer de
nos colocarmos solidários ao pé da Cruz, identificados com Maria e o discípulo
amado. Numa prece fervorosa, peçamos o convencimento de que é só no amor
encontramos a explicação plausível do que Deus realizou e realiza sempre por
cada um de nós, e por toda a humanidade. “Ninguém tem maior amor do que aquele
que dá a sua vida pelos seus amigos” (cf. Jo 15, 13).
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